Vai nascer um corredor verde entre a Praça de Espanha e a
Avenida Duque D’Avila até ao final de 2020
Sofia Cristino
Texto
11 Fevereiro, 2019
A Praça de Espanha vai transformar-se numa ampla área verde,
que terá ligação directa com os jardins da Gulbenkian. Estes serão ainda
ampliados até à Avenida Duque de Ávila, libertando-se um espaço até agora
vedado ao público. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Fernando
Medina, diz que “haverá poucos projectos na cidade que reunam estas
características”. E garante ainda que este é “o projecto mais verde” do Uma
Praça em Cada Bairro, programa municipal que tem sido muito criticado, por não
contemplar zonas ajardinadas com dimensão significativa. A nova Praça de
Espanha terá mais árvores, uma bacia de retenção de água, uma ciclovia e um
novo corredor para a circulação de autocarros. O município acredita também que
a circulação rodoviária fluirá melhor. Um dos autores do projecto diz que em
Lisboa falta fazer um trabalho de “coesão da cidade de continuidade do espaço
público”. O novo desenho da Praça de Espanha, diz, é o início dessa
transformação.
No próximo ano, os jardins da Fundação Calouste Gulbenkian
vão ser ampliados até à Avenida Duque de Ávila, passando a ocupar quase a
totalidade do antigo Parque de Santa Gertrudes. Fora deste prolongamento da
zona verde, ficará apenas a casa da Fundação Eugénio de Almeida e o seu logradouro.
Haverá ainda uma ponte a ligar os jardins da fundação ao centro da Praça de
Espanha, integrando mais as diversas
áreas verdes da cidade de Lisboa. O anúncio foi feito por Isabel Mota,
presidente do conselho de administração da Gulbenkian, ao final da manhã desta
segunda-feira (11 de Fevereiro), na cerimónia de apresentação pública do
projecto de requalificação da Praça de Espanha.
O concurso de ideias
para a extensão do parque Gulbenkian será lançado em breve, esperando-se que
esteja concluído “um pouco depois” da nova Praça de Espanha, que deverá estar
terminada em 2020. “É do nosso interesse que a Praça de Espanha ganhe a
centralidade que a nossa cidade merece. A maior parte deste quarteirão estará,
em breve, limpo, aberto e acessível ao público”, promete Isabel Mota. A
fundação anunciou ainda que irá contribuir com a “oferta de uma intervenção
artística” no novo parque urbano. “Estamos a desenvolver uma colecção conjunta
com a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e a equipa projectista, no sentido de se
encontrar a solução ideal”, avança.
As nove propostas para a Praça de Espanha, dadas a conhecer
em Dezembro de 2017, foram debatidas e sujeitas a consulta pública. Findo esse
processo, a requalificação de uma das zonas mais movimentadas da cidade ficou a
cargo do ateliê NPK – Arquitectos Paisagistas Associados, vencedor do concurso
internacional promovido pela Câmara de Lisboa. A zona vai transformar-se num
espaço verde com cinco hectares – uma dimensão semelhante ao do Jardim da
Estrela -, terá uma nova ciclovia, um corredor para a circulação de autocarros
e trará à superfície “um caminho de água, até agora, oculto”, o riacho do Rego.
Parte da praça será pavimentada e outra terá “um espaço aberto muito grande”,
permitindo uma utilização quotidiana, mas também esporádica, recebendo eventos
sazonais mais alargados. Haverá um café, equipamentos juvenis e infantis,
esplanadas e uma bacia de retenção de águas com efeito de drenagem, para evitar
as cheias que afectam aquela área e as adjacentes.
“O parque será um
elemento de coesão do espaço público, irá servir a cidade toda, o Bairro do
Rego, o Bairro Azul, o Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, que, a
partir de agora, ficará ligado a esta estrutura ecológica. É um parque central,
que tem de estar preparado para receber vários públicos e sensibilidades, e é
mais um passo na ramificação que é necessária entre Monsanto e o interior da
cidade”, diz José Veludo. O arquitecto paisagista do ateliê NPK reconhece ainda
que há muito a fazer para a cidade se tornar “mais verde”.
