sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Amazon rainforest fires: Macron calls for G7 talks to focus on 'international crisis' / Que fazer quando tudo arde?



Amazon rainforest fires: Macron calls for G7 talks to focus on 'international crisis'

Brazil’s Jair Bolsonaro lashes out at ‘sensationalist’ comments saying they were for ‘personal political gain’

Tom Phillips, Latin America correspondent
Fri 23 Aug 2019 01.20 BST Last modified on Fri 23 Aug 2019 07.26 BST

Brazil has had more than 72,000 fires this year, and more than half were in the Amazon rainforest. Bolsonaro says it’s a domestic issue and that Macron’s comments are ‘unacceptable’.
Photograph: Reuters
France’s president, Emmanuel Macron, has said the fires in the Amazon are an “international crisis” and called for them to be top of the agenda at the G7 summit, prompting a furious response from Brazil’s leader.

“Our house is burning. Literally,” Macron tweeted, adding that the Amazon produced 20% of the world’s oxygen.

Emmanuel Macron
@EmmanuelMacron
 Our house is burning. Literally. The Amazon rain forest - the lungs which produces 20% of our planet’s oxygen - is on fire. It is an international crisis. Members of the G7 Summit, let's discuss this emergency first order in two days! #ActForTheAmazon

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9:15 PM - Aug 22, 2019
Brazil’s president, Jair Bolsonaro, a right-wing nationalist who bristles at the idea of foreign interference in the Brazilian Amazon, took exception to his French counterpart’s comments.

“I regret that president Macron seeks to take advantage of what is a domestic Brazilian issue and of other Amazonian countries for personal political gain,” Bolsonaro tweeted, targeting what he called Macron’s “sensationalist tone”.

In a second tweet, he said: “The French president’s suggestion that Amazonian matters be discussed at the G7 without the involvement of countries of the region recalls the colonialist mindset that is unacceptable in the 21st century.”

Later Brazil’s foreign minister Ernesto Araújo weighed in with a thread on Twitter, condemning the “savage and unfair” international campaign against his nation.

Araújo claimed the campaign was being waged “because President Bolsonaro’s government is rebuilding Brazil.”

“The ‘environmental crisis’ appears to be the last weapon left in the arsenal of leftist lies to smother this fact,” he added.

Earlier one of Bolsonaro’s top foreign advisers also tweeted a reprimand to foreign meddlers. “God does not like liars,” Filipe Martins wrote in a series of posts rebutting international criticism.

Bolsonaro’s politician son, Eduardo, continued the offensive, tweeting a YouTube video called “Macron is an idiot” to his 1.6m followers.

But international concern continued to be expressed over the scale of the fires. The UN secretary general, Antonio Guterres, said he was “deeply concerned” about their effect on the global climate crisis: “In the midst of the global climate crisis, we cannot afford more damage to a major source of oxygen and biodiversity.”

London’s mayor, Sadiq Khan, said the fires were being “aided and abetted by the Brazilian government”. The burning of the rainforest was “an act of shocking environmental vandalism with global consequences”.

Celebrities, including Madonna, also weighed in on Thursday. “The Fires Are Raging and The Amazonia continues to burn,” she tweeted.

Madonna
@Madonna
 The Fires Are Raging and The Amazonia continues to burn.........This is a devastation to Brazil—to the indigenous people who live there and the-plant and animal species that make this the most important bio-diverse Forest!!! President Bolsonaro please... https://www.instagram.com/p/B1emtcjhSz4/

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9:58 PM - Aug 22, 2019

 “It is devastating to see our world suffer,” the British Formula One champion Lewis Hamilton wrote on Instagram.

The footballer Cristiano Ronaldo tweeted about the urgency of the Amazon fires, saying it’s “our responsibility to help save the planet”.


Cristiano Ronaldo
@Cristiano
 The Amazon Rainforest produces more than 20% of the world’s oxygen and its been burning for the past 3 weeks. It’s our responsibility to help to save our planet. #prayforamazonia

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7:22 PM - Aug 22, 2019

Brazil has had more than 72,000 fires this year, an 84% increase on the same period in 2018, says the country’s National Institute for Space Research. More than half were in the Amazon.

