O
Web Summit não é em Lisboa, mas na Lisboalândia
Já não vale a pena
preocuparmo-nos com a possibilidade de Lisboa se tornar um parque
temático, porque Lisboa já é um parque temático, uma grande feira
popular para os turistas.
Lucy Pepper
6/11/2016,
Talvez
seja a altura de desistirmos, pormos as mãos no ar e reconhecermos
que tudo está fora do nosso controlo.
Tudo.
Já não vale a pena
preocuparmo-nos com a possibilidade de Donald Trump ganhar as
eleições americanas, porque já não há nada que possamos fazer
agora, se é que alguma vez houve alguma hipótese de a Europa levar
os Trumpetistas a serem razoáveis, especialmente depois do Brexit.
Só podemos aguardar o resultado.
Já não vale a pena
preocuparmo-nos com a possibilidade de Lisboa se tornar um parque
temático, porque Lisboa já é um parque temático, uma grande feira
popular para os turistas. Temos agora uma loja circense da sardinha
no Rossio – muitas latas, mas com uma só variedade de sardinha –,
um frango gigantesco de 10 metros da Joana Vasconcelos — pelo menos
não tem crochet… ainda – e muitas linhas de eléctrico novas ou
recuperadas, que ameaçam ser as vias de circulação de uma nova
frota de eléctricos ao estilo do fim do século XIX, para os
turistas terem uma experiência “eléctritástica”: “Venha a
bordo para viajar no mundo das “Natas e sardinhas!!” (sim, estou
a caricaturar, mas esperem e ainda vamos ver isto…). Em suma, já
vivemos em Lisboalândia e não há nada que possamos fazer para o
evitar. Mas tudo acabará em bem, a cidade há-de desenrascar-se
organicamente… por isso, não vale a pena preocuparmo-nos.
E também não vale
a pena preocuparmo-nos com o Web Summit. Sim, o equivalente de 10
navios de cruzeiro cheios de pessoas estarão na cidade durante uma
semana, mas teremos 10 cruzeiros de dinheiro a inundar a cidade. Sim,
o Parque das Nações (durante o dia) e o centro de Lisboa (à noite,
o Web Summit vai transportar aqueles 10 cruzeiros de pessoas para o
centro) estarão num caos durante a semana, mas talvez algumas coisas
boas possam sair desse caos, mesmo se a única coisa boa for que nos
vai distrair do Orçamento do Estado ou do facto de o investimento
estrangeiro estar a evaporar-se desde a última eleição.
O que me traz ao
artigo hilariante do Guardian que entreteve a internet durante a
semana passada. Tornou-se mesmo viral por duas razões. Uma das
razões foi o costume do “ah, que bom! Há estrangeiros a dizer
coisas boas sobre Lisboa, que o mundo vem para Lisboa, e que Lisboa
pode ser o próximo Silicon Valley… que bom!!”. A outra razão
foi “O que é isto? O que é que isto quer dizer?”, como também
é costume.
O artigo avançou a
ideia de que Lisboa pode ter potencial para atrair muitos geeks e
muitas empresas de “tech”, à procura de “rendas baixas”, de
sol e de praias de surf.
Talvez o jornalista
– que é o correspondente do Guardian em Madrid – tenha dado um
salto de fim de semana a Lisboa, e não saiba que o investimento que
vinha de fora vem cada vez menos, e que por isso é pouco provável
que muitas empresas se desloquem para Lisboa, tal como é pouco
provável que alguém em Lisboa possa sair do escritório e estar a
fazer surf 15 minutos depois.
É o costume. Entre
os milhares e milhares de participantes do Web Summit há muitos
(muitos) jornalistas. Seria bom que alguns deles ficassem por cá
como “correspondentes em Lisboa”, a ver se o mundo deixava de ser
informado sobre Portugal apenas por jornalistas de passagem, sem
experiência e sem saber do país.
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