“Lisboa é uma cidade em consolidação. Dentro dos seus
limites, a estrutura das ruas e dos bairros está amplamente definida, faltando
continuar o trabalho de coesão e de estabelecer mais continuidade no espaço
público. A Praça de Espanha e os quarteirões a norte aguardam essa
transformação, no sentido de estabelecer uma melhor continuidade pedonal e de
tornar mais presente o sistema natural. Precisamos de uma cidade bastante mais
ramificada”, considera.
Com a renovação da Praça de Espanha, pretende-se devolver
mais zonas verdes a Lisboa e criar “uma ligação verde pedonal de rara qualidade
na cidade”, promete o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Fernando
Medina (PS). O novo desenho do espaço público daquela zona da capital será “o
projecto mais verde” do programa Uma Praça em Cada Bairro realizado por este
executivo, garante ainda Medina. “Este é o projecto mais marcante do ponto de
vista da afirmação do verde e da qualidade de vida. Teremos outros,
naturalmente, importantes e de grande dimensão, como o Parque Ribeirinho
Oriental, que acabará por ser maior do que este e que, em breve, abrirá a primeira
parte”, diz o autarca. O novo parque terá “um número significativo de árvores”
e a “recuperação da água como elemento central” daquele espaço, salienta ainda.
Medina sublinha que
“haverá poucos projectos na cidade que reunam estas características”. “É um
projecto único porque trata-se de uma zona inacessível às pessoas, marcada por
grandes vias viárias, onde não é possível aceder ao verde que ali existe.
Lisboa é uma cidade que devolve espaço público às pessoas, que se transforma
todos os dias, para que se viva com melhor qualidade”, garante. A libertação de
cinco hectares para uma área arborizada permitirá também uma circulação
rodoviária mais fluída. “O que vamos ter é uma ligação directa da Avenida de
Berna à Calouste Gulbenkian. Quem quiser sair de Lisboa, em direcção a Monsanto
ou à ponte, vai directo e não precisa de circundar a Praça de Espanha. O mesmo
acontecerá também para quem quiser fazer ligação entre as avenidas dos
Combatentes e António Augusto Aguiar. Esta será directa nos dois sentidos”,
explica.
O vereador do PSD
João Pedro Costa, presente na cerimónia, elogia a reconfiguração da Praça de
Espanha e sugere que a ideia seja alargada a outras partes da cidade. “A Nova
Praça de Espanha é um bom projecto para a cidade. E é também um exemplo de como
queremos fazer Lisboa: envolvendo as instituições, com processos participativos
e promovendo concursos públicos internacionais de ideias de grande exigência.
Exactamente o que queremos, por exemplo, para o Martim Moniz”, diz.
O vereador
social-democrata revela, porém, cepticismo quanto à prometida diminuição do
trânsito prevista para aquela zona, depois de requalificada. “Temos algumas
dúvidas relativamente ao nó viário, não está resolvido e pode gerar problemas e
engarrafamentos. Há soluções alternativas que podem ser desenvolvidas, e vamos
debater-nos para que este magnifico parque urbana possa ter um nó viário
funcional”, promete. Na próxima reunião camarária, o vereador apresentará uma
proposta para que sejam tidos em consideração outros “projectos alternativos”.
“Não há que ter medo de que ouvir mais do que uma equipa de projectista e
envolver as instituições, nem de ter processos participativos, porque, quando
se faz assim, as soluções são sempre melhores”, conclui.
Em 2020, a Praça de Espanha perde carros e ganha árvores
Obras de novo parque urbano arrancam este ano e a câmara
prevê terminá-los a tempo da Capital Verde Europeia, que se assinala em 2020.
Antes disso haverá mudanças viárias.
João Pedro Pincha
João Pedro Pincha 11 de Fevereiro de 2019, 19:18
Quando hoje se sai da estação do metro na Praça de Espanha,
a primeira coisa que se vê à frente são vias de trânsito e, atrás, um parque de
estacionamento e terminal rodoviário. Daqui a pouco mais de um ano, promete a
câmara de Lisboa, a paisagem será radicalmente diferente. Essa saída de metro
estará no centro de um extenso parque urbano que ali vai nascer e, em vez de
estrada, o que se vai ver é uma ponte pedonal, uma clareira relvada e um
riacho.
