Estalou
o verniz entre BE e PCP?
Crescem
as acusações de "sectarismo" do BE ao PCP e o mal-estar é
cada vez mais evidente à esquerda, depois de uma votação que hoje
expôs as divergências latentes entre bloquistas e comunistas. Está
por ver que efeitos terá esta crise. Mas Costa já veio tentar pôr
água na fervura.
MARGARIDA DAVIM
18/05/2016 22:44 / i
online
O que está em
causa?
O glifosato é um
herbicída de uso muito comum que entrou recentemente no vocabulário
político depois de alguns estudos apontarem efeitos graves para a
saúde, sendo considerado potencialmente cancerígeno e causador de
doenças como a infertilidade. O BE pegou nesta bandeira e já
apresentou duas propostas para eliminar este químico. A primeira
pedia a sua proibição total e teve a abstenção do PS e do PCP. A
segunda, votada hoje, foi chumbada com os votos contra de PCP, PSD e
CDS e os votos a favor de PS, BE, PEV e PAN.
A questão ganhou
contornos políticos precisamente por causa desta votação de hoje
que apanhou de surpresa os deputados bloquistas. "No mínimo,
esperamos uma votação igual", dizia-se no BE antes de contados
os votos, quando a discussão ainda decorria no plenário, numa
alusão à proposta "mais radical" que tinha merecido a
abstenção de socialistas e comunistas, preocupados com o impacto da
erradicação do glifosato no mundo rural.
Desta vez, a
proposta tinha sido afinada e o BE pretendia apenas proibiria uso da
substância em meio urbano, já que ela é muitas vezes usadas por
autarquias e freguesias para tirar ervas daninhas dos passeios.
O chumbo do PCP foi,
por isso, recebido com "supresa", rapidamente expressa pelo
deputado autor do projeto do BE, Jorge Costa, em declarações aos
jornalistas.
Escassas horas mais
tarde, Nelson Peralta - biólogo e dirigente bloquista - usa o site
esquerda.net para ir mais longe nas críticas aos comunistas e
acusa-os mesmo de "sectarismo", expondo o que considera
serem as contrações atitude do PCP relativamente ao glifosato.
Os comunistas
justificaram o voto contra com a necessidade de mais estudos, mas a
explicação não colhe no BE.
Dirigente do BE
acusa PCP de sectarismo
"O que mudou? É
que agora o seu voto fazia a diferença. Há um mês, na proposta
mais ampla, o voto do PCP não era decisivo. Hoje, teria bastado o
PCP repetir a abstenção para viabilizar o projeto-lei, uma vez que
o PS anunciou o seu voto favorável. Quando o seu voto poderia mudar
a vida das pessoas, o PCP optou por deixar à União Europeia a
decisão que podia ser tomada em Portugal. A UE decide esta
quinta-feira sobre a renovação da licença de glifosato que
terminará a 30 de junho e a expectativa é baixa sobre a proteção
da saúde pública", escreve o bloquista que lembra até as
posições que o PCP tem tido nas regiões autónomas para expor a
mudança de atitude que tem para Nelson Peralta uma leitura política.
Ora, nas Assembleias
Legislativas Regionais dos Açores e da Madeira, o PCP apresentou
propostas para a proibição total do glifosato. Em várias
Assembleias Municipais, incluindo Lisboa e Almada, o PCP tem votado
pela proibição do glifosato em espaço público. A Câmara
Municipal de Évora, presidida pelo PCP, anunciou que já deixou de
usar glifosato. Ou seja, o PCP não chumbou o projeto-lei porque a
ideia era má. A proposta era má porque vinha do Bloco. É caso para
dizer que o sectarismo faz mal à saúde", ataca o dirigente do
BE.
O artigo é a
expressão mais clara de uma tensão cada vez mais óbvia entre
bloquistas e comunistas.
No espaço de poucos
dias é a segunda vez que um bloquista acusa o PCP de sectarismo. A
mesma acusação tinha sido feita pelo histórico bloquista Fernando
Rosas em entrevista à Antena 1.
“É um partido com
tiques de sectarismo e de exclusivismo na vida política que, espero,
que com o tempo, passem", dizia Rosas há uma semana à
jornalista Maria Flor Pedroso.
Costa desvaloriza
divergências
Resta saber que
consequências terá para o funcionamento da geringonça este estalar
de verniz entre BE e PCP.
Certo é que hoje,
na apresentação da sua moção ao Congresso do PS, António Costa
voltou a lembrar que as divergências entre os partidos que apoiam o
Governo são naturais e que o cimento que os une está no respeito
dos acordos firmados.
Ou seja, por António
Costa, o glifosato não passará de ruído que não encravará a
geringonça.
Costa Governo PCP BE
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