"Segundo o contrato de concessão para o Martim Moniz, a
MoonBrigade vai pagar à câmara de Lisboa uma renda mensal de 5610 euros e 46
cêntimos, mais IVA. Não são 60 mil, são cinco mil euros por mês. Além desses
100 ou 150 mil euros por ano de renda que deixa de receber, a CML perde outros
150 mil euros da dívida do antigo concessionário que tinha conseguido receber
ao negociar a transferência para o novo concessionário. Se li bem o contrato, a
CML recebeu metade dessa dívida em Setembro, no dia em que passou a concessão
para a MoonBrigade. Aqui, vamos em 300 mil euros de prejuízo."
Martim Moniz: uma tarde para tirar dúvidas aos moradores
Empresa responsável pelo projeto que está a ser contestado
pela oposição e moradores decidiu fazer uma reunião pública para explicar o que
pretende fazer nos três mil metros quadrados de concessão.
Carlos Ferro
09 Fevereiro 2019 — 19:17
Contrariar as "notícias que não espelham o nosso
projeto" mostrando à população o que está a ser pensado para o Martim
Moniz e responder a todas as dúvidas sobre a requalificação da praça. Este foi
o objetivo da iniciativa que durante a tarde deste sábado teve como palco
aquela zona de Lisboa cuja renovação tem sido alvo de contestação tanto por
parte dos partidos da oposição camarária como pela população, que no passado
dia 2 protagonizou um cordão humano no local como forma de protesto pela
proposta da empresa Moonbrigade para a renovação do espaço.
A ideia de fazer uma "reunião pública" foi
explicada ao DN por José Filipe como uma forma de mostrar o que a
concessionária pretende fazer. "O nosso trabalho é pegar numa zona especifica
da cidade, que com o mercado de fusão já tínhamos conseguido mudar, abandonada
há 20 anos e reabilitá-la. Temos um projeto de integração social, mantendo o
compromisso de manter projetos com as comunidades", acrescenta o
responsável da empresa que pretende investir três milhões de euros na
requalificação da área.
A Moonbrigade pretende transformar a zona numa "praça
dos povos", por isso diz já ter acordos com vários comerciantes que estão
no Bairro da Mouraria para fazerem parte de um projeto que "ocupará 27% do
espaço da praça [3259 m2]". Para o restante espaço está previsto um jardim
e existe a disponibilidade da empresa para construir um "jardim
infantil". Iniciativa que depende da autarquia e da Junta de Freguesia de
Santa Maria Maior, existindo já uma ideia do que poderá ser: "Faz sentido,
é um projeto para toda a gente, com um mapa-mundo com jogos interativos."
O projeto que a concessionária - responsável pelo espaço até
2032 - apresentou para a praça envolve zonas verdes, o espaço completamente
aberto (ficou sem efeito a ideia, muito contestada, de colocar uma vedação para
evitar a passagem de pessoas na praça durante a noite), tudo inserido num plano
sustentável. "Vamos ter uma redução drástica do uso do plástico. Na zona
de restauração todos os materiais vão ser biodegradáveis e os lojistas não vão
usar plásticos", adianta José Filipe.
Com algumas parcerias já acertadas, incluindo com o coletivo
Underdogs que vai gerir uma galeria de arte que mudará de tema de três em três
meses, uma peça do Bordalo II e um mural do artista brasileiro Kobra que estará
focado na união dos povos, José Ribeiro garante que a iniciativa desta tarde
serviu para "desmistificar algumas ideias. A população está connosco,
temos uma forte ligação ao bairro".
Esta decisão surge num contexto em que existe muita
contestação ao projeto de utilizar contentores como "lojas" e nem
mesmo a promessa da concessionária de que serão revestidos a madeira ou vidro
convence a população que no dia 2 fez um cordão humano em volta da praça e que
tinha como uma das frases de ordem "não queremos contentores".
Também os partidos da oposição ao executivo liderado por
Fernando Medina (PS) têm apresentado dúvidas sobre o projeto e a assembleia
municipal de Lisboa aprovou no dia 5 uma proposta para que o projeto seja
colocado em discussão pública, tendo o presidente da autarquia dito que estava
disponível para que isso acontecesse.