O futuro parque da Praça de Espanha, projectado pelo atelier
de arquitectura paisagista NPK, começa a ganhar forma esta semana, com a
aprovação em câmara do lançamento de um concurso público para as obras.
“Contamos que as obras estejam concluídas no próximo ano”, disse Fernando
Medina esta segunda-feira na apresentação pública do projecto.
O primeiro passo é a mudança da rede viária. A praça vai
passar a ter dois cruzamentos, no enfiamento das avenidas Calouste Gulbenkian e
Columbano Bordalo Pinheiro, desaparecendo a ligação directa, pelo meio, entre
ambas. “A circulação vai ser melhorada, vai ser mais fluida”, garantiu o
presidente da câmara, sublinhando que ir da Av. de Berna para a Av. Gulbenkian
e da Av. dos Combatentes para a Av. António Augusto de Aguiar (e vice-versa)
será mais rápido, pois deixa de se dar a volta à rotunda agora existente.
Para Medina, este projecto é o “símbolo de uma cidade em
transformação no caminho da sustentabilidade ambiental”, uma marca da “Lisboa
do futuro”. “Reforçamos as ligações pedonais, cicláveis, o sistema de
transporte público”, disse. “Por cada mil pessoas que possam mudar do automóvel
para transportes públicos e bicicleta são menos cinco quilómetros de filas na
cidade.”
José Veludo, do atelier NPK, descreveu o futuro parque como
“um elemento de coesão do espaço público”, prolongando os jardins da Fundação
Gulbenkian quase até Sete Rios. Será um “parque central” na cidade, “preparado
para receber vários públicos e várias sensibilidades”, em que se conjuga uma
“praça pavimentada e um espaço aberto muito grande”, explicou o arquitecto. A
saída do metro ficará na parte pavimentada, onde “um sistema de palas dá sombra
e protege da chuva”, servindo ainda para albergar um café com esplanada.
Um dos requisitos do concurso internacional de ideias
lançado pela câmara há dois anos era a valorização da água e o projecto
escolhido contempla-a, trazendo de volta à superfície uma ribeira esquecida. “A
proposta recusa permanecer com esta água escondida nos tubos. Não se trata de
recriar o que já foi, mas de alcançar um maior equilíbrio entre o sistema
cultural, a cidade, e o sistema natural”, referiu José Veludo.
Ao longo do vasto espaço, com quase cinco hectares, haverá
ainda “equipamentos infantis e juvenis, bancos e bancadas”, disse o arquitecto.
Haverá igualmente “uma intervenção artística” oferecida pela Gulbenkian,
anunciou Isabel Mota, presidente da Fundação, cujo jardim estará ligado ao
centro da praça através de uma ponte pedonal. Também no próximo ano se pode esperar
a ampliação do Jardim Gulbenkian em quase 8000 metros quadrados, até à esquina
da Av. Duque de Ávila. O concurso de ideias para esse trabalho vai agora ser
lançado.
“Este é, sem dúvida, o projecto mais marcante do ponto de
vista da afirmação do verde na qualidade de vida da cidade”, afirmou ainda
Medina.
“É um bom projecto
para a cidade”, reconheceu João Pedro Costa, vereador do PSD, que estava na
cerimónia. Ainda assim, o social-democrata diz ter “grandes dúvidas em relação
à solução viária” e pede ao executivo que siga o exemplo do concurso para o
parque urbano, fazendo o mesmo para as estradas. “Não há que ter medo de ouvir
mais do que uma equipa de projectistas.”
As mudanças na Praça de Espanha deverão custar cerca de seis
milhões de euros aos cofres da autarquia. Brevemente, os lotes vagos à volta da
praça serão ocupados por edifícios de escritórios (pertencentes ao Montepio e à
Jerónimo Martins) e por uma nova unidade do Instituto Português de Oncologia.
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