terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Vai nascer um corredor verde entre a Praça de Espanha e a Avenida Duque D’Avila até ao final de 2020 / Em 2020, a Praça de Espanha perde carros e ganha árvores





Vai nascer um corredor verde entre a Praça de Espanha e a Avenida Duque D’Avila até ao final de 2020


Sofia Cristino
Texto
11 Fevereiro, 2019

A Praça de Espanha vai transformar-se numa ampla área verde, que terá ligação directa com os jardins da Gulbenkian. Estes serão ainda ampliados até à Avenida Duque de Ávila, libertando-se um espaço até agora vedado ao público. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Fernando Medina, diz que “haverá poucos projectos na cidade que reunam estas características”. E garante ainda que este é “o projecto mais verde” do Uma Praça em Cada Bairro, programa municipal que tem sido muito criticado, por não contemplar zonas ajardinadas com dimensão significativa. A nova Praça de Espanha terá mais árvores, uma bacia de retenção de água, uma ciclovia e um novo corredor para a circulação de autocarros. O município acredita também que a circulação rodoviária fluirá melhor. Um dos autores do projecto diz que em Lisboa falta fazer um trabalho de “coesão da cidade de continuidade do espaço público”. O novo desenho da Praça de Espanha, diz, é o início dessa transformação.

No próximo ano, os jardins da Fundação Calouste Gulbenkian vão ser ampliados até à Avenida Duque de Ávila, passando a ocupar quase a totalidade do antigo Parque de Santa Gertrudes. Fora deste prolongamento da zona verde, ficará apenas a casa da Fundação Eugénio de Almeida e o seu logradouro. Haverá ainda uma ponte a ligar os jardins da fundação ao centro da Praça de Espanha, integrando mais as  diversas áreas verdes da cidade de Lisboa. O anúncio foi feito por Isabel Mota, presidente do conselho de administração da Gulbenkian, ao final da manhã desta segunda-feira (11 de Fevereiro), na cerimónia de apresentação pública do projecto de requalificação da Praça de Espanha.

 O concurso de ideias para a extensão do parque Gulbenkian será lançado em breve, esperando-se que esteja concluído “um pouco depois” da nova Praça de Espanha, que deverá estar terminada em 2020. “É do nosso interesse que a Praça de Espanha ganhe a centralidade que a nossa cidade merece. A maior parte deste quarteirão estará, em breve, limpo, aberto e acessível ao público”, promete Isabel Mota. A fundação anunciou ainda que irá contribuir com a “oferta de uma intervenção artística” no novo parque urbano. “Estamos a desenvolver uma colecção conjunta com a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e a equipa projectista, no sentido de se encontrar a solução ideal”, avança.

As nove propostas para a Praça de Espanha, dadas a conhecer em Dezembro de 2017, foram debatidas e sujeitas a consulta pública. Findo esse processo, a requalificação de uma das zonas mais movimentadas da cidade ficou a cargo do ateliê NPK – Arquitectos Paisagistas Associados, vencedor do concurso internacional promovido pela Câmara de Lisboa. A zona vai transformar-se num espaço verde com cinco hectares – uma dimensão semelhante ao do Jardim da Estrela -, terá uma nova ciclovia, um corredor para a circulação de autocarros e trará à superfície “um caminho de água, até agora, oculto”, o riacho do Rego. Parte da praça será pavimentada e outra terá “um espaço aberto muito grande”, permitindo uma utilização quotidiana, mas também esporádica, recebendo eventos sazonais mais alargados. Haverá um café, equipamentos juvenis e infantis, esplanadas e uma bacia de retenção de águas com efeito de drenagem, para evitar as cheias que afectam aquela área e as adjacentes.

 “O parque será um elemento de coesão do espaço público, irá servir a cidade toda, o Bairro do Rego, o Bairro Azul, o Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, que, a partir de agora, ficará ligado a esta estrutura ecológica. É um parque central, que tem de estar preparado para receber vários públicos e sensibilidades, e é mais um passo na ramificação que é necessária entre Monsanto e o interior da cidade”, diz José Veludo. O arquitecto paisagista do ateliê NPK reconhece ainda que há muito a fazer para a cidade se tornar “mais verde”.

