quinta-feira, 3 de novembro de 2016

O senhor Wengorovius enganou-nos


O senhor Wengorovius enganou-nos
JOÃO MIGUEL TAVARES 03/11/2016 – 05:00

Se as coisas não se passaram assim, ou se Wengorovius não o pode testemunhar pessoalmente, então o ministro da Educação não tem de ser, nem pode ser, responsabilizado por coisa alguma.

Detesto histórias mal contadas e acusações que ficam por esclarecer. No sábado perguntei se o ministro da Educação ainda não se tinha demitido na sequência das gravíssimas acusações que o ex-secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Wengorovius Meneses, havia lançado sobre ele, a propósito da demissão do chefe de gabinete Nuno Félix. Passados cinco dias já me parece claro que não existe qualquer razão para Tiago Brandão Rodrigues apresentar a sua demissão, e faço questão de o escrever aqui. Pelo que se vê, Wengorovius estava a fazer bluff. Denunciou ocultamentos, fez voz grossa, subiu a parada, falou num mail que comprovava as suas afirmações, e quando foi desmentido pelo ministro e convidado a mostrar as cartas, afinal não tinha nada na mão – apenas o velho azedume e uma demissão mal resolvida na manga.

Claro está que o senhor Wengorovius, tentando não perder totalmente a face, mantém que o ministro foi mau, feio, intrometido, desrespeitador e mandão. Só que Wengorovius recuou na única coisa que realmente importava neste caso: saber se o ministro sabia que Nuno Félix não era licenciado, se sabendo o ocultou, e se a razão da demissão em Abril estava relacionada com a denúncia dessa situação e com o impedimento, por parte do ministro, da exoneração do chefe de gabinete. Wengorovius sugeriu que sim na primeira notícia que o Observador escreveu sobre o caso e acabou a dizer que não na segunda. Passo a citar: “Ao voltar a ser confrontado pelo Observador, João Wengorovius Meneses manteve toda a versão que contou durante a semana, excepto a parte que envolvia o ministro.” Transpondo para a culinária, proponho desde já a criação do Bife à Wengorovius: tem o molho, tem a batata frita, tem o arroz branco, tem o ovo estrelado – só lhe falta o bife.

Na verdade, neste momento interessam-me muito pouco os sentimentos do senhor Wengorovius, e não tenho qualquer curiosidade em saber o quão maltratado ele foi pelo ministro da Educação durante os poucos meses em que foi seu secretário de Estado. Por mim, Tiago Brandão Rodrigues até pode tê-lo chibatado diariamente em cima da mesa do Conselho de Ministros – não era isso que estava em causa. Wengorovius não pode classificar a primeira versão da história como um “mal-entendido” quando o “mal-entendido” é toda a história. É indiferente se o ministro sabia ou não que Nuno Félix era licenciado. A única coisa que o poderia pôr em causa, e comprometer gravemente, era saber que Félix tinha mentido a propósito da sua licenciatura, ter consciência de que havia informações erradas publicadas em Diário da República, e nada ter feito para corrigir essa situação. Se as coisas não se passaram assim, ou se Wengorovius não o pode testemunhar pessoalmente, então o ministro da Educação não tem de ser, nem pode ser, responsabilizado por coisa alguma.


Há muito boa gente que começou, como eu, por atacar o ministro, dada a plausibilidade e frontalidade das acusações originais de Wengorovius, e que agora não quer recuar, argumentando que Tiago Brandão Rodrigues deveria responder pelas histórias mal contadas de um chefe de gabinete. Só que esse é o mesmo argumento palerma dos que defendem que Pedro Passos Coelho deveria ter-se demitido por causa da licenciatura de Miguel Relvas. Ora, a questão nunca foi essa, e não vale mudar de questão só para provar o nosso ponto. No braço de ferro entre os dois, o resultado é este: Wengorovius Meneses, 0 – Brandão Rodrigues, 2.   

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