A propósito da
destruição da estátua na estação do Rossio, um outro gravíssimo
caso de lesa- Património cometido na Sé de Lisboa, permitido e
"esquecido" pelas Autoridades responsáveis:
“Portugal eleito
para o comité do património mundial da Unesco. "Casa de
ferreiro, espeto de pau"?!
OVOODOCORVO
Portugal eleito para o comité do património mundial da Unesco
Por Filipe Morais
publicado em 19 Nov 2013 in (jornal) i online
Portugal foi hoje eleito membro do comité do património
mundial da Unesco, numa eleição que decorreu em Paris. Portugal tem agora um
mandato de quatro anos, até 2017, durante os quais terá a responsabilidade de
avaliar todas as candidaturas que sejam apresentadas, dentro de um grupo de 21
países.
Trapalhadas "monumentais" na Sé de Lisboa.
A Opinião de António Sérgio Rosa de Carvalho. 1/11/2009 in
Público.
"We have no right whatever to touch them. They are not
ours !
John Ruskin."
Esta frase de Ruskin, famosa para todos aqueles que se
ocupam dos conceitos do restauro em monumentos históricos, parece ser, no
presente, completamente desconhecida para os responsáveis eclesiásticos da Sé
da Lisboa.
Antes de tudo, não parece demais relembrar que quando
falamos da Sé de Lisboa estamos a falar de um monumento construído em 1150,
três anos depois da reconquista de Lisboa por D. Afonso Henriques.
A Sé foi ao longo dos séculos modificada com acrescentos de
diversas épocas e reinos, sofreu danos provocados por diversos terramotos e foi
restaurada sobre a influência de diversos conceitos. Uns hoje em dia mais
aceitáveis que outros. Mas, provavelmente, nunca terá sido alvo de um tipo de
intervenção com a ligeireza, irresponsabilidade e consequente gravidade como a
que decorreu há pouco tempo.
O que aconteceu? Só conhecemos os graves efeitos...
desconhecemos, apesar de terem sido pedidas explicações ao patriarcado, quem
são realmente os responsáveis e o que tencionam fazer com as graves
consequências dos seus actos, que afectaram gravemente a integridade física
deste monumento tão importante para a História de Lisboa e para a época da
fundação de Portugal. O que podemos concluir das hesitantes e trágicas
"declarações" do cónego Lourenço e do padre Edgar Clara à comunicação
social é de que, impacientes com a demora de um necessário restauro de um
gradeamento no portão norte, resolveram "deitar mãos à obra" por
iniciativa própria, pondo um "jeitoso" pedreiro, sem qualquer
acompanhamento técnico especializado por parte do Igespar, a "atacar"
os blocos seculares através de um disco mecânico de diamante (!). Assim, a
modos como quem muda um portão numa "vivenda", numa periferia
manhosa.
O testemunho das fotografias tiradas ainda quando a obra
decorria não mente. O desenrascado artífice atacava a base das colunetas,
arrancando blocos seculares que eram nitidamente visíveis no chão, e depois
passava a cobrir os vazios com placas de pedra com a espessura de centímetro e
meio, e bordadura. "Axim", a modos de umas obras de casa de banho (!).
A mente humana é misteriosa. Quando a realidade é
insuportável, procuramos uma fuga no surreal. Assim, vi-me de repente, perante
a gravidade e o absurdo surrealista da situação, a imaginar os distintos
eclesiásticos numa situação parecida com a famosa cena do filme Bean onde este
conhecido comediante vandaliza o insubstituível quadro Whistler"s mother
de forma irreversível, e tenta esconder as terríveis consequências.
Mas não temos razões para rir. O próprio Igespar também
ainda não deu explicações do que é que tenciona fazer em relação à situação. E
onde estão as pedras originais vandalizadas? De que época e a que intervenção
correspondem? Teremos que concluir que a extinção da Direcção-Geral dos
Monumentos Nacionais foi precipitada? Que o Igespar é um paquiderme inoperante?
Será que Portugal está doente?
Historiador de Arquitectura
Sem comentários:
Enviar um comentário