“Lisboa é uma cidade em consolidação. Dentro dos seus limites, a estrutura das ruas e dos bairros está amplamente definida, faltando continuar o trabalho de coesão e de estabelecer mais continuidade no espaço público. A Praça de Espanha e os quarteirões a norte aguardam essa transformação, no sentido de estabelecer uma melhor continuidade pedonal e de tornar mais presente o sistema natural. Precisamos de uma cidade bastante mais ramificada”, considera.

Com a renovação da Praça de Espanha, pretende-se devolver mais zonas verdes a Lisboa e criar “uma ligação verde pedonal de rara qualidade na cidade”, promete o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Fernando Medina (PS). O novo desenho do espaço público daquela zona da capital será “o projecto mais verde” do programa Uma Praça em Cada Bairro realizado por este executivo, garante ainda Medina. “Este é o projecto mais marcante do ponto de vista da afirmação do verde e da qualidade de vida. Teremos outros, naturalmente, importantes e de grande dimensão, como o Parque Ribeirinho Oriental, que acabará por ser maior do que este e que, em breve, abrirá a primeira parte”, diz o autarca. O novo parque terá “um número significativo de árvores” e a “recuperação da água como elemento central” daquele espaço, salienta ainda.

 Medina sublinha que “haverá poucos projectos na cidade que reunam estas características”. “É um projecto único porque trata-se de uma zona inacessível às pessoas, marcada por grandes vias viárias, onde não é possível aceder ao verde que ali existe. Lisboa é uma cidade que devolve espaço público às pessoas, que se transforma todos os dias, para que se viva com melhor qualidade”, garante. A libertação de cinco hectares para uma área arborizada permitirá também uma circulação rodoviária mais fluída. “O que vamos ter é uma ligação directa da Avenida de Berna à Calouste Gulbenkian. Quem quiser sair de Lisboa, em direcção a Monsanto ou à ponte, vai directo e não precisa de circundar a Praça de Espanha. O mesmo acontecerá também para quem quiser fazer ligação entre as avenidas dos Combatentes e António Augusto Aguiar. Esta será directa nos dois sentidos”, explica.

 O vereador do PSD João Pedro Costa, presente na cerimónia, elogia a reconfiguração da Praça de Espanha e sugere que a ideia seja alargada a outras partes da cidade. “A Nova Praça de Espanha é um bom projecto para a cidade. E é também um exemplo de como queremos fazer Lisboa: envolvendo as instituições, com processos participativos e promovendo concursos públicos internacionais de ideias de grande exigência. Exactamente o que queremos, por exemplo, para o Martim Moniz”, diz.

 O vereador social-democrata revela, porém, cepticismo quanto à prometida diminuição do trânsito prevista para aquela zona, depois de requalificada. “Temos algumas dúvidas relativamente ao nó viário, não está resolvido e pode gerar problemas e engarrafamentos. Há soluções alternativas que podem ser desenvolvidas, e vamos debater-nos para que este magnifico parque urbana possa ter um nó viário funcional”, promete. Na próxima reunião camarária, o vereador apresentará uma proposta para que sejam tidos em consideração outros “projectos alternativos”. “Não há que ter medo de que ouvir mais do que uma equipa de projectista e envolver as instituições, nem de ter processos participativos, porque, quando se faz assim, as soluções são sempre melhores”, conclui.


Em 2020, a Praça de Espanha perde carros e ganha árvores
Obras de novo parque urbano arrancam este ano e a câmara prevê terminá-los a tempo da Capital Verde Europeia, que se assinala em 2020. Antes disso haverá mudanças viárias.

