Governo
e EDP tentam desbloquear parque eólico no mar
ANA BRITO 15/05/2016
- PÚBLICO
Grupo
de trabalho procura solução para projecto windfloat, que já
recebeu um milhão de euros do Fundo Português de Carbono.
Depois das críticas
do regulador da energia aos custos para os consumidores com a ligação
à rede do parque eólico que a EDP vai construir ao largo de Viana
do Castelo (através do consórcio Windplus), a empresa tem estado a
discutir alternativas com a Secretaria de Estado da Energia que
permitam desbloquear o investimento, confirmou ao PÚBLICO o
presidente da EDP Renováveis, João Manso Neto.
A construção do
parque eólico de 25 megawatts (MW) com três aerogeradores (de 8,3
MW), assentes em plataformas flutuantes, será já a segunda fase do
Windfloat Atlantic, um projecto iniciado em 2011, que até 2014
testou a tecnologia num protótipo de 2 MW ao largo da Póvoa de
Varzim. Inicialmente liderado pela EDP e pela Repsol, o consórcio
conta desde este ano com a Engie, a Mitsubishi e a Chiyoda como
accionistas.
A ligação deste
parque eólico offshore à rede por um cabo submarino que permita
escoar a energia produzida foi um dos projectos que a REN (seguindo
um despacho do anterior Governo) incluiu no último plano de
investimentos na rede de transporte eléctrico, o PDIRTE. Contudo,
foi também dos que mereceu mais reservas, quer da Entidade
Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), quer de entidades
consultadas, como a Autoridade da Concorrência, a Deco e a CIP. Em
boa medida pelo facto de ser um projecto pré-comercial (cuja
viabilidade financeira e económica vai ser testada), com uma tarifa
de produção subsidiada (100 euros por MW/h), apoios de Bruxelas e
do Estado português. E que, ainda assim, implica investimentos de
ligação superiores a 100 milhões de euros que recaem sobre as
tarifas de electricidade.
Metade do encargo
(48 milhões) estava prevista para 2017, mas “o que se está a
fazer em conjunto com o operador de rede [a REN] é tentar encontrar
uma forma de tornar a primeira fase mais barata”, explicou Manso
Neto. São “conversas técnicas, sem qualquer tipo de dramatismo”,
assegurou o gestor, frisando que a EDP tem “os parceiros certos”
para que este projecto consiga desenvolver “uma tecnologia de base
nacional com possibilidade de exportação” e criação de emprego.
Embora o PDIRTE
tenha recebido parecer global negativo da ERSE, a decisão final cabe
ao Governo, que poderá fazer uma apreciação projecto a projecto.
Sem querer adiantar detalhes sobre o Windfloat, o secretário de
Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches, disse ao PÚBLICO que “o
Governo está a ser muito rigoroso na apreciação de todos os planos
de investimento”.
“o que se está a
fazer em conjunto com o operador de rede [a REN] é a tentar
encontrar uma forma de tornar a primeira fase mais barata”
João Manso Neto,
presidente da EDP Renováveis
O parque offshore
tem um custo estimado de 115 milhões de euros. Os promotores
candidataram-se a um financiamento do BEI e contam já com um
subsídio europeu de 30 milhões (ao abrigo do programa NER300) e
outro de 19 milhões do Fundo Português de Carbono. Deste, o
Windfloat recebeu, no ano passado, um milhão de euros de incentivos
ao investimento, revelou ao PÚBLICO a Agência Portuguesa do
Ambiente (APA), que gere o fundo. Segundo a APA, os “ajustes na
calendarização” do projecto prevêem que o parque entre “em
operação a 31 de Dezembro de 2018, sendo expectável que o apoio se
venha a prolongar até final de 2023”. Manso Neto disse esperar que
a decisão final de investimento chegue em 2017 e que o parque entre
em operação em 2019.
A primeira fase do
investimento planeado pela REN passa pela construção de um cabo
submarino em cuja extremidade (tipo hub) se irão ligar os cabos
submarinos de cada central, estes sim, financiados pelo Windplus. A
ERSE, além de questionar na consulta pública se a ligação à rede
não deveria ser assegurada pelo próprio produtor, criticou o facto
de o cabo proposto pela REN ter uma capacidade de recepção de
potência eléctrica instalada de 200 MW, quando a capacidade do
parque não vai além de 25 MW.
É “necessário
que seja justificado” porque é que um projecto de recepção de
produção dessa dimensão não se faz através de ligação à rede
de distribuição (operada pela EDP Distribuição), em vez da rede
de transporte (da REN), disse o regulador, recomendando às duas
empresas que estudem alternativas e apresentem para aprovação
“aquela que se demonstrar como economicamente mais eficiente”.
Em declarações ao
PÚBLICO, fonte oficial da REN disse que foi criado “um grupo de
trabalho” que envolve a Secretaria de Estado da Energia, a
Direcção-Geral de Energias e Geologia, a ERSE, a REN e a EDP
Distribuição para “investigar alternativas adicionais de
ligação”, mas lembrou que essa é uma “instrução” diferente
daquela que recebeu do anterior Governo. O mandato era “projectar e
construir uma infra-estrutura de ligação do Windfloat à rede
nacional de transporte” de electricidade e a REN apresentou “a
solução mais eficiente para o efeito”, que permite “o
faseamento dos custos em função dos montantes de potência que
vierem a ser ligados” no futuro, sublinhou a empresa.
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