O
que nos diz a economia
Helena Garrido
17/11/2016, 0:01
A economia recuperou
e Bruxelas deu luz verde ao OE. Saímos da zona de perigo? Ainda não.
Temos de crescer mais e mais depressa. Antes que os juros subam na
Zona Euro. Trump está a valorizar o dólar.
A economia
portuguesa teve um bom desempenho no terceiro trimestre deste ano,
analisada de todos os pontos de vista. Quando usamos a perspectiva
trimestral ou anual, o resultado é positivo. Quando olhamos para o
que está a explicar esta recuperação, o perfil do crescimento é
saudável, é exactamente aquele que precisamos: um contributo
positivo das exportações e negativo da procura interna que,
esperamos, não seja por causa do investimento.
Os dados que temos
neste momento correspondem à designada estimativa rápida do INE. O
perfil ideal de crescimento passa pelas exportações e pelo
investimento em empresas e para já não é certo que esta última
componente tenha arrancado – excepção feita às obras que vemos
por todo o lado, determinadas pela aproximação das eleições
autárquicas. Este, o investimento, é um dos alertas amarelos que
ainda se mantem, podendo nós apenas esperar que a dinâmica das
exportações conduza a mais investimento.
O segundo alerta,
que recomenda prudência, está no facto de estarmos perante apenas
uma observação. Já vimos uma tentativa de arranque da economia no
início do ano passado que acabou por não ter continuidade. As
hipóteses possíveis para esse falso arranque vão desde a incerteza
que se gerou com a aliança à esquerda até aos problemas em Angola,
um importante parceiro para Portugal.
O problema político
parece estar a ser ultrapassado. O primeiro-ministro António Costa
ganhou, nestes últimos meses, margem de manobra para aplicar a
política económica que Portugal precisa que, não sendo a ideal
está mais próxima do recomendável para evitar a fuga de
investidores e de investimento. Quanto à conjuntura externa, Angola
ainda não está como esteve, mas a dinâmica de crescimento em
Espanha pode compensar esse pior desempenho nas relações com a
economia angolana.
Mas como percebemos
já pelo passado, o desempenho da economia portuguesa depende
totalmente da evolução da conjuntura externa, nomeadamente do
crescimento dos nossos principais parceiros comerciais ligando-se
isto quer com a capacidade exportadora da economia como com o turismo
– o sector que mais tem contribuído para o crescimento.
O endividamento da
economia portuguesa – não apenas do Estado mas especialmente das
famílias e das empresas – torna muito arriscada qualquer
estratégia que aposte no crescimento por via do consumo, seja
público, seja privado. O Governo, por razões políticas ou não,
transmitiu inicialmente a mensagem de que pretendia ir por esse
caminho – do crescimento do consumo –, via que parece, pelo
menos, ter moderado. E bem.
É aqui que entramos
no Orçamento do Estado para 2017. Todos os indicadores que servem
para avaliar as contas públicas demonstram que estamos perante o
Orçamento mais contraccionista desde 2014 e construído com
pressupostos prudentes. Claro que podemos discutir as escolhas que o
Governo fez são as melhores, no sentido de serem mais eficazes na
promoção do crescimento da economia.
As escolhas não são
as melhores já que complicam o sistema fiscal, lançam mais impostos
em vez de usarem os que existem e criam o risco de paralisarem a
administração pública – todos ganham mais mas podem ficar sem
dinheiro para trabalharem.
Além disso, o
Orçamento apoia-se excessivamente em receitas que não se repetem –
como a garantia do BPP – ou que podem ser bastante mais moderadas
em 2018. Mas, usando o autor muitas vezes mal interpretado, “no
longo prazo estamos todos mortos”. E 2018, nos tempos improváveis
em que vivemos, é mesmo muito longo prazo.
O Governo espera que
esta dinâmica de crescimento e a luz verde de Bruxelas para o
Orçamento do Estado para 2017 criem as condições para aumentar a
confiança dos investidores quer financeiros – aqueles de que tanto
ainda precisamos para irmos pagando suavemente e sem muita dor a
dívida que acumulámos – assim como empresariais – aqueles que
criam os empregos e o rendimento que nos permitirão aliviar o peso
da dívida e prosperar.
O crescimento da
economia é determinante – mais importante do que a luz ver de
Bruxelas – para resolvermos os nossos problemas. Mas é preciso
moderar as euforias. Nós precisamos de crescer mais de 2% em termos
reais, mais de 4% quando se soma a inflação, para abandonarmos
definitivamente a parte mais tumultuosa das águas em que navegamos.
Como dirão os
apoiantes do Governo, esse é um bom debate, já não estamos a falar
de crescer mas de crescer mais. Mas é isso que pode não ser fácil,
quer porque há pouco dinheiro quer porque pode faltar margem de
manobra política para resolver alguns problemas que geram
impopularidade ou reacção dos lobbies. É preciso dinheiro para
tornar o Estado mais eficiente, é preciso dinheiro e coragem para
tornar a justiça mais rápida e eficaz, é preciso coragem para
reduzir o preço da energia.
Mas nós precisamos
de sair o mais depressa possível da zona de risco em que ainda
estamos – repare-se como as taxas de juro da dívida pública
portuguesa não descem, ilustrando que ainda não se conquistou a
confiança. E precisamos de sair da zona de risco rapidamente porque
a política monetária pode mudar a qualquer momento.
Ninguém ainda
percebeu muito bem como vai ser a política económica do novo
presidente dos Estados Unidos. Mas para já parece certo que Donald
Trump avançará com reduções de impostos e investimentos em
infra-estruturas no montante de 500 mil milhões de dólares. Estamos
perante uma política fortemente expansionista que acentua as
perspectivas de subida das taxas de juro nos Estados Unidos. O
dinheiro nervoso já está a reagir, “caminhando” para os Estados
Unidos como se pode perceber pela desvalorização do euro.
Para a Zona Euro
significa que o BCE está a ter uma ajuda dos Estados Unidos na sua
tarefa de colocar a inflação perto dos 2%. Se a isto somarmos o
apoio que Frankfurt agora teve da Comissão Europeia que, no
comunicado divulgado a 16 de Novembro, recomenda aos governos que têm
contas pública com margem para isso que apliquem uma política
orçamental mais expansionista, começamos a ver o início do fim da
compra de dívida por parte do BCE.
Quando a política
monetária do BCE mudar temos de estar preparados para nos
financiarmos sem o apoio das compras de dívida de Frankfurt. E isso
pode estar mais perto de acontecer do que pensávamos antes da
vitória de Donald Trump.
Sim, neste momento,
parece que a economia portuguesa está a navegar para águas mais
calmas. Não, ainda não estamos fora da zona de perigo. É preciso
que esta recuperação da economia no terceiro trimestre se confirme
e se reforce rapidamente antes de chegar o aumento das taxas de juro.
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