 João Pedro Pincha
João Pedro Pincha 11 de Fevereiro de 2019, 19:18

Quando hoje se sai da estação do metro na Praça de Espanha, a primeira coisa que se vê à frente são vias de trânsito e, atrás, um parque de estacionamento e terminal rodoviário. Daqui a pouco mais de um ano, promete a câmara de Lisboa, a paisagem será radicalmente diferente. Essa saída de metro estará no centro de um extenso parque urbano que ali vai nascer e, em vez de estrada, o que se vai ver é uma ponte pedonal, uma clareira relvada e um riacho.

O futuro parque da Praça de Espanha, projectado pelo atelier de arquitectura paisagista NPK, começa a ganhar forma esta semana, com a aprovação em câmara do lançamento de um concurso público para as obras. “Contamos que as obras estejam concluídas no próximo ano”, disse Fernando Medina esta segunda-feira na apresentação pública do projecto.

O primeiro passo é a mudança da rede viária. A praça vai passar a ter dois cruzamentos, no enfiamento das avenidas Calouste Gulbenkian e Columbano Bordalo Pinheiro, desaparecendo a ligação directa, pelo meio, entre ambas. “A circulação vai ser melhorada, vai ser mais fluida”, garantiu o presidente da câmara, sublinhando que ir da Av. de Berna para a Av. Gulbenkian e da Av. dos Combatentes para a Av. António Augusto de Aguiar (e vice-versa) será mais rápido, pois deixa de se dar a volta à rotunda agora existente.

Para Medina, este projecto é o “símbolo de uma cidade em transformação no caminho da sustentabilidade ambiental”, uma marca da “Lisboa do futuro”. “Reforçamos as ligações pedonais, cicláveis, o sistema de transporte público”, disse. “Por cada mil pessoas que possam mudar do automóvel para transportes públicos e bicicleta são menos cinco quilómetros de filas na cidade.”

José Veludo, do atelier NPK, descreveu o futuro parque como “um elemento de coesão do espaço público”, prolongando os jardins da Fundação Gulbenkian quase até Sete Rios. Será um “parque central” na cidade, “preparado para receber vários públicos e várias sensibilidades”, em que se conjuga uma “praça pavimentada e um espaço aberto muito grande”, explicou o arquitecto. A saída do metro ficará na parte pavimentada, onde “um sistema de palas dá sombra e protege da chuva”, servindo ainda para albergar um café com esplanada.

Um dos requisitos do concurso internacional de ideias lançado pela câmara há dois anos era a valorização da água e o projecto escolhido contempla-a, trazendo de volta à superfície uma ribeira esquecida. “A proposta recusa permanecer com esta água escondida nos tubos. Não se trata de recriar o que já foi, mas de alcançar um maior equilíbrio entre o sistema cultural, a cidade, e o sistema natural”, referiu José Veludo.


Ao longo do vasto espaço, com quase cinco hectares, haverá ainda “equipamentos infantis e juvenis, bancos e bancadas”, disse o arquitecto. Haverá igualmente “uma intervenção artística” oferecida pela Gulbenkian, anunciou Isabel Mota, presidente da Fundação, cujo jardim estará ligado ao centro da praça através de uma ponte pedonal. Também no próximo ano se pode esperar a ampliação do Jardim Gulbenkian em quase 8000 metros quadrados, até à esquina da Av. Duque de Ávila. O concurso de ideias para esse trabalho vai agora ser lançado.

“Este é, sem dúvida, o projecto mais marcante do ponto de vista da afirmação do verde na qualidade de vida da cidade”, afirmou ainda Medina.

 “É um bom projecto para a cidade”, reconheceu João Pedro Costa, vereador do PSD, que estava na cerimónia. Ainda assim, o social-democrata diz ter “grandes dúvidas em relação à solução viária” e pede ao executivo que siga o exemplo do concurso para o parque urbano, fazendo o mesmo para as estradas. “Não há que ter medo de ouvir mais do que uma equipa de projectistas.”

As mudanças na Praça de Espanha deverão custar cerca de seis milhões de euros aos cofres da autarquia. Brevemente, os lotes vagos à volta da praça serão ocupados por edifícios de escritórios (pertencentes ao Montepio e à Jerónimo Martins) e por uma nova unidade do Instituto Português de Oncologia.

Sem comentários: