A Amazónia está a arder — e já se vê do espaço
O governo do
estado do Amazonas decretou situação de emergência no início do mês devido ao
“impacto negativo da desflorestação ilegal e queimadas não autorizadas”.
Lusa e PÚBLICO 21
de Agosto de 2019, 9:45
O número de fogos
no Brasil cresceu 82% este ano, em comparação com o mesmo período do ano
passado, tendo o país registado mais de 71 mil focos de incêndio até ao passado
domingo. E a região da floresta amazónica é a mais afectada.
Os “pulmões do
planeta” estão a arder. Estas ilustrações são um protesto
De acordo com a
imprensa brasileira, que cita dados do Programa de Queimadas do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o bioma (conjunto de ecossistemas) mais
afectado é o da Amazónia, com 51,9% dos casos, seguindo-se o cerrado –
ecossistema que cobre um quarto do território do Brasil –, com 30,7% dos focos
registados no ano. O cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, ficando atrás
em extensão apenas da floresta amazónica, com dois milhões de quilómetros
quadrados.
Segundo a edição
online do jornal Estado de São Paulo, em números absolutos Mato Grosso é o
estado com mais focos de incêndio registados no Brasil, com mais de 13 mil,
seguido pelo Pará, com 7975.
No início de
Agosto, o governo do Amazonas decretou situação de emergência no Sul do estado
e na Região Metropolitana de Manaus devido ao “impacto negativo da
desflorestação ilegal e queimadas não autorizadas”.
“O Amazonas
registou, de Janeiro a Julho deste ano, 1699 focos de calor (focos com
temperatura acima de 47°C, registados por satélite, que indicam a possibilidade
de fogo). Destes, 80% foram registados Julho, mês em que teve início o período
de estiagem”, declarou o estado do Amazonas no seu site.
Depois de o
Amazonas decretar a situação de emergência, o governo do Acre declarou, na
sexta-feira passada, estado de alerta ambiental, também devido aos incêndios em
matas. O número de focos de incêndio no país já é o maior dos últimos sete
anos.
Ao Estadão, o
investigador Alberto Setzer explicou que o tempo em 2019 está mais seco do que
no ano passado, o que propicia incêndios, mas garante que grande parte deles
não tem origem natural. “Nesta época do ano não há fogo natural. Todas essas
queimadas são originadas em actividade humana, seja acidental ou propositada. A
culpa não é do clima, ele só cria as condições, mas alguém coloca o fogo”,
afirmou Setzer.
A expectativa do
especialista é que a situação piore ainda mais nas próximas semanas com a
intensificação da seca.
O INPE, órgão do
Governo brasileiro que levanta os dados sobre a desflorestação e queimadas no
país, foi alvo de críticas recentes por parte do presidente Jair Bolsonaro, que
acusou o instituto de estar a serviço de algumas organizações não
governamentais por divulgar dados que apontam para o aumento da desflorestação
da Amazónia.
A informação
recentemente divulgada pelo INPE e aponta que a desflorestação da Amazónia
cresceu 88% em Junho e 278% em Julho, comparativamente com o mesmo período do
ano passado. No entanto, o Governo brasileiro nega esses dados.
A Amazónia é a
maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa
área do planeta. Tem cerca de cinco milhões e meio de quilómetros quadrados e
inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia,
Guiana, Suriname e Guiana Francesa (território pertencente à França).
Bolsonaro acusa
ONG de incendiarem a Amazónia para o prejudicar
O Presidente
brasileiro não apresentou provas. E, quando questionado sobre a propagação de
incêndios descontrolados, disse que é a época das queimadas.
Reuters 21 de
Agosto de 2019, 14:55
O Presidente do
Brasil, Jair Bolsonaro, disse nesta quarta-feira, sem apresentar provas, que
organizações não governamentais podem estar a incendiar a floresta amazónica
para embaraçar o seu Governo, depois de lhes ter cortado o financiamento.
Bolsonaro disse
que “tudo indica” que as ONG estão a ir à Amazónia para “incendiar” a floresta.
Quando lhe perguntaram se tinha provas que sustentassem a acusação, respondeu
que não tinha “nada escrito”, já que “não é assim que estas coisas são feitas”.
“O crime existe”,
disse o Presidente brasileiro num directo no Facebook. “Essas pessoas estão a
perder dinheiro.”
Os comentários de
Bolsonaro vão, provavelmente, enfurecer os críticos que estão cada vez mais
preocupados com as decisões do Governo brasileiro relativas à Amazónia, um dos
mais importantes lugares do mundo no combate às alterações climáticas. O Brasil
abriga mais da metade daquela área de floresta tropical.
Bolsonaro, que há
muito é céptico em relação às questões ambientais, quer explorar economicamente
a Amazónia e disse a outros países preocupados com o aumento da desflorestação
desde que assumiu o poder para tratarem dos seus próprios assuntos internos.
