Metro quadrado nas Avenidas Novas aumentou mil euros num ano
É a quarta freguesia mais cara de Lisboa. Quem lá mora diz
que sempre foi um "mundo à parte", apesar de estar no olho da
capital. Nas ruas largas das Avenidas Novas, o metro quadrado já custa mais de
3500 euros. Aumentou 40% num ano.
Ana Sanlez
01 Fevereiro 2019 — 06:23
Tem sete suites, jardim, piscina e terraços. Está "perto
de tudo", ali junto ao Campo Pequeno. O anúncio não tem imagens mas inclui
um aviso: "Não a curiosos, por favor." A curiosidade começa no preço:
a casa mais cara das Avenidas Novas, e uma das mais valiosas da capital, está à
venda por 6,8 milhões de euros, mais de oito mil euros por metro quadrado. Na
freguesia, a média ronda os 3500 euros. Em 12 meses, os preços dispararam mais
de 40%. O equivalente a 1032 euros.
Uma consulta ao portal Imovirtual revela que, nas 30
avenidas que compõem a quarta freguesia mais cara de Lisboa, há pelo menos 360
registos de casas à venda por mais de um milhão de euros. Segundo os números
revelados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), as casas das
Avenidas Novas só perdem em valor para as do centro histórico. Santo António,
Misericórdia e Santa Maria Maior compõem o pódio das freguesias mais caras de
Lisboa. Mas as Avenidas estão na corrida pelos lugares da frente.
"Vivo nas Avenidas Novas há 64 anos e desde então que
sinto que a zona é um mundo à parte no centro da cidade. As Avenidas foram
traçadas como um boulevard parisiense. São um palco formidável de várias
intersecções, que tanto incluem um centro importantíssimo de empresas como de
habitação. Sempre foram uma zona nobre, mas nos últimos anos tornaram-se um
luxo", explica Ana Gaspar, presidente da junta de freguesia que em 2012
nasceu da fusão de São Sebastião da Pedreira com Nossa Senhora de Fátima.
Segundo a autarca independente eleita pelo PS, apesar da
vinda em massa de estrangeiros nos últimos anos, as Avenidas Novas têm há
décadas uma consolidada comunidade de franceses, "mais à volta do Parque
Eduardo VII".
A Lei das Rendas trouxe "alguns despejos de pessoas
mais idosas", admite Ana Gaspar, mas com a crise também veio o fenómeno da
reabilitação urbana, que deu uma cara nova à freguesia. A responsável não tem
números, mas garante que os edifícios devolutos são cada vez menos um problema
das Avenidas. Em 2011, segundo os Censos de então, havia 220 imóveis em estado
de degradação na zona que hoje compõe a freguesia.
Hoje resta pouco terreno para construir na freguesia, mas
Ana Gaspar deposita todas as esperanças no "espaço formidável" que
vai nascer em Entrecampos, após a recuperação dos terrenos que eram da Feira
Popular. "Serão 700 casas a preços acessíveis, é muito bom."
O preço das casas em Lisboa aumentou 24,3% no terceiro
trimestre de 2018. O metro quadrado na capital já chega aos 2877 euros, mais
562 euros em comparação com o mesmo período do ano anterior. Em cinco
freguesias, o valor já ultrapassa os 3500 euros. Entre as 24 freguesias da
capital, só uma escapou às subidas em flecha: no seleto Parque das Nações o
preço das casas caiu 1,8%.
Um movimento que contrasta também com a tendência que se
vive nas zonas mais afastadas do centro da capital. "Neste momento, são as
zonas limítrofes do centro da cidade que apresentam um maior potencial de
valorização, influenciado pelo aumento da procura doméstica, que está a
deslocalizar-se para as áreas periféricas da capital", dizRicardo Sousa,
CEO da Century 21 Portugal. Em freguesias como Marvila, Lumiar ou Olivais a
subida dos preços chega aos 30%.
Casas mais caras fora do centro do Porto
Comprar casa no Porto também já não é para todas as
famílias. Os preços aumentaram 21% no terceiro trimestre do ano passado para
1525€ por metro quadrado, segundo publicou ontem o Instituto Nacional de
Estatística (INE). Em 12 meses, o metro quadrado valorizou 271 euros no conjunto
da cidade.
Em todas as freguesias o aumento foi superior a 20%, à
exceção de Paranhos, onde os imóveis ficaram "apenas" 14% mais caros.
A zona da Foz e a Baixa portuense mantêm-se como as áreas mais valiosas da
cidade, mas fora do centro os preços também dispararam. Na freguesia de
Ramalde, o metro quadrado ficou 27% mais caro até setembro de 2018, o
equivalente a 304 euros.
Já Cedofeita, que se mantém como a freguesia mais acessível
do Porto, e a única onde o preço do metro quadrado não ultrapassa os mil euros,
os preços subiram 25% para 986 euros. Num ano, são mais 200 euros por metro
quadrado. Aqui, uma casa de cem metros quadrados, que há um ano custava menos
de 79 mil euros, hoje custa quase 100 mil.
Os números não surpreendem os especialistas. Rui Silva,
diretor comercial da Frontal Imobiliária, diz que os aumentos são
"normais", e refletem o bom momento que o mercado vive, com a procura
a ser superior à oferta. "Há famílias que querem continuar no Porto e não
podem pagar o preço do centro histórico, logo, vão para as freguesias mais
baratas, onde há construção nova."
A construção nova é a chave que explica a subida dos preços.
"Ramalde tinha muita construção parada que arrancou há um ano ou seis
meses. Os portugueses têm muita apetência pela habitação nova. Muitos destes
projetos novos estão a ser vendidos em planta."
Rui Silva acredita que a subida dos preços nestas freguesias
não vai ficar por aqui. "Campanhã, a médio prazo, vai chegar a preços
iguais aos da Baixa do Porto porque aquela zona vai ser muito reabilitada. Se,
em 2018, o preço do metro quadrado naquelas zonas aumentou 200 ou 300 euros, em
2019 deverá ir pelo mesmo caminho."
O mesmo não deverá acontecer nas zonas mais caras, em que o
aumento dos preços deverá abrandar. Na zona da Foz o metro quadrado já chega
aos 2250 euros e na Baixa aproxima-se dos 1900 euros.
Os números publicados ontem pelo INE revelaram que, em
Portugal, o preço das casas subiu perto de 8%, para um valor mediano de 984
euros, mais 72 euros do que no ano anterior.
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