Governo afasta
director de organismo que mede desflorestação na Amazónia
Bolsonaro tinha
dito que os dados revelados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que
mostravam um ritmo acelerado de desflorestação, são “mentirosos”.
João Ruela
Ribeiro 2 de Agosto de 2019, 17:05
Área
desflorestada da Amazónia no Mato Grosso para ser usada para plantação de
sojaFoto
O director do
organismo responsável por monitorizar a desflorestação na Amazónia, Ricardo
Galvão, revelou que vai ser exonerado pelo Governo, depois de o Presidente,
Jair Bolsonaro, ter posto em causa o trabalho do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais.
À saída de uma
reunião em Brasília, Galvão anunciou que vai ser afastado da chefia do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). “As minhas declarações sobre
o Presidente geraram constrangimento, então eu serei exonerado”, disse Galvão
aos jornalistas, citado pelo site G1. O responsável esteve reunido com o
ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes.
A demissão de
Galvão não surge como uma surpresa, especialmente depois de ter rejeitado
publicamente as críticas de Bolsonaro aos dados apresentados pelo instituto.
A medição mais
recente, realizada através de imagens de satélite que comparam a mancha de
floresta entre dois períodos distintos, mostra que no último ano a Amazónia
perdeu quase seis mil quilómetros de área florestal, o que representa uma
subida de 40% do ritmo de desflorestação.
Em reacção à
publicação do estudo, Bolsonaro disse que os dados eram “mentirosos” e acusou o
presidente do instituto de estar “ao serviço de uma ONG (organização
não-governamental)”.
Galvão veio a
público defender o trabalho do INPE, recordando que estas medições são feitas
há três décadas e representam “a maior série histórica de dados de
desflorestação de florestas tropicais respeitada mundialmente”. O dirigente
comparou o comportamento de Bolsonaro ao de alguém que está num “botequim” (uma
tasca). “Isso é uma piada de um garoto de 14 anos que não cabe a um Presidente
da República fazer”, disse Galvão na semana passada.
O Governo de
Bolsonaro fez do apoio à produção agrícola e à exploração mineral na Amazónia
uma prioridade, mas não esconde o desconforto com a publicação dos dados de
desflorestação. Numa conferência de imprensa esta quinta-feira, o
ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o general reformado
Augusto Heleno, aconselhou prudência na revelação de informações deste género
porque “prejudicam o comércio e nos colocam como os grandes destruidores do
meio ambiente da humanidade”.
Segundo a
imprensa brasileira, o Ministério do Ambiente está a ponderar contratar um novo
serviço para fazer a monitoração da desflorestação na Amazónia.
Existem
actualmente dois sistemas que fornecem indicações sobre a progressão da
desflorestação na Amazónia – considerada um indicador a nível mundial para a
degradação ambiental. Em causa está a Detecção de Desmatamento em Tempo Real
(Deter), que faz uma comparação mensal entre manchas de floresta, e que tem a
principal função de servir como um alerta para taxas elevadas de
desflorestação. O outro sistema é o Programa de Monitoramento da Floresta
Amazónica Brasileira por Satélite (Prodes), que produz uma comparação anual e
tem maior resolução.
O Governo
brasileiro sugere que apenas se tirem conclusões sobre o nível de
desflorestação a partir deste último.
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