quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Large swathes of the Amazon rainforest are burning



A Amazónia está a arder — e já se vê do espaço

O governo do estado do Amazonas decretou situação de emergência no início do mês devido ao “impacto negativo da desflorestação ilegal e queimadas não autorizadas”.

Lusa e PÚBLICO 21 de Agosto de 2019, 9:45

O número de fogos no Brasil cresceu 82% este ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, tendo o país registado mais de 71 mil focos de incêndio até ao passado domingo. E a região da floresta amazónica é a mais afectada.

Os “pulmões do planeta” estão a arder. Estas ilustrações são um protesto
De acordo com a imprensa brasileira, que cita dados do Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o bioma (conjunto de ecossistemas) mais afectado é o da Amazónia, com 51,9% dos casos, seguindo-se o cerrado – ecossistema que cobre um quarto do território do Brasil –, com 30,7% dos focos registados no ano. O cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, ficando atrás em extensão apenas da floresta amazónica, com dois milhões de quilómetros quadrados.

Segundo a edição online do jornal Estado de São Paulo, em números absolutos Mato Grosso é o estado com mais focos de incêndio registados no Brasil, com mais de 13 mil, seguido pelo Pará, com 7975.

No início de Agosto, o governo do Amazonas decretou situação de emergência no Sul do estado e na Região Metropolitana de Manaus devido ao “impacto negativo da desflorestação ilegal e queimadas não autorizadas”.

“O Amazonas registou, de Janeiro a Julho deste ano, 1699 focos de calor (focos com temperatura acima de 47°C, registados por satélite, que indicam a possibilidade de fogo). Destes, 80% foram registados Julho, mês em que teve início o período de estiagem”, declarou o estado do Amazonas no seu site.

Depois de o Amazonas decretar a situação de emergência, o governo do Acre declarou, na sexta-feira passada, estado de alerta ambiental, também devido aos incêndios em matas. O número de focos de incêndio no país já é o maior dos últimos sete anos.

Ao Estadão, o investigador Alberto Setzer explicou que o tempo em 2019 está mais seco do que no ano passado, o que propicia incêndios, mas garante que grande parte deles não tem origem natural. “Nesta época do ano não há fogo natural. Todas essas queimadas são originadas em actividade humana, seja acidental ou propositada. A culpa não é do clima, ele só cria as condições, mas alguém coloca o fogo”, afirmou Setzer.

A expectativa do especialista é que a situação piore ainda mais nas próximas semanas com a intensificação da seca.

O INPE, órgão do Governo brasileiro que levanta os dados sobre a desflorestação e queimadas no país, foi alvo de críticas recentes por parte do presidente Jair Bolsonaro, que acusou o instituto de estar a serviço de algumas organizações não governamentais por divulgar dados que apontam para o aumento da desflorestação da Amazónia.

A informação recentemente divulgada pelo INPE e aponta que a desflorestação da Amazónia cresceu 88% em Junho e 278% em Julho, comparativamente com o mesmo período do ano passado. No entanto, o Governo brasileiro nega esses dados.

A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta. Tem cerca de cinco milhões e meio de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (território pertencente à França).

Bolsonaro acusa ONG de incendiarem a Amazónia para o prejudicar

O Presidente brasileiro não apresentou provas. E, quando questionado sobre a propagação de incêndios descontrolados, disse que é a época das queimadas.

Reuters 21 de Agosto de 2019, 14:55

O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, disse nesta quarta-feira, sem apresentar provas, que organizações não governamentais podem estar a incendiar a floresta amazónica para embaraçar o seu Governo, depois de lhes ter cortado o financiamento.

Bolsonaro disse que “tudo indica” que as ONG estão a ir à Amazónia para “incendiar” a floresta. Quando lhe perguntaram se tinha provas que sustentassem a acusação, respondeu que não tinha “nada escrito”, já que “não é assim que estas coisas são feitas”.

“O crime existe”, disse o Presidente brasileiro num directo no Facebook. “Essas pessoas estão a perder dinheiro.”

Os comentários de Bolsonaro vão, provavelmente, enfurecer os críticos que estão cada vez mais preocupados com as decisões do Governo brasileiro relativas à Amazónia, um dos mais importantes lugares do mundo no combate às alterações climáticas. O Brasil abriga mais da metade daquela área de floresta tropical.

Bolsonaro, que há muito é céptico em relação às questões ambientais, quer explorar economicamente a Amazónia e disse a outros países preocupados com o aumento da desflorestação desde que assumiu o poder para tratarem dos seus próprios assuntos internos.

O Presidente brasileiro declarou nesta quarta-feira que o Governo está a trabalhar para controlar os incêndios florestais na Amazónia, que atingiram um número recorde este ano. O Centro de Pesquisas Espaciais do Brasil (INPE) detectou 72.843 incêndios neste ano. Mas, quando questionado sobre a propagação dos incêndios, Bolsonaro rejeitou críticas, dizendo que é a época das queimadas, quando os agricultores usam o fogo para limpar os terrenos.

