Assembleia
recomenda à Câmara de Lisboa que compre o edifício do Ateneu
INÊS BOAVENTURA
24/05/2016 - PÚBLICO
O
vereador Duarte Cordeiro garantiu que “não há nenhum processo de
licenciamento” para o edifício, na Rua das Portas de Santo Antão.
Os deputados municipais pediram a sua classificação.
Graças à
iniciativa de 1097 peticionários, o futuro incerto do Ateneu
Comercial de Lisboa esteve em debate esta terça-feira na Assembleia
Municipal de Lisboa. Por sugestão do Bloco de Esquerda, este órgão
decidiu recomendar à câmara que classifique a sede da instituição,
na Rua das Portas de Santo Antão, e que a adquira, designadamente
através do exercício do direito de preferência caso o imóvel seja
posto à venda.
A recomendação
apresentada pelo BE propunha ainda que, além de classificar o
edifício designado por Palácio dos Condes de Povolide como
património de interesse municipal, a câmara promovesse também a
classificação do património mobiliário do Ateneu Comercial de
Lisboa.
As duas propostas de
classificação tiveram o apoio unânime da assembleia municipal,
enquanto a ideia de a autarquia adquirir, “designadamente através
do exercício do direito de preferência”, os números 106 a 110 da
Rua das Portas de Santo Antão, foi aprovada por maioria. Além do BE
votaram a favor o PCP e o PEV, tendo todos os outros eleitos optado
pela abstenção.
Igualmente aprovada,
por unanimidade, foi uma recomendação apresentada pela Comissão de
Cultura da assembleia municipal. Nela, entre outros aspectos,
pedia-se ao município que divulgue os projectos urbanísticos que
venham a ser apresentados para o Ateneu e para a área envolvente e
que “clarifique as medidas que tenciona tomar visando a salvaguarda
do património e espólio” da instituição.
Em nome dos
peticionários, Teresa Ferreira e Liliana Escalhão (que são
arrendatárias de um espaço no interior do Palácio dos Condes de
Povolide) consideraram as recomendações da comissão “demasiado
vagas e sem efeitos práticos”. Em alternativa, estas oradoras
apresentaram aquilo que consideram ser “soluções viáveis e
concretas”. Entre elas a de que a câmara adquira o edifício e
promova um concurso público “onde grupos de pessoas interessadas
apresentem os seus projectos para a reabilitação física e
cultural” do espaço.
Em nome d’Os
Verdes, Sobreda Antunes afirmou que “o Ateneu não tem merecido a
atenção devida por parte da autarquia nas últimas décadas”,
critica que foi também feita por Modesto Navarro, do PCP, para quem
“defender” esta instituição é “defender” também “a
identidade e o futuro” da cidade.
Já o bloquista
Ricardo Robles alertou para “a vulnerabilidade do património
móvel” do Ateneu e para “os apetites vorazes imobiliários que
recaem sobre o edifício”. “A câmara devia desenvolver todos os
esforços para o preservar”, sustentou. Também Vasco Santos, do
MPT, defendeu que “o edifício deve ser preservado” e manter uma
“função cultural e desportiva”.
Tanto Rosa Maria
Carvalho da Silva como Simonetta Luz Afonso, respectivamente do PSD e
do PS, sublinharam a necessidade de se ter em conta que está em
curso um processo de insolvência do Ateneu Comercial de Lisboa. “Não
podemos confundir o poder político com o poder judicial”, disse a
primeira, enquanto a ex-presidente da assembleia municipal notou que
“a 7.ª Comissão [de Cultura] não se pode sobrepor aos
tribunais”.
“A 7.ª Comissão
não está a dormir nem está distraída. As recomendações que
fizemos são sensatas”, acrescentou Simonetta Luz Afonso, a quem
não caíram bem algumas das palavras das representantes dos
peticionários. Sobre o Ateneu, a autarca disse, referindo-se às más
condições de conservação do espaço, que este “parece uma
barraca, quando é um edifício fantástico da cidade que é preciso
preservar na sua traça original”.
Pela câmara, o
vereador Duarte Cordeiro garantiu que esta “assumirá as suas
responsabilidades”, mas lembrou que o facto de haver um processo
judicial em curso traz limitações. O autarca sublinhou que “não
há nenhum processo de licenciamento para o Ateneu” e que o seu
proprietário já foi intimado para fazer obras de conservação do
imóvel.
Além desta, a
assembleia municipal apreciou, na reunião desta terça-feira, outras
três petições. Numa delas pedia-se que passasse a haver um
autocarro para assegurar o transporte de crianças entre a Escola 2/3
Básica Luís de Camões, no Areeiro, e o Pavilhão do Casal Vistoso.
Como o PÚBLICO já noticiou, os alunos desta escola têm que andar
cerca de um quilómetro para ter aulas de educação física.
Também discutida
foi uma petição relacionada com a falta de acessos pedonais à
estação de comboios de Benfica. Dado que foi já adoptada uma
solução provisória para resolver o problema (através da entrega
aos cidadãos com mobilidade condicionada de um cartão que lhes
permite aceder à estação por um portão até agora fechado),
aquilo que os deputados municipais pediram foi que se concretize
agora a solução definitiva, que passa pela construção de um
elevador.
Em debate esteve
ainda uma petição relacionada com o projecto da câmara para Sete
Rios. Em nome dos peticionários, Ana Arriaga considerou que a
requalificação da Praça Marechal Humberto Delgado é “uma
urgência”, mas manifestou dúvidas sobre a forma como a câmara
geriu este processo, nomeadamente no que diz respeito ao projecto e à
falta de participação pública em torno dele.
Para a peticionária,
a proposta do município vai provocar um “óbvio” aumento “do
congestionamento do tráfego” e também um agravamento da “poluição
ambiental e sonora” na zona de Sete Rios. “O impacto positivo da
praça urbana que nós tanto acarinhamos sai fortemente prejudicado”,
concluiu Ana Arriaga, cujas preocupações foram depois secundadas
por deputados municipais de vários partidos.
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