É
o Presidente de Angola que faz da sua filha uma milionária, acusa a
Forbes
PÚBLICO e LUSA
14/08/2013 - 20:27 (actualizado às 21:26)
Revista
norte-americana aponta corrupção do regime angolano como a origem
da fortuna de Isabel dos Santos. A empresária já veio desmentir.
Em Janeiro, a
revista Forbes considerou Isabel dos Santos, a filha mais velha do
Presidente angolano José Eduardo dos Santos, como a mulher mais rica
de África. Agora, publicou uma investigação em que clarifica a
origem da sua fortuna: vem de ficar com uma parte de empresas que
querem estabelecer-se em Angola ou da providencial assinatura do pai
numa lei ou decreto.
O artigo é assinado
por Kerry A. Dolan, uma das coordenadoras da lista anual dos
milionários, e pelo jornalista e activista angolano Rafael Marques,
que dizem ter falado com muita gente no terreno e consultado muitos
documentos. No entanto, Isabel dos Santos e o empresário português
Américo Amorim – que se tornou um importante parceiro da filha do
Presidente angolano –, entre outros visados directamente, não
falaram com os jornalistas.
A empresária veio
desmentir as afirmações da Forbes. Em comunicado, o seu gabinete
diz que o artigo é obra “um conhecido ativista político que,
patrocinado por interesses escondidos, passeia pelo mundo a atacar
Angola e os angolanos”, referindo-se a Rafael Marques. “Isabel
dos Santos é uma empresária independente e uma investidora privada,
representando unicamente os seus próprios interesses”, sublinha o
comunicado.
A revista
norte-americana diz claramente que a história de Isabel dos Santos,
a milionária de 3000 milhões de dólares no país onde 70% dos
habitantes vivem com menos de 2 dólares por dia,“é uma rara
janela para a mesma trágica narrativa cleptocrática em que ficam
presos muitos outros países ricos em recursos naturais”.
José Eduardo dos
Santos, de 71 anos, é Presidente de Angola desde 1979, e é o chefe
de Estado que governa há mais anos sem ser monarca, sublinha a
Forbes. Incluir a sua filha em todos os grandes negócios feitos em
Angola é uma “forma de extrair dinheiro do seu país, enquanto se
mantém à distância, de maneira formal”, escrevem os jornalistas.
“Se for derrubado, pode reclamar os seus bens, através da sua
filha. Se morrer enquanto está no poder, ela mantém o saque na
família.”
Isabel dos Santos
tem 24,5% da Endiama, a empresa concessionária da exploração
mineira no Norte do país – criada por decreto presidencial, que
exigia a formação de um consórcio com parceiros privados. Os
parceiros privados da filha do Presidente, que incluíam negociantes
israelitas de diamantes, criaram a Ascorp, registada em Gibraltar. Na
sombra, diz a Forbes, citando documentos judiciais britânicos, tinha
o negociante de armas russo Arkadi Gaidamak, um antigo conselheiro do
Presidente angolano durante a guerra civil de 1992 a 2002.
O escrutínio
internacional dedicado aos ‘diamantes de sangue’, explica a
revista, aconteceu no mesmo período em que Isabel dos Santos
transferiu a sua parte do negócio, que a Forbes classifica como “um
poço de dinheiro”, para a mãe, uma cidadã britânica. Tudo
continua em casa, sublinha a revista.
Além dos diamantes,
também a posse de 25% da Unitel, a primeira operadora de
telecomunicações privada em Angola, partiu de um decreto
presidencial directamente para a filha mais velha. “Um porta-voz de
Isabel dos Santos disse que ela contribuiu com capital pela sua parte
da Unitel, mas não especificou a quantia; um ano depois, a Portugal
Telecom pagou 12,6 milhões de dólares por outra fatia de 25%”,
escreve a revista.
A quota-parte de 25%
da Unitel detida por Isabel dos Santos é avaliada por analistas que
seguem a actividade da PT, e que foram ouvidos pela Forbes, em mil
milhões de euros.
A parceria com
Américo Amorim, que abarca as áreas financeira, através do banco
BIC, e petrolífera, através da Amorim Energia e dos seus negócios
na Galp e com a Sonangol, tem sido um sucesso. A revista lembra o
investimento de 500 milhões na portuguesa ZON e explica também como
Isabel dos Santos acabou por ficar à frente da cimenteira angolana
Nova Cimangola, também através de negócios com Américo Amorim.
Contas feitas, o
objectivo do regime é apresentar Isabel dos Santos como uma heroína
angolana. Depois de a Forbes a ter declarado uma bilionária, em
Janeiro, o Jornal de Angola, “porta-voz do regime, declarava
‘estamos maravilhados por a empresária Isabel dos Santos se ter
tornado uma referência do mundo das finanças. Isto é bom para
Angola e encher os angolanos de orgulho.’”. Mas não é caso para
isso, diz a revista: “Os angolanos deviam ficar envergonhados. Não
orgulhosos.”
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