A esta contestação junta-se agora uma proposta entregue no
âmbito do orçamento participativo da autoria do arquiteto Tiago Mota Saraiva
que pretende suspender o projeto - que recebeu a primeira autorização para a
construção de infraestruturas, já a ser feitas pela Moonbrigade - e que se
inicie "um processo de participação pública que dê origem a um programa
preliminar" para intervenção nesta praça de Lisboa, "no qual se
identificará o que se quer para a praça, e que será a base de um concurso
público aberto de conceção".
Perante tudo isto o objetivo inicial de ter as obras
concluídas em junho deste ano pode estar comprometido. "Continuar com o
resto do projeto depende da câmara. Mas esta praça voltou a ser uma praça suja,
o tráfico de droga voltou e a criminalidade também", sublinha.
O projeto prevê que na zona central da praça surjam 50
espaços comerciais como florista, cabeleireiro, talho, padaria, restaurantes de
comida do mundo que já estavam na praça, uma chapelaria e uma loja de discos.
Também as associações locais terão espaços próprios.
Mercado de contentores do Martim Moniz poderá criar 250 postos
de trabalho
Com a instalação dos contentores deverão ser criados entre
30 e 50 espaços comerciais que vão empregar cerca de 250 pessoas.
Concessionário foi este sábado para a praça apresentar o projecto junto da
população.
Cristiana Faria
Moreira
Cristiana Faria Moreira 9 de Fevereiro de 2019, 20:23
O debate em torno da criação de um mercado com contentores
no coração da praça do Martim Moniz, em Lisboa, segue animado. Se na semana
passada se fez um cordão humano à volta da praça pedindo que ali se faça antes
um jardim, este sábado houve um encontro com "artistas e amigos da
praça", promovido pela Moonbrigade, a empresa que quer colocar os
contentores.
Ao início da tarde, não chegavam às duas dezenas de pessoas
as que se concentravam do lado da praça junto ao Hotel Mundial. Elsa Ferreira
estava ali por acaso, não sabia que a praça entrara em obras nem o que lhe
acontecerá, por isso atentava num dos cartazes que os concessionários colocaram
com explicações sobre o novo rosto que pretendem dar ao centro da praça.
Foi precisamente para dar a conhecer aos lisboetas — e não
só — o projecto de requalificação da praça que a Moonbrigade quis fazer “uma
reunião pública de apresentação do projecto à população”, diz ao PÚBLICO José
Rebelo Pinto, um dos sócios da empresa que foi, de resto, o responsável por
fazer ali nascer o "mercado de fusão" que ocupava a praça desde 2011
— e que acabaria por não correr assim tão bem.
Já o tinham feito antes, numa sessão pública, em Novembro,
no Hotel Mundial, que desencadeou a onda de contestação ao projecto. Todas as
vozes ouvidas nessa sessão criticaram o projecto, admitindo que aquele espaço
público seria "privatizado". Defendiam antes que ali fosse construído
um jardim.
Nessa altura, admite José Rebelo Pinto, não conseguiram
passar a "ideia" do projecto. "As pessoas que estavam no Hotel
Mundial não representam a população de todo", considera. E vai mais longe:
"Fomos sujeitos a uma emboscada de algumas entidades que não estão a favor
do projecto".
Depois dessa sessão, os promotores fizeram algumas
alterações ao projecto: recuaram na ideia de fechar o espaço à noite e quiseram
tornar os contentores mais verdes. Geoffroy Moreno, um dos sócios da
Moonbrigade, diz que serão colocados bancos onde qualquer pessoa pode estar,
mesmo que não queira consumir.
O que correu mal no mercado de fusão?
José Rebelo Pinto está na praça há sete anos, porque é dele
a empresa NCS – Produção, Som e Vídeo, que explorou os quiosques do Martim
Moniz até Outubro de 2018. Quando, em 2010, José apresentou uma proposta ao
município para a requalificação da praça, o Martim Moniz "era um espaço
vazio, que não estava nos planos da câmara municipal. As pessoas não vinham ao
Martim Moniz”, diz. Essa proposta acabou por ficar na gaveta, até a autarquia
lançar, em 2011, um concurso público internacional para a praça.