O Presidente
brasileiro declarou nesta quarta-feira que o Governo está a trabalhar para
controlar os incêndios florestais na Amazónia, que atingiram um número recorde
este ano. O Centro de Pesquisas Espaciais do Brasil (INPE) detectou 72.843
incêndios neste ano. Mas, quando questionado sobre a propagação dos incêndios,
Bolsonaro rejeitou críticas, dizendo que é a época das queimadas, quando os
agricultores usam o fogo para limpar os terrenos.
“Eu costumava ser
chamado de ‘Capitão Motosserra’. Agora eu sou Nero, que incendeia a Amazónia”,
ironizou. “Mas é a estação da queimada”, disse aos jornalistas.
No início de
Agosto, a Noruega e a Alemanha suspenderam o financiamento de projectos para
conter a desflorestação no Brasil, alarmadas com a diminuição da mancha
florestal no último ano. O céu nunca fica negro quando a Amazónia arde
Nos últimos sete
dias a Reuters fez repetidamente 30 quilómetros ao longo da auto-estrada
Transamazónica, a ver o fogo a comer a floresta.
Reuters 22 de
Agosto de 2019, 13:10
Não há luzes à
vista, mas o céu da noite exibe um tom amarelado porque a Amazónia está a
arder. O ar cheira a queimado, da madeira a arder. Durante o dia, o sol,
geralmente tão ardente nesta parte do mundo, é obscurecido por uma cortina
densa de fumo cinzento.
Nos últimos sete
dias a Reuters fez repetidamente os 30 quilómetros que separam Humaitá de
Lábrea, ao longo da auto-estrada Transamazónica, vendo o fogo a comer a
floresta.
No início, na
quarta-feira da semana passada, o fogo estava a alguns metros da estrada, as
chamas amarelas a envolver as árvores e a iluminar o céu. No fim-de-semana, o
fogo tinha-se afastado mas emitia um brilho alaranjado com a altura de um
prédio de vários andares. Este incêndio é apenas um dos milhares dos que
actualmente dizimam a Amazónia, a maior floresta húmida do mundo e um baluarte
contra as alterações climáticas.
O número de fogos
subiu este ano 83% em relação ao mesmo período do ano passado no Brasil,
segundo a agência brasileira INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
O instituto público registou 72.843 fogos, o número mais alto desde que começou
a fazer este tipo de registos em 2013. Mais de 9500 foram apanhados por
satélites desde a última quinta-feira.
Na quarta-feira,
o Presidente brasileiro Jair Bolsonaro enfureceu os ambientalistas ao afirmar,
sem qualquer tipo de provas, que eram as organizações não-governamentais que
estavam a causar os fogos, por lhes terem cortado o financiamento.
Os fogos e a
reacção de Bolsonaro causaram uma onda de indignação global, com a frase
#PrayforAmazonas a chegar ao topo dos temas do momento no Twitter.
A Reuters observou
as plumas de fumo que saem da floresta, atingindo dezenas de metros, durante
uma viagem de uma semana no sul do estado do Amazonas e norte da Rondónia. “Só
se consegue ver fumo”, disse Thiago Parintintin, que vive numa reserva indígena
perto da auto-estrada Transamazónica, apontando para o horizonte. Um carro de
bombeiros tinha acabado de passar. “Não costumava ser assim”, acrescentou
Parintintin.
Parintintin, de
22 anos e que trabalha como técnico ambiental, culpa o crescente
desenvolvimento do Amazonas por trazer a agricultura e desflorestação,
resultando num aumento das temperaturas durante a estação seca. Os
ambientalistas dizem ainda que são os agricultores a começar as queimadas para
limpar a terra para criar pastagens.
O fogo começa na
vegetação rasteira que seca durante o estio. O fumo envolve partes ainda verdes
da floresta e as palmeiras, à medida que o fogo progride junto ao solo e as
copas das árvores começam a arder. O fumo dos incêndios paira no ar como uma
neblina.
Gabriel
Albuquerque, um piloto na capital do estado da Rondónia, Porto Velho, diz que
nos quatro anos que pilota a sua avioneta nunca viu nada tão mau. “É a primeira
vez que vejo isto assim.”
Do céu avistam-se
desde pequenos fogos a áreas maiores do que campos de futebol, com o fumo a
tornar impossível perceber a verdadeira extensão dos incêndios. Às vezes, o
fumo é tão denso que a floresta parece ter desaparecido.
Incêndios faz com
que caia chuva escura em São Paulo
RTP22 Ago, 2019,
12:29 | Ambiente
Incêndios faz com
que caia chuva escura em São PauloÁgua escura recolhida em São Paulo | Globo
News - Leandro Matozo
Na tarde desta
segunda-feira caiu chuva escura na cidade de São Paulo. O Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET) afirmou que esta cor foi provocada pelo incêndios que
assolam atualmente o país. O "dia virou noite" devido às nuvens de
fumo que encobriram a cidade.
Na tarde desta
segunda-feira, pelas 15h30 locais, ainda o sol não se tinha posto, em São
Paulo, mas rapidamente o “dia virou noite”. Uma forte frente fria, de Sudeste,
avassalou a cidade e trouxe várias nuvens escuras, carregadas com o fumo de
alguns incêndios.
