OPINIÃO
Foi
para isto que se fez o 26 de Novembro?
JOÃO MIGUEL TAVARES
05/05/2016 - PÚBLICO
Passados
cinco meses, onde raio está o “tempo novo”? Vestiu-se de tempo
velho.
Com a inconsciência
própria de quem nada aprende com o que lhe acontece, o país recebe
as novas previsões de crescimento como se fossem um facto normal.
Aparentemente já ninguém se lembra que o crescimento era o alfa e o
ómega do regoverno de António Costa, e que sem ele toda a
estratégia económica do PS desaba como um castelo de cartas. Se o
país não crescer, ou se crescer o mesmo do que em 2015 mas com mais
despesa pública (crescimento em 2015: 1,5%; actuais previsões de
Bruxelas para 2016: 1,5%), onde está essa espectacular mudança de
estratégia económica e política que António Costa trazia consigo?
Onde está o “tempo novo” que justificou a tomada de posse de 26
de Novembro, depois de o PS ter sido vergonhosamente derrotado nas
eleições?
Esqueçam o défice,
o investimento, as importações, o desemprego. Esqueçam a tese de
que crescer à custa do consumo interno iria desequilibrar a balança
comercial. Esqueçam tudo isso e concentrem-se nas contas de Primeiro
Ciclo que António Costa não se cansava de nos vender: 1) o Estado
gasta mais, 2) o Estado coloca mais dinheiro no bolso dos
portugueses, 3) os portugueses compram mais, 4) o país produz mais,
5) o PIB aumenta, 6) o desemprego cai, 7) o Estado cobra mais
impostos, 8) todos ficamos mais felizes, porque aquilo que se recebe
compensa (os célebres multiplicadores) aquilo que se investe. Este
projecto de keynesianismo para totós era tudo o que António Costa
tinha para nos prometer – mas prometia com grande empenho, e muitas
vezes. Recordo apenas uma de infindáveis frases, dita a este jornal
a 5 de Fevereiro de 2015: “Essa ideia peregrina de que é possível
relançar a economia sem haver um aumento significativo do
investimento público é uma ideia absolutamente fracassada.”
António Costa não
queria fracassos e os números do programa eleitoral do PS
acompanhavam o seu optimismo. Peritos socialistas garantiam que com
as medidas propostas o PIB iria crescer 2,4% em 2016 e 3,1% em 2017.
Ora, um ano depois, em que ponto é que nós estamos? O próprio
governo prevê um crescimento de 1,8% tanto em 2016 como em 2017 (um
pequeno desvio de 72% nas previsões, sem que nada de especial tenha
acontecido no mundo), enquanto Bruxelas acaba de agravar as suas
estimativas de 1,6% para 1,5% este ano, e de 1,8% para 1,7% em 2017.
Lembram-se da mensagem de Natal de António Costa? Eu lembro-me:
vinha aí “um tempo novo” que iria trazer “prosperidade e
crescimento”. Passados cinco meses, onde raio está esse “tempo
novo”? Vestiu-se de tempo velho: austeridade para quase todos,
alívio para alguns e estagnação económica. Que o país pareça
tão conformado com mais esta fraude política, económica e
intelectual, eis o que nunca deixará de me espantar.
P.S.: – Estando eu
aqui a pregar o rigor nas contas, convém que corrija os meus
próprios erros. Na semana passada afirmei que “existem em Portugal
mais de 3,6 milhões de pensionistas”. Como Francisco Louçã
salientou no blogue Tudo Menos Economia, e bem, esse é o número de
pensões que são pagas pelo Estado – pensionistas são só 2,5
milhões. É certo que haver 1,1 milhões de pensões pagas em
acumulação a 2,5 milhões de pensionistas ainda é um facto mais
escandaloso do que aquele que eu referi, mas nem por isso deixa de
ser um erro da minha parte, pelo qual peço desculpa aos leitores.
Aproveito também para agradecer a Francisco Louçã a dedicada
atenção com que lê os meus textos.
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