Julho de 2019 foi
o mês mais quente de sempre
O mês de Julho de
2016 era considerado o mês mais quente, mas o recorde de temperaturas foi agora
ultrapassado por uma pequena margem: 0,04 graus Celsius. Ainda assim, houve
locais em que as temperaturas estiveram abaixo do normal (como aconteceu em
partes da Península Ibérica).
Claudia Carvalho
Silva 5 de Agosto de 2019, 13:14
O mês de Julho de
2019 foi, globalmente, o mês mais quente de sempre (desde que há registos
meteorológicos), segundo a informação divulgada nesta segunda-feira pelo
programa europeu de observação por satélite da Terra chamado Copérnico. O
último mês mais quente a nível mundial tinha sido registado em Julho de 2016.
“A temperatura
global esteve substancialmente acima da média em Julho de 2019, o que foi o suficiente
para se tornar o mês de Julho mais quente por uma pequena margem”, refere o
programa Copérnico num relatório, adiantando que Julho deste ano foi “0,04
graus Celsius mais quente do que Julho de 2016”. Logo, é também o mês mais
quente desde que há registos meteorológicos.
Onda de calor em
Julho na Europa foi agravada por alterações climáticas
“Ainda que Julho seja normalmente o mês mais
quente do ano por todo o globo, os nossos dados dizem que foi também o mês mais
quente alguma vez registado, ainda que por uma pequena margem”, explicou em
comunicado o responsável pelo programa Copérnico, Jean-Noel Thepaut.
Em 2016, o
recorde era justificado não só pelas alterações climáticas, mas também por uma
forte ocorrência do fenómeno climático El Niño, que faz aumentar as
temperaturas globais – o que não aconteceu este ano.
“Com o aumento
das emissões de gases com efeito de estufa e o consequente impacto nas
temperaturas globais, estes recordes continuarão a ser batidos no futuro”,
argumentou Thepaut.
Temperatura à
superfície do mês de Julho de 2019 comparado com a média de 1981-2010. As zonas
azuis correspondem a locais onde as temperaturas foram mais baixas do que o
normal e as zonas avermelhadas aos sítios em que as temperaturas foram mais
quentes do que a média PROGRAMA COPÉRNICO
As temperaturas
na Europa foram mais altas do que a média registada entre 1981 e 2010, mas “há
grandes diferenças pelo continente”: a Europa Central esteve acima da média
“devido à curta, mas intensa onda de calor da última semana do ano”, ainda que
a Península Ibérica e o Leste da Europa tenham escapado às temperaturas altas –
registando-se até temperaturas mais baixas do que o normal –, lê-se no
relatório do programa Copérnico. Algumas partes do Norte da Europa, do Canadá e
da Ásia registaram também temperaturas abaixo do normal.
As temperaturas
globais também estiveram acima da média no Alasca, na Gronelândia, em algumas
partes da Sibéria e em grande parte da Antárctica. A maior parte de África e da
Austrália registou também temperaturas acima da média.
O programa
Copérnico ressalva que esta margem foi notada nos dados que têm disponíveis e
que, como é tão pequena, outros serviços meteorológicos (como a agência
norte-americana NOAA) poderão registar temperaturas ligeiramente diferentes,
podendo ser iguais ou pouco abaixo daquelas de Julho de 2016.
As alterações
climáticas são o principal suspeito
Na sexta-feira, a
Organização Meteorológica Mundial avisava já que as temperaturas de Julho deste
ano teriam possivelmente igualado, se não mesmo ultrapassado, as temperaturas
registadas em Julho de 2016. Agora, a informação foi confirmada e sabe-se que essas
temperaturas máximas foram ultrapassadas, ainda que por pouco.
Temperaturas mais
altas de sempre registadas na Alemanha, Bélgica, Holanda e Paris
Na sexta-feira,
uma equipa de investigadores europeus concluía que a onda de calor que assolou
a Europa neste mês de Julho – fazendo bater recordes de temperatura máxima em
países como a Bélgica, a Holanda e a Alemanha – foi agravada pelas alterações
climáticas, provocadas pela actividade humana. “A onda de calor de Julho de
2019 foi tão extrema sobre o Oeste da Europa continental que as magnitudes
observadas teriam sido extremamente improváveis sem alterações climáticas”,
concluíram os investigadores liderados por Robert Vautard, do Instituto
Pierre-Simon Laplace (em França).
Robert Vautard
afirmou que a Europa tem de se habituar a ondas de calor desta intensidade, que
se tornarão mais frequentes e mais intensas, estimando que em 2050 as
temperaturas máximas poderão ser três graus ainda mais altas.
Durante a onda de
calor de Julho na Europa Central, o especialista em alterações climáticas
Filipe Duarte Santos explicava ao PÚBLICO que sempre houve ondas de calor, mas
que se estão a tornar “cada vez mais frequentes” e com registo de temperaturas
cada vez mais altas – além disso, afectam vários países ao mesmo tempo. “É uma
questão probabilística: no passado podia acontecer, mas era uma probabilidade
ínfima. Agora, a probabilidade destes fenómenos é cada vez maior por causa das
alterações climáticas”, defendeu.
A preocupação é
partilhada pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. “Sempre
vivemos Verões quentes. Mas este não é o Verão da nossa juventude. Este não é o
Verão dos vossos avós.” “Só este ano temos visto recordes de temperatura desde
Nova Deli a Anchorage, de Paris a Santiago, de Adelaide ao Círculo Polar
Árctico”, disse Guterres aos jornalistas em Nova Iorque. “Se não fizermos nada
em relação às alterações climáticas, estes fenómenos meteorológicos extremos
são apenas a ponta do icebergue.”
António Guterres
convocou uma cimeira sobre o clima para finais de Setembro em Nova Iorque, em
que pretende que os governos apresentem medidas robustas para lidar com a crise
climática global, como, por exemplo, a protecção das florestas e a protecção
dos mais pobres de fenómenos meteorológicos violentos e
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