A NCS foi a única concorrente e criou ali um “mercado de
fusão”, aproveitando os quiosques que lá estavam. “As coisas de início
começaram a correr muito bem porque foi uma lufada de ar fresco para a zona”,
recorda José. No entanto, a crise chegou, a empresa passou por dificuldades
financeiras e apareceram também outros mercados como o de Campo de Ourique, o
da Ribeira e as próprias esplanadas do Terreiro do Paço.
A NCS acabou por acumular uma dívida com a câmara na ordem
dos 120 mil euros. Foi então que José Rebelo Pinto começou à procura de
investidores. Demorou cinco anos a encontrar quem quisesse investir na praça,
até que o conceito agradou a Geoffroy e Arthur Moreno, donos da Stone Capital,
que têm vários projectos na cidade.
Fundaram a Moonbrigade e decidiram manter a ideia de ser um
“mercado de fusão”, mas com os contentores.“São materiais reutilizáveis e são
transformáveis. Conseguem ter paredes verticais com verdes, madeira,
vidro", explica José Rebelo Pinto, rejeitando a ideia de que esta será uma
praça de contentores. "A nossa ideia de contentores não é, de todo, a de
uma zona industrial”, sublinha.
O responsável notou ainda que a área de concessão ocupa 28%
da praça. Por isso, admite, "há lugar para tudo", incluindo a
possibilidade de se fazer um jardim. "Já mostramos o nosso interesse em
colaborar com a câmara e investir num espaço verde e num espaço infantil”,
garante.
Como a concessão ocupa o coração da praça, de cada lado
sobram cerca de três mil metros quadrados de área o que, segundo repara
Geoffroy Moreno, é o equivalente à área do Jardim de Santos. Sendo assim, nota
o promotor, a câmara poderá criar o tão pedido espaço verde.
O projecto do mercado de contentores vai criar entre 250 a
300 postos de trabalho, estima Geoffroy, e haverá espaço para a instalação de
30 a 50 lojas. O responsável adianta ainda que está a ser pensada a criação de
uma bolsa de emprego para os postos de trabalho que ali serão criados.
José Rebelo Pinto sustenta que este será um “um projecto
virado para as famílias” e que visa a “integração de eventos com as comunidades
locais”, como a comemoração do Ano Novo Chinês, a festa do fim do Ramadão, ou o
Bollywood Holi. Será também colocada ali uma peça do artista português Bordalo
II, bem como do brasileiro Kobra. Está ainda a ser firmada uma parceria com a
galeria Underdogs.
“A nossa ideia é realmente fazer um mercado que tenha talho,
frutas, legumes, que viva o pequeno comércio e juntar o cabeleireiro com um
espaço de tatuagens”, diz José.
A Moonbrigade quer criar um mercado com talhos, frutas,
legumes, e junte um cabeleireiro ou um espaço de tatuagens DR
O promotor compromete-se ainda a ter ali um mercado
sustentável onde o material usado no espaço da restauração seja biodegradável e
os copos reutilizáveis.
Ao longo dos próximos seis meses serão ali investidos três
milhões de euros. Apesar de as obras já terem arrancado, a autarquia diz que
ainda não está aprovado o projecto dos contentores, uma vez que terá de ser
votado em reunião de câmara. Todos os partidos, à excepção do PS, já
contestaram publicamente o projecto, incluindo o Bloco de Esquerda, com o qual
Fernando Medina tem um acordo para a gestão da cidade.
Se essa posição se traduzir no chumbo do projecto da
Moonbrigade, serão votadas as propostas já conhecidas do PCP e do PSD, que
prevêem o lançamento de uma discussão pública sobre o futuro da praça.
Medina também já avisou que um eventual chumbo poderá
acarretar consequências financeiras para o município e para os próprios
vereadores. Sobre este assunto, José Rebelo Pinto diz que já há ali investimento
feito e remete mais explicações para a advogada da empresa. “Estou focado em
tentar dar ao Martim Moniz aquilo que sempre sonhei: um projecto de
requalificação urbana com uma componente de integração forte. Não desisto
dela”, assegura.
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