Portugal
entre os países que mais se opõem a acolher imigrantes
Portugueses
são mais tolerantes com a entrada de refugiados e menos com a dos
imigrantes por motivos económicos. Resultados de estudo académico
será apresentado esta quarta-feira no Instituto de Ciências Sociais
da Universidade de Lisboa.
ANA DIAS CORDEIRO 30
de Novembro de 2016,
Portugal está entre
os três países europeus que mais se opõem a receber imigrantes,
logo a seguir à Hungria e República Checa. Ao mesmo tempo, e no
sentido oposto, os portugueses defendem uma maior flexibilidade aos
critérios de entrada de refugiados. Aqui a pergunta colocada às
pessoas inquiridas em 20 países era: “Em que medida o Governo deve
ser mais generoso a avaliar os pedidos de refugiados?”
Estes são alguns
dos resultados realçados no trabalho que vai ser apresentado nesta
quarta-feira no encontro “Europa, Migrações e Identidades” no
Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL). O
estudo resulta de um inquérito feito pela primeira vez em 2002 e
2003 pela mesma equipa do programa de investigação Atitudes Sociais
dos Portugueses que em 2014 e 2015 voltou a debruçar-se sobre as
atitudes e percepções dos europeus relativamente aos refugiados.
Os resultados
mostram que os portugueses são favoráveis a que o Governo português
avalie com generosidade os pedidos dos refugiados para entrarem no
país e que esteja aberto a receber os refugiados. “Os refugiados
não são uma ameaça”, diz Alice Ramos, socióloga doutorada e
investigadora do programa Atitudes Sociais dos Portugueses do ICS-UL.
Nesta frente, Portugal está acima da média europeia e, como quase
todos os outros, evoluiu no sentido de uma maior abertura.
Refugiados e
imigrantes vistos de forma diferente
O nosso país está,
por outro lado, entre os que mais se destacam, juntamente com a
Polónia, a República Checa, a Hungria e Espanha, ao manifestar uma
maior resistência a abrir as fronteiras a muçulmanos do que a
cidadãos de países pobres não europeus ou de grupos étnicos
diferentes.
Ao longo dos12 anos
cobertos pelo estudo, “a tendência, na maioria dos países, vai no
sentido da aceitação dos refugiados”. Porém, países como a
Holanda, a Bélgica, a Hungria e a República Checa, “que já
manifestavam em 2002 e 2003 maior rejeição do que abertura, mantêm
essa posição (…)”, lê-se na análise dos dados da autoria de
Alice Ramos, Ana Louceiro e João Graça.
Primeira conclusão
com o foco no nosso país: os portugueses distinguem refugiados e
imigrantes de uma forma que não fazem, por exemplo, os cidadãos da
Alemanha, Hungria ou República Checa.
“Os refugiados
estão protegidos pela onda de simpatia, de empatia, pelas imagens
que todos vemos na televisão. Os refugiados não são percepcionados
como uma ameaça, ao contrário dos restantes imigrantes. Há de
facto um sentimento de piedade que os protege destas atitudes de
oposição. E Portugal, provavelmente, é o país que menos associa
os refugiados às restantes categorias de imigrantes”, explica
ainda Alice Ramos.
Segunda conclusão:
as pessoas opõem-se à imigração porque associam os imigrantes a
uma ameaça. “Acham que lhes vão tirar o trabalho, que vão
sobrecarregar o sistema de segurança social, que vão contribuir
para o crime. São percepções que as pessoas criam. E não é só
em Portugal”, diz Alice Ramos. “A partir do momento em que
começam a ver que não há tantas razões para sentir essa ameaça,
começam a mudar essa percepção.”
E isso acontece
apesar de Portugal ser um país de emigração. “Curiosamente isso
não tem impacto. Uma coisa é o que a pessoa, os pais, ou as
gerações anteriores foram fazer noutro país. Outra coisa é quando
se trata de competição por recursos. Recursos económicos; recursos
culturais. São duas realidades diferentes”, acrescenta.
Além disso,
continua a investigadora, “os sentimentos racistas continuam a
existir” e passam muito por justificar esse sentimento de ameaça,
seguindo o seguinte raciocínio: “Se na verdade eles não me tiram
o emprego e não contribuem mais do que outros para o crime, por que
uso esta percepção de ameaça como justificação? Porque na
realidade eu tenho uma crença racista e acho que as pessoas que são
negras ou que são de outro grupo étnico valem menos do que os
brancos. Aprendemos na escola que isto não se diz. Então o que eu
vou dizer é que me oponho a eles porque eles me tiram o trabalho.”
Esta e outras
análises constam deste estudo que também conclui que “a percepção
que temos de ameaça serve como uma justificação para o racismo e
para o preconceito racial”. Tal imagem, no contexto da sociedade,
permite ao indivíduo “exprimir os seus sentimentos sem declarar
que é racista ou preconceituoso relativamente a pessoas de outros
grupos étnicos, de outras religiões”.
"Para lá da
preocupação com os migrantes, tenho grande preocupação com a alma
da Europa"
Isto é geral,
garante Alice Ramos, embora reconheça que esta análise “faz muito
sentido” na realidade portuguesa, já que Portugal está entre os
países que manifestam maior oposição à imigração. E vem trazer
uma nova luz à imagem de Portugal como “um país muito tolerante”.
Os portugueses "não são mais tolerantes do que os outros",
salienta a investigadora.
"De facto as
pessoas não têm problema nenhum, quer em Portugal, quer noutro
país, em dizer: ‘Há pessoas que, por serem de um determinado
grupo ou raça, são mais ou menos inteligentes do que outros'.” O
inquérito questiona esta raciocínio e confirma, nalgumas respostas,
esta convicção.
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