“Eu costumava ser chamado de ‘Capitão Motosserra’. Agora eu sou Nero, que incendeia a Amazónia”, ironizou. “Mas é a estação da queimada”, disse aos jornalistas.

No início de Agosto, a Noruega e a Alemanha suspenderam o financiamento de projectos para conter a desflorestação no Brasil, alarmadas com a diminuição da mancha florestal no último ano. O céu nunca fica negro quando a Amazónia arde



Nos últimos sete dias a Reuters fez repetidamente 30 quilómetros ao longo da auto-estrada Transamazónica, a ver o fogo a comer a floresta.

Reuters 22 de Agosto de 2019, 13:10

Não há luzes à vista, mas o céu da noite exibe um tom amarelado porque a Amazónia está a arder. O ar cheira a queimado, da madeira a arder. Durante o dia, o sol, geralmente tão ardente nesta parte do mundo, é obscurecido por uma cortina densa de fumo cinzento.

Nos últimos sete dias a Reuters fez repetidamente os 30 quilómetros que separam Humaitá de Lábrea, ao longo da auto-estrada Transamazónica, vendo o fogo a comer a floresta.

No início, na quarta-feira da semana passada, o fogo estava a alguns metros da estrada, as chamas amarelas a envolver as árvores e a iluminar o céu. No fim-de-semana, o fogo tinha-se afastado mas emitia um brilho alaranjado com a altura de um prédio de vários andares. Este incêndio é apenas um dos milhares dos que actualmente dizimam a Amazónia, a maior floresta húmida do mundo e um baluarte contra as alterações climáticas.

O número de fogos subiu este ano 83% em relação ao mesmo período do ano passado no Brasil, segundo a agência brasileira INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O instituto público registou 72.843 fogos, o número mais alto desde que começou a fazer este tipo de registos em 2013. Mais de 9500 foram apanhados por satélites desde a última quinta-feira.

Na quarta-feira, o Presidente brasileiro Jair Bolsonaro enfureceu os ambientalistas ao afirmar, sem qualquer tipo de provas, que eram as organizações não-governamentais que estavam a causar os fogos, por lhes terem cortado o financiamento.

Os fogos e a reacção de Bolsonaro causaram uma onda de indignação global, com a frase #PrayforAmazonas a chegar ao topo dos temas do momento no Twitter.

A Reuters observou as plumas de fumo que saem da floresta, atingindo dezenas de metros, durante uma viagem de uma semana no sul do estado do Amazonas e norte da Rondónia. “Só se consegue ver fumo”, disse Thiago Parintintin, que vive numa reserva indígena perto da auto-estrada Transamazónica, apontando para o horizonte. Um carro de bombeiros tinha acabado de passar. “Não costumava ser assim”, acrescentou Parintintin.

Parintintin, de 22 anos e que trabalha como técnico ambiental, culpa o crescente desenvolvimento do Amazonas por trazer a agricultura e desflorestação, resultando num aumento das temperaturas durante a estação seca. Os ambientalistas dizem ainda que são os agricultores a começar as queimadas para limpar a terra para criar pastagens.

O fogo começa na vegetação rasteira que seca durante o estio. O fumo envolve partes ainda verdes da floresta e as palmeiras, à medida que o fogo progride junto ao solo e as copas das árvores começam a arder. O fumo dos incêndios paira no ar como uma neblina.

Gabriel Albuquerque, um piloto na capital do estado da Rondónia, Porto Velho, diz que nos quatro anos que pilota a sua avioneta nunca viu nada tão mau. “É a primeira vez que vejo isto assim.”

Do céu avistam-se desde pequenos fogos a áreas maiores do que campos de futebol, com o fumo a tornar impossível perceber a verdadeira extensão dos incêndios. Às vezes, o fumo é tão denso que a floresta parece ter desaparecido.




Incêndios faz com que caia chuva escura em São Paulo
RTP22 Ago, 2019, 12:29 | Ambiente
Incêndios faz com que caia chuva escura em São PauloÁgua escura recolhida em São Paulo | Globo News - Leandro Matozo

Na tarde desta segunda-feira caiu chuva escura na cidade de São Paulo. O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) afirmou que esta cor foi provocada pelo incêndios que assolam atualmente o país. O "dia virou noite" devido às nuvens de fumo que encobriram a cidade.
Na tarde desta segunda-feira, pelas 15h30 locais, ainda o sol não se tinha posto, em São Paulo, mas rapidamente o “dia virou noite”. Uma forte frente fria, de Sudeste, avassalou a cidade e trouxe várias nuvens escuras, carregadas com o fumo de alguns incêndios.