"O dia virou
noite ontem à tarde aqui em São Paulo", escreveu uma das moradoras da
cidade no Twitter.
Luciana Florencio
🌹
@Luciana_FR
O dia virou noite ontem à tarde aqui em São
Paulo.
Moradores
coletaram água da chuva, q estava escura e com cheiro d queimada! 😱
Sim, a fumaça das
queimadas na região norte chegou sobre a cabeça dos q fingem não ver oq está
acontecendo#prayforamazon
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/08/20/moradores-de-sp-coletam-agua-preta-de-chuva-em-dia-que-a-cidade-ficou-sob-nuvem-escura.ghtml
…
Moradores de SP
coletam água preta de chuva em dia que a cidade ficou sob nuvem escura
De acordo com o
Inmet, além da frente fria, a escuridão desta segunda também foi causada pela
fumaça de queimadas na região amazônica.
"O fumo não
veio de incêndios do estado de São Paulo, mas de incêndios muito densos e
amplos que estão a acontecer há vários dias em Rondônia e na Bolívia. A frente
fria mudou a direção dos ventos e transportou esse fumo para São Paulo",
afirmou à Globo, Josélia Pegorim, meteorologista da Climatempo.
“Aqui na região
da Grande São Paulo tivemos a combinação desse excesso de humidade com o fumo,
então deu essa aparência no céu”, acrescentou.
De acordo com a
análise feito pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), parte deste
fenómeno foi provocado pelo incêndio na Amazónia. Porém, "outra parte
considerável, talvez a predominante, [provém] de incêndios de grandes proporções,
originadas nos últimos dias perto da tríplice fronteira da Bolívia, Paraguai e
Brasil, próximo da região de Corumbá, em Mato Grosso do Sul".
No entanto, os
meteorologistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) ainda não
verificaram a possível ligação entre os incêndios e o aumento na nebulosidade
que deixou a cidade às escuras.
"O vento até
pode trazer o fumo dos incêndios, mas teria que ser bem intenso o incêndio.
Geralmente, isso ocorre mais com a fumaça dos vulcões", revelou uma das
meteorologistas do INPE, Caroline Vidal.
E choveu água
preta
As nuvens de
chuva têm a capacidade de acumular tudo o que se encontra na atmosfera.
"A chuva é
um processo de limpeza da atmosfera", afirmou a meteorologista do
Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), Beatriz Oyama.
De acordo com o
físico e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Theotonio
Pauliquevis, "as nuvens de chuva ficam de 1,5 a dez quilómetros do solo.
Quando a poluição parte do nível de superfície devidos aos carros ou fábricas,
ela fica presa nas nuvens e forma uma camada visível, mais escura, no
horizonte".
"Quando a
água cai, bate nas partículas e a chuva trás essa poluição", explicou.
O fumo dos
incêndios ao atingir as nuvens de chuva forma uma “espécie de gosma que dá
origem às nuvens escuras e avermelhadas e também à chuva 'preta', mais escura
que o normal", explicou o pesquisador.
As amostras
recolhidas por alguns moradores na cidade de São Paulo revelaram substâncias
provenientes da queima de biomassa, presente maioritariamente nas florestas.
A pesquisa feita
pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) identificou a
presença de reteno na água da chuva. Esta substância é o primeiro indicador de
que ocorreu um incêndio.
"Água escura
da chuva em São Paulo contém partículas provenientes de incêndios", lê-se
num tweet do jornal brasileiro, Jornal da Chapada.
Jornal da Chapada
@JChapada
#Brasil: Água escura da chuva em São Paulo
contém partículas provenientes de queimadas -
https://jornaldachapada.com.br/2019/08/21/brasil-agua-escura-da-chuva-em-sao-paulo-contem-particulas-provenientes-de-queimadas/
…
#Brasil: Água
escura da chuva em São Paulo contém partículas provenientes de queimadas
A cor escura da
água da chuva coletada por moradores de São Paulo na última segunda-feira (19)
após uma nebulosidade forte encobrir a cidade, contém partículas provenientes
de queimadas, afirmaram …
Uma outra análise
realizada pela Universidade Municipal de São Caetano (USCS) revelou também a
concentração de fuligem - substância preta proveniente da decomposição de
matérias combustíveis. A quantidade encontrada foi sete vezes superior ao
normal. Já a presença de sulfetos foi dez vezes maior do que a média registada.
"Se estamos
com sete vezes mais do que deveria ter, tenho nessa água substâncias químicas
que podem afetar a saúde. Agora vamos ter de investigar", assegurou Marta
Marcondes, bióloga e professora da linha de pesquisa de saúde e meio ambiente
da USCS.
O diretor do
Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), Marcos Buckeridge,
também acredita que este fenómeno climático possa ter efeitos nocivos para o
ser humano.
"Se
tivéssemos recebido o fumo sobre a cidade, sem a presença de uma frente fria
que trouxe a chuva, isso poderia ter um efeito muito pior nas pessoas",
assegurou.
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