Texto
crítico de Fernanda Pedro, Directora do Diário Imobiliário e
dedicado pelo OVOODOCORVO a Manuel Salgado , Fernando Medina e entidades Governamentais …
OVOODOCORVO
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Imobiliário:
Um mercado mutante!
15 de Abril de 2016
Fernanda Pedro,
Directora Diário Imobiliário
O Diário
Imobiliário celebra hoje 3 anos. Nasceu num dos piores momentos
vividos no país. Portugal atravessava uma grave crise económica,
financeira e social e naturalmente, todos os sectores de actividade
sofreram as consequências. O imobiliário foi um dos mais atingidos:
a construção caiu a pique, empresas faliram, desapareceram os
promotores portugueses e estrangeiros, a banca fechou a ‘torneira’
do crédito à habitação e a população portuguesa da classe
média/baixa entrou em colapso. Grande parte das famílias deixaram
de conseguir pagar as prestações mensais ao banco e de repente as
instituições ficaram com um património alargado de casas,
armazéns, lojas, terrenos, etc. A compra e venda de habitação
estagnou e o arrendamento moribundo também não tinha forças para
aproveitar o momento.
A Troika impôs a
austeridade, o desemprego disparou e o poder de compra diminuiu.
Quando tudo estava ‘negro’ e sem esperança, surgiu o Diário
Imobiliário para mostrar que mesmo em tempos difíceis o mercado ia
mexendo. Mas tudo mudou e temos a consciência que nada vai voltar ao
que era. O que é perfeitamente normal, faz parte da evolução de um
povo, de um país e mesmo de uma Europa que está a ‘braços’ com
uma nova definição de poderes nesta ainda ‘criança’ União
Europeia e que é vista sempre como uma ameaça por outras potências
mundiais, que têm como finalidade destabilizar e enfraquecê-la.
Voltemos ao
imobiliário e o que se viveu nestes três anos. Resumidamente não
pretendo aborrecer os leitores com análises conhecidas por todos,
mas lembrando o mais relevante neste período: a tentativa de
reavivar o arrendamento, contudo, a oferta nunca acompanhou a procura
e mesmo para quem pretendia tirar alguns rendimentos neste mercado a
opção não foi conseguida.
Seguiu-se a corrida
dos Vistos Gold. Foi a luz ao fundo do túnel para o mercado que viu
no investimento estrangeiro a salvação do sector, que se encontrava
nesse momento deprimido e a ‘oxigénio’. O importante era vender
a chineses, franceses, a investidores do médio oriente, ou a
qualquer outro. Já que os portugueses são demasiado pobres e não
compram, venham os estrangeiros. Claro, que depois do desmantelamento
de redes de corrupção à volta dos Vistos Gold, a corrida abrandou.
Entretanto, no final
de 2014 novos ventos começaram a soprar no imobiliário e em 2015
foi a concretização: os investidores estrangeiros entraram em força
no país. Os grandes fundos internacionais de pensões, sobretudo
norte-americanos, com riquezas incalculáveis decidiram investir em
imobiliário e como a Europa é sempre atractiva, vieram
literalmente, às compras. Londres, Paris e outras cidades europeias
foram o alvo preferencial e depois deixaram alguns ‘trocos’ para
Portugal. Grandes negócios de compra e venda de activos, sobretudo
comerciais, escritórios, turísticos e também edifícios no centro
de Lisboa, para reabilitar e transformá-los em habitação de luxo,
bem como o ‘el dourado’ do momento, o turismo e os hotéis.
Todavia, estes grandes negócios são bons apenas para as grandes
consultoras, só elas beneficiam disso e competem para conquistar
estes clientes mostrando triunfantes, os grandes números alcançados
no final do ano.
Para o mercado
imobiliário nacional, é algo que não lhe traz algum benefício,
talvez uma pequena demonstração que o nosso mercado pode ser
atractivo para o investimento estrangeiro.
No entanto, para a
mediação nacional a realidade é outra, este pode ser realmente o
ano em que se verifique algum dinamismo. Os bancos estão novamente a
apostar no crédito à habitação e é sem dúvida, a única forma
de dinamizar o mercado de compra e venda, excepto o mercado de luxo.
Mas temos a
consciência que nada será como antes. Esta suposta melhoria da
economia não é visível para a maioria dos portugueses. Vivemos uma
época em que o mercado de trabalho passa por uma crise sem
precedentes. Mesmo quando divulgam números revelando que o emprego
subiu, as condições de trabalho continuam no entanto, em estado de
degradação. Os vínculos são precários, os benefícios são
escassos e os impostos aumentam. Para a maioria dos trabalhadores
portugueses, o emprego hoje, está a um passo muito ténue da
escravidão. O ordenado mínimo é o rendimento de quase todos os
portugueses e como todos sabemos é praticamente o mesmo valor de uma
renda de casa, seja no arrendamento ou para uma prestação ao banco.
Outra situação
grave que não abona em favor do sector é a saída do país em massa
dos nossos jovens. No final de Outubro de 2015, o Banco Mundial
revelou que se estimava que haveria cerca de 2,3 milhões de
portugueses a viver no estrangeiro há pelo menos um ano (corresponde
a cerca de 35 Estádios da Luz completos) e Portugal era já, o 12º
país do mundo com mais emigrantes.
Estes são, na
verdade, os factores que vão determinar o futuro do mercado
imobiliário português.
Devemos andar
felizes pelo facto de os estrangeiros andarem a comprar casas por
toda a cidade de Lisboa e Porto e pelo país?
Sinceramente, não é
isso que me preocupa neste momento, o que me apoquenta são os nossos
jovens, os nossos filhos e netos, quais vão ser as suas hipóteses
de constituírem uma família e terem a sua própria casa? Que
projectos de vida podem fazer para o futuro? Que possibilidades têm
de morarem no centro da cidade sem terem de ser novamente empurrados
para as periferias?
Desejámos tanto que
os centros urbanos voltassem a ganhar vida mas afinal não será para
os nossos jovens. Andávamos todos enganados, será apenas para uma
elite que nem fala português.
Em três anos o
mercado imobiliário mudou, não sei se para melhor ou pior mas não
há dúvida que para os nossos leitores vamos continuar a dar o nosso
melhor. Cabe-nos dar as notícias e trazer toda a informação do
sector, de forma a ajudar todos a aumentar os seus negócios e
consequentemente, a terem uma vida mais feliz.
Fernanda Pedro
Directora Diário
Imobiliário
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