Vamos
falar das árvores? Das podas à biodiversidade, é dia de as
descobrir
Iniciativa
é da Plataforma em Defesa das Árvores, que quer que elas sejam
vistas como solução e não como problema. Apresentado há um ano
como urgente, Regulamento Municipal do Arvoredo está por aprovar
Inês Boaventura /
20-5-2016 / PÚBLICO
Vamos falar das
árvores de Lisboa? A proposta é da Plataforma em Defesa das
Árvores, que vai promover amanhã um seminário em torno do tema e
um “passeio guiado”. Depois de um ano marcado por “notícias
muito más” sobre intervenções no arvoredo da cidade, a porta-voz
da plataforma sublinha que aquilo que se pretende é “abordar a
árvore de uma maneira diferente”, não como problema mas sim como
“solução para uma série de problemas”.
As notícias em
torno das árvores têm sido “muito más”, centradas em
“incidentes” como o abate e a poda indevida ou fora de tempo
O seminário
acontece entre as 10h e as 13h de amanhã no Cinema São Jorge, na
Avenida da Liberdade. Entre os oradores confirmados, estão o
vereador da Estrutura Verde da Câmara de Lisboa, José Sá
Fernandes, e o ex-ministro António Bagão Félix, apresentado como
“botânico amador” e autor do livro Trinta Árvores em Discurso
Directo.
Rosa Casimiro, a
porta-voz da plataforma, nota que foi possível mobilizar para esta
iniciativa vários técnicos da área. “Chamámos uma série de
especialistas”, diz, fazendo o contraponto com aqueles que integram
o movimento nascido há cerca de um ano: “Nós não somos técnicos.
O que nos une a todos é o amor pelas árvores”, constata.
Ao PÚBLICO, Rosa
Casimiro observa que durante o tempo de vida do movimento, que além
de vários cidadãos em nome individual integra organizações como o
Fórum Cidadania Lisboa, a Associação Lisboa Verde, a Plataforma
por Monsanto e a Quercus, as notícias em torno das árvores têm
sido “muito más”, centradas em “incidentes” como o abate de
alguns exemplares e a poda indevida ou fora de tempo de outros.
“E isso não é a
realidade”, sublinha, notando que “a árvore, mais do que um
problema, é a solução para uma série de problemas”. Por isso,
explica, no seminário procurar-se-á “abordar a árvore de uma
maneira diferente”.
Nesse sentido,
haverá intervenções sobre “a subtil sabedoria das árvores”,
“a biodiversidade na cidade de Lisboa”, “árvores, jardins e
parques históricos”, “árvores monumentais, uma memória viva”
e “a arboricultura em espaço urbano, boas e más práticas”. O
arranque do seminário estará a cargo de Miguel Sepúlveda Velloso,
da plataforma, que falará sobre “um ano a defender árvores”.
Depois do seminário
haverá um “passeio guiado”, conduzido pelo ecólogo Rui Pedro
Lérias, “pelo meio das árvores” de Lisboa. O ponto de encontro
é às 15h no Alto do Parque Eduardo VII, junto à bandeira.
Rui Pedro Lérias
adianta que o passeio, que termina na Praça da Alegria e tem uma
duração estimada de duas horas, terá duas vertentes: uma
“meramente lúdica”, que pretende que os participantes possam ver
as árvores existentes ao longo do percurso e descobrir exemplares
que não conheciam, e outra “um bocadinho didáctica”. A esse
nível, explica, a ideia é apontar “bons e maus exemplos”
existentes ao longo do percurso.
Observando que “as
pessoas têm muita vontade de conhecer melhor as árvores de Lisboa”,
Rui Pedro Lérias antecipa que haverá “uma boa afluência” a
este passeio, que não requer inscrição prévia. “Tenho receio de
ter de levar um megafone”, conclui a brincar o ecólogo, que mais
do que “um guia” quer ser “um facilitador da visita”.
Apesar de aquilo que
agora se pretende ser abordar o tema das árvores de uma forma
positiva, Rosa Casimiro reconhece que a realidade está longe de ser
perfeita. Para a plataforma, um dos temas que causam preocupação é
o facto de com a reforma administrativa da cidade a gestão e
manutenção dos espaços verdes terem transitado da câmara para as
juntas de freguesia.
“Houve um
desmembramento da gestão das árvores. Cada junta trata à sua
maneira e isso é muito preocupante”, afirma Rosa Casimiro. Para a
designer, e
apaixonada por árvores, isso deixa Lisboa mais longe do conceito de
“floresta urbana”, do qual “se fala internacionalmente” e que
pressupõe que se olhe para as árvores na cidade “como um elemento
uno”.
Outra preocupação
da plataforma tem que ver com o Regulamento Municipal do Arvoredo de
Lisboa, mais precisamente com o facto de ele não ter ainda entrado
em vigor. “É-nos difícil entender. Já passou mais de um ano”,
diz Rosa Casimiro, que não encontra explicação para o atraso.
Reconhecendo que há
“muitos pontos” no regulamento com os quais a plataforma não
concorda, a
designer frisa que
ainda assim ele “é melhor que nada”. “Não haver nada é
assustador”, afirma.
O regulamento foi
aprovado pela câmara em Dezembro de 2015, por unanimidade, já
depois de ter sido submetido a consulta pública. Depois disso foi
remetido à Assembleia Municipal de Lisboa, onde ainda não foi
discutido em plenário. Numa informação constante no site deste
órgão autárquico diz-se que o documento deu entrada no dia 23 de
Dezembro, acrescentando-se que neste momento se “aguarda pedido de
parecer” feito ao Departamento Jurídico do município.
O assessor de
imprensa do vereador Sá Fernandes confirmou ao PÚBLICO que neste
momento ainda se está a aguardar o envio desse parecer. Quando é
que isso acontecerá e, por consequência, quando é que o
regulamento poderá finalmente entrar em vigor, ninguém sabe dizer.
Em Maio de 2015,
numa reunião pública em que o regulamento foi discutido, o
presidente da câmara garantiu ter “urgência” na aprovação do
documento. “A cidade reclama uma resposta a estas questões”,
referiu na ocasião Fernando Medina.
Sem comentários:
Enviar um comentário