segunda-feira, 30 de maio de 2016

Imobiliário: Um mercado mutante!


Texto crítico de Fernanda Pedro, Directora do Diário Imobiliário e dedicado pelo OVOODOCORVO a Manuel Salgado , Fernando Medina e entidades Governamentais …
OVOODOCORVO
--------------------------------------------------------------
Imobiliário: Um mercado mutante!
15 de Abril de 2016
Fernanda Pedro, Directora Diário Imobiliário


O Diário Imobiliário celebra hoje 3 anos. Nasceu num dos piores momentos vividos no país. Portugal atravessava uma grave crise económica, financeira e social e naturalmente, todos os sectores de actividade sofreram as consequências. O imobiliário foi um dos mais atingidos: a construção caiu a pique, empresas faliram, desapareceram os promotores portugueses e estrangeiros, a banca fechou a ‘torneira’ do crédito à habitação e a população portuguesa da classe média/baixa entrou em colapso. Grande parte das famílias deixaram de conseguir pagar as prestações mensais ao banco e de repente as instituições ficaram com um património alargado de casas, armazéns, lojas, terrenos, etc. A compra e venda de habitação estagnou e o arrendamento moribundo também não tinha forças para aproveitar o momento.

A Troika impôs a austeridade, o desemprego disparou e o poder de compra diminuiu. Quando tudo estava ‘negro’ e sem esperança, surgiu o Diário Imobiliário para mostrar que mesmo em tempos difíceis o mercado ia mexendo. Mas tudo mudou e temos a consciência que nada vai voltar ao que era. O que é perfeitamente normal, faz parte da evolução de um povo, de um país e mesmo de uma Europa que está a ‘braços’ com uma nova definição de poderes nesta ainda ‘criança’ União Europeia e que é vista sempre como uma ameaça por outras potências mundiais, que têm como finalidade destabilizar e enfraquecê-la.

Voltemos ao imobiliário e o que se viveu nestes três anos. Resumidamente não pretendo aborrecer os leitores com análises conhecidas por todos, mas lembrando o mais relevante neste período: a tentativa de reavivar o arrendamento, contudo, a oferta nunca acompanhou a procura e mesmo para quem pretendia tirar alguns rendimentos neste mercado a opção não foi conseguida.

Seguiu-se a corrida dos Vistos Gold. Foi a luz ao fundo do túnel para o mercado que viu no investimento estrangeiro a salvação do sector, que se encontrava nesse momento deprimido e a ‘oxigénio’. O importante era vender a chineses, franceses, a investidores do médio oriente, ou a qualquer outro. Já que os portugueses são demasiado pobres e não compram, venham os estrangeiros. Claro, que depois do desmantelamento de redes de corrupção à volta dos Vistos Gold, a corrida abrandou.

Entretanto, no final de 2014 novos ventos começaram a soprar no imobiliário e em 2015 foi a concretização: os investidores estrangeiros entraram em força no país. Os grandes fundos internacionais de pensões, sobretudo norte-americanos, com riquezas incalculáveis decidiram investir em imobiliário e como a Europa é sempre atractiva, vieram literalmente, às compras. Londres, Paris e outras cidades europeias foram o alvo preferencial e depois deixaram alguns ‘trocos’ para Portugal. Grandes negócios de compra e venda de activos, sobretudo comerciais, escritórios, turísticos e também edifícios no centro de Lisboa, para reabilitar e transformá-los em habitação de luxo, bem como o ‘el dourado’ do momento, o turismo e os hotéis. Todavia, estes grandes negócios são bons apenas para as grandes consultoras, só elas beneficiam disso e competem para conquistar estes clientes mostrando triunfantes, os grandes números alcançados no final do ano.

Para o mercado imobiliário nacional, é algo que não lhe traz algum benefício, talvez uma pequena demonstração que o nosso mercado pode ser atractivo para o investimento estrangeiro.

No entanto, para a mediação nacional a realidade é outra, este pode ser realmente o ano em que se verifique algum dinamismo. Os bancos estão novamente a apostar no crédito à habitação e é sem dúvida, a única forma de dinamizar o mercado de compra e venda, excepto o mercado de luxo.

Mas temos a consciência que nada será como antes. Esta suposta melhoria da economia não é visível para a maioria dos portugueses. Vivemos uma época em que o mercado de trabalho passa por uma crise sem precedentes. Mesmo quando divulgam números revelando que o emprego subiu, as condições de trabalho continuam no entanto, em estado de degradação. Os vínculos são precários, os benefícios são escassos e os impostos aumentam. Para a maioria dos trabalhadores portugueses, o emprego hoje, está a um passo muito ténue da escravidão. O ordenado mínimo é o rendimento de quase todos os portugueses e como todos sabemos é praticamente o mesmo valor de uma renda de casa, seja no arrendamento ou para uma prestação ao banco.

Outra situação grave que não abona em favor do sector é a saída do país em massa dos nossos jovens. No final de Outubro de 2015, o Banco Mundial revelou que se estimava que haveria cerca de 2,3 milhões de portugueses a viver no estrangeiro há pelo menos um ano (corresponde a cerca de 35 Estádios da Luz completos) e Portugal era já, o 12º país do mundo com mais emigrantes.

Estes são, na verdade, os factores que vão determinar o futuro do mercado imobiliário português.

Devemos andar felizes pelo facto de os estrangeiros andarem a comprar casas por toda a cidade de Lisboa e Porto e pelo país?

Sinceramente, não é isso que me preocupa neste momento, o que me apoquenta são os nossos jovens, os nossos filhos e netos, quais vão ser as suas hipóteses de constituírem uma família e terem a sua própria casa? Que projectos de vida podem fazer para o futuro? Que possibilidades têm de morarem no centro da cidade sem terem de ser novamente empurrados para as periferias?

Desejámos tanto que os centros urbanos voltassem a ganhar vida mas afinal não será para os nossos jovens. Andávamos todos enganados, será apenas para uma elite que nem fala português.

Em três anos o mercado imobiliário mudou, não sei se para melhor ou pior mas não há dúvida que para os nossos leitores vamos continuar a dar o nosso melhor. Cabe-nos dar as notícias e trazer toda a informação do sector, de forma a ajudar todos a aumentar os seus negócios e consequentemente, a terem uma vida mais feliz.

Fernanda Pedro


Directora Diário Imobiliário  

Sem comentários: