domingo, 10 de fevereiro de 2019

Martim Moniz: uma tarde para tirar dúvidas aos moradores / Mercado de contentores do Martim Moniz poderá criar 250 postos de trabalho



"Segundo o contrato de concessão para o Martim Moniz, a MoonBrigade vai pagar à câmara de Lisboa uma renda mensal de 5610 euros e 46 cêntimos, mais IVA. Não são 60 mil, são cinco mil euros por mês. Além desses 100 ou 150 mil euros por ano de renda que deixa de receber, a CML perde outros 150 mil euros da dívida do antigo concessionário que tinha conseguido receber ao negociar a transferência para o novo concessionário. Se li bem o contrato, a CML recebeu metade dessa dívida em Setembro, no dia em que passou a concessão para a MoonBrigade. Aqui, vamos em 300 mil euros de prejuízo."






Martim Moniz: uma tarde para tirar dúvidas aos moradores
Empresa responsável pelo projeto que está a ser contestado pela oposição e moradores decidiu fazer uma reunião pública para explicar o que pretende fazer nos três mil metros quadrados de concessão.

Carlos Ferro
09 Fevereiro 2019 — 19:17

Contrariar as "notícias que não espelham o nosso projeto" mostrando à população o que está a ser pensado para o Martim Moniz e responder a todas as dúvidas sobre a requalificação da praça. Este foi o objetivo da iniciativa que durante a tarde deste sábado teve como palco aquela zona de Lisboa cuja renovação tem sido alvo de contestação tanto por parte dos partidos da oposição camarária como pela população, que no passado dia 2 protagonizou um cordão humano no local como forma de protesto pela proposta da empresa Moonbrigade para a renovação do espaço.

A ideia de fazer uma "reunião pública" foi explicada ao DN por José Filipe como uma forma de mostrar o que a concessionária pretende fazer. "O nosso trabalho é pegar numa zona especifica da cidade, que com o mercado de fusão já tínhamos conseguido mudar, abandonada há 20 anos e reabilitá-la. Temos um projeto de integração social, mantendo o compromisso de manter projetos com as comunidades", acrescenta o responsável da empresa que pretende investir três milhões de euros na requalificação da área.

A Moonbrigade pretende transformar a zona numa "praça dos povos", por isso diz já ter acordos com vários comerciantes que estão no Bairro da Mouraria para fazerem parte de um projeto que "ocupará 27% do espaço da praça [3259 m2]". Para o restante espaço está previsto um jardim e existe a disponibilidade da empresa para construir um "jardim infantil". Iniciativa que depende da autarquia e da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, existindo já uma ideia do que poderá ser: "Faz sentido, é um projeto para toda a gente, com um mapa-mundo com jogos interativos."

O projeto que a concessionária - responsável pelo espaço até 2032 - apresentou para a praça envolve zonas verdes, o espaço completamente aberto (ficou sem efeito a ideia, muito contestada, de colocar uma vedação para evitar a passagem de pessoas na praça durante a noite), tudo inserido num plano sustentável. "Vamos ter uma redução drástica do uso do plástico. Na zona de restauração todos os materiais vão ser biodegradáveis e os lojistas não vão usar plásticos", adianta José Filipe.

Com algumas parcerias já acertadas, incluindo com o coletivo Underdogs que vai gerir uma galeria de arte que mudará de tema de três em três meses, uma peça do Bordalo II e um mural do artista brasileiro Kobra que estará focado na união dos povos, José Ribeiro garante que a iniciativa desta tarde serviu para "desmistificar algumas ideias. A população está connosco, temos uma forte ligação ao bairro".

Esta decisão surge num contexto em que existe muita contestação ao projeto de utilizar contentores como "lojas" e nem mesmo a promessa da concessionária de que serão revestidos a madeira ou vidro convence a população que no dia 2 fez um cordão humano em volta da praça e que tinha como uma das frases de ordem "não queremos contentores".

Também os partidos da oposição ao executivo liderado por Fernando Medina (PS) têm apresentado dúvidas sobre o projeto e a assembleia municipal de Lisboa aprovou no dia 5 uma proposta para que o projeto seja colocado em discussão pública, tendo o presidente da autarquia dito que estava disponível para que isso acontecesse.

A esta contestação junta-se agora uma proposta entregue no âmbito do orçamento participativo da autoria do arquiteto Tiago Mota Saraiva que pretende suspender o projeto - que recebeu a primeira autorização para a construção de infraestruturas, já a ser feitas pela Moonbrigade - e que se inicie "um processo de participação pública que dê origem a um programa preliminar" para intervenção nesta praça de Lisboa, "no qual se identificará o que se quer para a praça, e que será a base de um concurso público aberto de conceção".

Perante tudo isto o objetivo inicial de ter as obras concluídas em junho deste ano pode estar comprometido. "Continuar com o resto do projeto depende da câmara. Mas esta praça voltou a ser uma praça suja, o tráfico de droga voltou e a criminalidade também", sublinha.

O projeto prevê que na zona central da praça surjam 50 espaços comerciais como florista, cabeleireiro, talho, padaria, restaurantes de comida do mundo que já estavam na praça, uma chapelaria e uma loja de discos. Também as associações locais terão espaços próprios.



Mercado de contentores do Martim Moniz poderá criar 250 postos de trabalho
Com a instalação dos contentores deverão ser criados entre 30 e 50 espaços comerciais que vão empregar cerca de 250 pessoas. Concessionário foi este sábado para a praça apresentar o projecto junto da população.

 Cristiana Faria Moreira
Cristiana Faria Moreira 9 de Fevereiro de 2019, 20:23

O debate em torno da criação de um mercado com contentores no coração da praça do Martim Moniz, em Lisboa, segue animado. Se na semana passada se fez um cordão humano à volta da praça pedindo que ali se faça antes um jardim, este sábado houve um encontro com "artistas e amigos da praça", promovido pela Moonbrigade, a empresa que quer colocar os contentores.

Ao início da tarde, não chegavam às duas dezenas de pessoas as que se concentravam do lado da praça junto ao Hotel Mundial. Elsa Ferreira estava ali por acaso, não sabia que a praça entrara em obras nem o que lhe acontecerá, por isso atentava num dos cartazes que os concessionários colocaram com explicações sobre o novo rosto que pretendem dar ao centro da praça.

Foi precisamente para dar a conhecer aos lisboetas — e não só — o projecto de requalificação da praça que a Moonbrigade quis fazer “uma reunião pública de apresentação do projecto à população”, diz ao PÚBLICO José Rebelo Pinto, um dos sócios da empresa que foi, de resto, o responsável por fazer ali nascer o "mercado de fusão" que ocupava a praça desde 2011 — e que acabaria por não correr assim tão bem.

Já o tinham feito antes, numa sessão pública, em Novembro, no Hotel Mundial, que desencadeou a onda de contestação ao projecto. Todas as vozes ouvidas nessa sessão criticaram o projecto, admitindo que aquele espaço público seria "privatizado". Defendiam antes que ali fosse construído um jardim.

Nessa altura, admite José Rebelo Pinto, não conseguiram passar a "ideia" do projecto. "As pessoas que estavam no Hotel Mundial não representam a população de todo", considera. E vai mais longe: "Fomos sujeitos a uma emboscada de algumas entidades que não estão a favor do projecto".

Depois dessa sessão, os promotores fizeram algumas alterações ao projecto: recuaram na ideia de fechar o espaço à noite e quiseram tornar os contentores mais verdes. Geoffroy Moreno, um dos sócios da Moonbrigade, diz que serão colocados bancos onde qualquer pessoa pode estar, mesmo que não queira consumir.

O que correu mal no mercado de fusão?
José Rebelo Pinto está na praça há sete anos, porque é dele a empresa NCS – Produção, Som e Vídeo, que explorou os quiosques do Martim Moniz até Outubro de 2018. Quando, em 2010, José apresentou uma proposta ao município para a requalificação da praça, o Martim Moniz "era um espaço vazio, que não estava nos planos da câmara municipal. As pessoas não vinham ao Martim Moniz”, diz. Essa proposta acabou por ficar na gaveta, até a autarquia lançar, em 2011, um concurso público internacional para a praça.

A NCS foi a única concorrente e criou ali um “mercado de fusão”, aproveitando os quiosques que lá estavam. “As coisas de início começaram a correr muito bem porque foi uma lufada de ar fresco para a zona”, recorda José. No entanto, a crise chegou, a empresa passou por dificuldades financeiras e apareceram também outros mercados como o de Campo de Ourique, o da Ribeira e as próprias esplanadas do Terreiro do Paço.


A NCS acabou por acumular uma dívida com a câmara na ordem dos 120 mil euros. Foi então que José Rebelo Pinto começou à procura de investidores. Demorou cinco anos a encontrar quem quisesse investir na praça, até que o conceito agradou a Geoffroy e Arthur Moreno, donos da Stone Capital, que têm vários projectos na cidade.

Fundaram a Moonbrigade e decidiram manter a ideia de ser um “mercado de fusão”, mas com os contentores.“São materiais reutilizáveis e são transformáveis. Conseguem ter paredes verticais com verdes, madeira, vidro", explica José Rebelo Pinto, rejeitando a ideia de que esta será uma praça de contentores. "A nossa ideia de contentores não é, de todo, a de uma zona industrial”, sublinha.

O responsável notou ainda que a área de concessão ocupa 28% da praça. Por isso, admite, "há lugar para tudo", incluindo a possibilidade de se fazer um jardim. "Já mostramos o nosso interesse em colaborar com a câmara e investir num espaço verde e num espaço infantil”, garante.

Como a concessão ocupa o coração da praça, de cada lado sobram cerca de três mil metros quadrados de área o que, segundo repara Geoffroy Moreno, é o equivalente à área do Jardim de Santos. Sendo assim, nota o promotor, a câmara poderá criar o tão pedido espaço verde.

O projecto do mercado de contentores vai criar entre 250 a 300 postos de trabalho, estima Geoffroy, e haverá espaço para a instalação de 30 a 50 lojas. O responsável adianta ainda que está a ser pensada a criação de uma bolsa de emprego para os postos de trabalho que ali serão criados.

José Rebelo Pinto sustenta que este será um “um projecto virado para as famílias” e que visa a “integração de eventos com as comunidades locais”, como a comemoração do Ano Novo Chinês, a festa do fim do Ramadão, ou o Bollywood Holi. Será também colocada ali uma peça do artista português Bordalo II, bem como do brasileiro Kobra. Está ainda a ser firmada uma parceria com a galeria Underdogs.

“A nossa ideia é realmente fazer um mercado que tenha talho, frutas, legumes, que viva o pequeno comércio e juntar o cabeleireiro com um espaço de tatuagens”, diz José.

A Moonbrigade quer criar um mercado com talhos, frutas, legumes, e junte um cabeleireiro ou um espaço de tatuagens DR
O promotor compromete-se ainda a ter ali um mercado sustentável onde o material usado no espaço da restauração seja biodegradável e os copos reutilizáveis.

Ao longo dos próximos seis meses serão ali investidos três milhões de euros. Apesar de as obras já terem arrancado, a autarquia diz que ainda não está aprovado o projecto dos contentores, uma vez que terá de ser votado em reunião de câmara. Todos os partidos, à excepção do PS, já contestaram publicamente o projecto, incluindo o Bloco de Esquerda, com o qual Fernando Medina tem um acordo para a gestão da cidade.

Se essa posição se traduzir no chumbo do projecto da Moonbrigade, serão votadas as propostas já conhecidas do PCP e do PSD, que prevêem o lançamento de uma discussão pública sobre o futuro da praça.

Medina também já avisou que um eventual chumbo poderá acarretar consequências financeiras para o município e para os próprios vereadores. Sobre este assunto, José Rebelo Pinto diz que já há ali investimento feito e remete mais explicações para a advogada da empresa. “Estou focado em tentar dar ao Martim Moniz aquilo que sempre sonhei: um projecto de requalificação urbana com uma componente de integração forte. Não desisto dela”, assegura.

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