EDITORIAL
Medo.
De Trump
DAVID DINIS
05/11/2016 – 07:54
Medimos
a palavra, mas escrevemos – porque, quando está em causa a
tradição da liberdade, também é nosso dever dizê-lo claramente.
Sem medo.
Donald, The Donald,
como ele próprio gosta de se chamar. Não é o nome que dá medo.
Não é sequer a figura (olhe bem para a foto na primeira página da
edição impressa deste sábado. É verdade, dá um bocadinho). O que
realmente dá medo nele é o discurso.
Aqui no PÚBLICO
discutimos esta primeira página com redobrado cuidado, porque
sabemos que a nossa primeira missão é informar com isenção, com
imparcialidade. E a palavra medo, aqui, tem obrigatoriamente de ser
medida. Medimos, mas escrevemos – porque, quando está em causa a
tradição da liberdade, também é nosso dever dizê-lo claramente.
Os media devem ser isentos, mas não podem hesitar quando consideram
que está em causa o nosso modo de vida, a civilização como nós a
construímos – com os defeitos e virtudes que lhe conhecemos. Seja
aqui, em Portugal, seja em França (e daqui a pouco temos
presidenciais temíveis por lá), ou seja no país que mais
influencia o que se passa no mundo, os Estados Unidos da América.
Não tenhamos,
portanto, medo da palavra: "Medo." Porque um jornal não
pode ser insensível quando alguém propõe um muro que nos separe.
Porque não deve ser insensível quando ouve um discurso de
desrespeito pela diferença. Porque não pode fechar os olhos quando
se responde aos problemas com uma sociedade fechada, com passos atrás
na globalização, com avanços no populismo mais perigoso, com
ataques à própria liberdade de imprensa, a maior vitória do mundo
livre, como Jefferson tão bem soube escrever.
Faltam apenas três
dias. Mas só nos últimos meses os jornais americanos acordaram para
o medo de Donald Trump. A tempo? Talvez.
Eis um exemplo que
ilustra esse medo: no superconservador estado do Texas, entre os 40
jornais mais importantes, só um declarou apoio a Trump. Num notável
editorial, o Dallas Morning News explicou porque declarava o apoio a
Hillary, a primeira democrata que apoia desde a II Guerra Mundial.
Lê-se assim: “Trump
joga com o medo, explorando os instintos básicos da xenofobia,
racismo e misoginia – para tirar o pior de nós e não o melhor. As
suas mudanças de posição radicais em assuntos fundamentais revelam
uma estrondosa ausência de preparação. Os seus insultos
improvisados e tweets à meia-noite exibem uma perigosa ausência de
julgamento e de controlo de impulso.”
A história já nos
ensinou o que acontece quando as sociedades se fecham. E a história
ditou que Hillary Clinton ficasse com o desafio gigantesco de ganhar
a Trump, parar este processo e devolver uma liderança ao mundo. Que
a sorte a proteja. E que ela consiga derrubar todos esses muros que
se levantam.
Sem comentários:
Enviar um comentário