"O dia virou noite ontem à tarde aqui em São Paulo", escreveu uma das moradoras da cidade no Twitter.

Luciana Florencio 🌹
@Luciana_FR
 O dia virou noite ontem à tarde aqui em São Paulo.

Moradores coletaram água da chuva, q estava escura e com cheiro d queimada! 😱

Sim, a fumaça das queimadas na região norte chegou sobre a cabeça dos q fingem não ver oq está acontecendo#prayforamazon
 https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/08/20/moradores-de-sp-coletam-agua-preta-de-chuva-em-dia-que-a-cidade-ficou-sob-nuvem-escura.ghtml …

Moradores de SP coletam água preta de chuva em dia que a cidade ficou sob nuvem escura
De acordo com o Inmet, além da frente fria, a escuridão desta segunda também foi causada pela fumaça de queimadas na região amazônica.

"O fumo não veio de incêndios do estado de São Paulo, mas de incêndios muito densos e amplos que estão a acontecer há vários dias em Rondônia e na Bolívia. A frente fria mudou a direção dos ventos e transportou esse fumo para São Paulo", afirmou à Globo, Josélia Pegorim, meteorologista da Climatempo.

“Aqui na região da Grande São Paulo tivemos a combinação desse excesso de humidade com o fumo, então deu essa aparência no céu”, acrescentou.

De acordo com a análise feito pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), parte deste fenómeno foi provocado pelo incêndio na Amazónia. Porém, "outra parte considerável, talvez a predominante, [provém] de incêndios de grandes proporções, originadas nos últimos dias perto da tríplice fronteira da Bolívia, Paraguai e Brasil, próximo da região de Corumbá, em Mato Grosso do Sul".

No entanto, os meteorologistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) ainda não verificaram a possível ligação entre os incêndios e o aumento na nebulosidade que deixou a cidade às escuras.

"O vento até pode trazer o fumo dos incêndios, mas teria que ser bem intenso o incêndio. Geralmente, isso ocorre mais com a fumaça dos vulcões", revelou uma das meteorologistas do INPE, Caroline Vidal.
E choveu água preta

As nuvens de chuva têm a capacidade de acumular tudo o que se encontra na atmosfera.

"A chuva é um processo de limpeza da atmosfera", afirmou a meteorologista do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), Beatriz Oyama.

De acordo com o físico e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Theotonio Pauliquevis, "as nuvens de chuva ficam de 1,5 a dez quilómetros do solo. Quando a poluição parte do nível de superfície devidos aos carros ou fábricas, ela fica presa nas nuvens e forma uma camada visível, mais escura, no horizonte".

"Quando a água cai, bate nas partículas e a chuva trás essa poluição", explicou.

O fumo dos incêndios ao atingir as nuvens de chuva forma uma “espécie de gosma que dá origem às nuvens escuras e avermelhadas e também à chuva 'preta', mais escura que o normal", explicou o pesquisador.

As amostras recolhidas por alguns moradores na cidade de São Paulo revelaram substâncias provenientes da queima de biomassa, presente maioritariamente nas florestas.

A pesquisa feita pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) identificou a presença de reteno na água da chuva. Esta substância é o primeiro indicador de que ocorreu um incêndio.

"Água escura da chuva em São Paulo contém partículas provenientes de incêndios", lê-se num tweet do jornal brasileiro, Jornal da Chapada.

Jornal da Chapada
@JChapada
 #Brasil: Água escura da chuva em São Paulo contém partículas provenientes de queimadas - https://jornaldachapada.com.br/2019/08/21/brasil-agua-escura-da-chuva-em-sao-paulo-contem-particulas-provenientes-de-queimadas/ …


#Brasil: Água escura da chuva em São Paulo contém partículas provenientes de queimadas
A cor escura da água da chuva coletada por moradores de São Paulo na última segunda-feira (19) após uma nebulosidade forte encobrir a cidade, contém partículas provenientes de queimadas, afirmaram …

Uma outra análise realizada pela Universidade Municipal de São Caetano (USCS) revelou também a concentração de fuligem - substância preta proveniente da decomposição de matérias combustíveis. A quantidade encontrada foi sete vezes superior ao normal. Já a presença de sulfetos foi dez vezes maior do que a média registada.

"Se estamos com sete vezes mais do que deveria ter, tenho nessa água substâncias químicas que podem afetar a saúde. Agora vamos ter de investigar", assegurou Marta Marcondes, bióloga e professora da linha de pesquisa de saúde e meio ambiente da USCS.

O diretor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), Marcos Buckeridge, também acredita que este fenómeno climático possa ter efeitos nocivos para o ser humano.

"Se tivéssemos recebido o fumo sobre a cidade, sem a presença de uma frente fria que trouxe a chuva, isso poderia ter um efeito muito pior nas pessoas", assegurou.

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