There was a sharp rise in deforestation during July, which has been followed by extensive burning in August. Local newspapers say farmers in some regions are organising “fire days” to take advantage of weaker enforcement by the authorities.

Ecuador’s president, Lenín Moreno, on Thursday said he had spoken to Bolsonaro and would send three “brigades of specialists in forest fires and environmental research, who will help mitigate the tragedy in the Amazon rainforest.”




Que fazer quando tudo arde?
A Europa deve deixar claro que o recém-negociado acordo comercial entre a UE e o Mercosul só será ratificado se houver garantias claras do governo brasileiro no domínio ambiental e no respeito pela independência das agências científicas, ambientais e de proteção dos povos indígenas.

Rui Tavares
23 de Agosto de 2019, 6:58

A prova de que as histórias dos nacionais-populistas são falsas estão nos resultados que dão. Basta ver o que se está passar: a nossa casa comum está a arder. Os argumentos que, como vimos na última crónica, eles encontraram para estribar o seu poder — o egoísmo é bom, o chefe tem sempre razão e tudo o que contradisser isto é mentira — chocam com a realidade material do nosso planeta. Se não nos deixarmos convencer pelas razões do planeta, quem se lixa somos nós.

Para combater esta desastrosa deriva precisamos de mergulhar no mais fundo da civilização humana. Vejamos como Ibn Khaldun, um historiador do século XIV, a definia: “o nosso mundo é um jardim”, começava ele, argumentando que as instituições humanas servem para preservar esse jardim, “porque sem justiça o mundo torna-se oco”. Estas ideias, explicava Ibn Khaldun na sua Introdução à História Universal, não nasceram com ele. Elas nasceram com um sacerdote zoroastriano e foram transmitidas a Aristóteles, e daí a todos os vindouros. Ibn Khaldun estava errado pelo menos num detalhe (o livro de Aristóteles que ele menciona — a Economia — é quase certamente de um pseudo-Aristóteles) mas o que é importante é notar a diferença entre este diálogo e as conversas de surdos que temos hoje. E que diferença é: temos aqui um autor muçulmano, do tempo do nosso Fernão Lopes, citando aprovadoramente o sacerdote de uma religião antiquíssima (o zoroastrianismo) que ainda recentemente foi perseguida pelos fanáticos do ISIS, e elevar um “pagão” como Aristóteles a pai da sua filosofia.

Mais interessante ainda é pensar naquilo que naquela citação junta tradições filosóficas e religiosas tão distintas: a ideia de que a natureza é a nossa maior riqueza e de que a civilização humana (a que Ibn Khaldun chama “a coexistência dos humanos nas cidades”) deve servir para preservar essa natureza através do predomínio da justiça nas relações humanas. O mundo é um jardim que sem justiça ficará oco. Não é difícil imaginar que formulação, embora menos bela, poderíamos dar a esta verdade hoje: sem uma globalização justa não conseguiremos impedir a destruição do nosso habitat.

Vejamos a diferença em relação à política do egoísmo. Bolsonaro, ainda antes de chegado ao poder, sinalizava já que abriria a porta para o desmatamento da Amazónia e que estaria do lado dos madeireiros, ganadeiros e agro-industrialistas que fizessem queimadas, legais ou ilegais. Ao chegar ao poder, quis acabar com o Ministério do Meio Ambiente e acabou nomeando para o cargo um ministro negacionista e anti-ciência. Atacou os institutos públicos que tinham a tutela das relações com os povos indígenas, e empurrou para a demissão o responsável pela compilação dos dados do desmatamento da Amazónia (dados cuja veracidade ele nega). Quando o mundo começou a reagir ao que se estava a passar nas florestas brasileiras, Bolsonaro culpou as ONG e sugeriu que elas poderiam estar por detrás dos fogos para o fazer ficar mal.

Trata-se de uma política anti-verdade, anti-humanidade e anti-natureza. À partida, dir-se-ia que tal política não pode durar, porque ataca os mais fundamentais pressupostos da nossa vida comum e da nossa sobrevivência. Mas pode perfeitamente durar o suficiente para causar danos irreparáveis.

Nós só conseguiremos derrotar a política do egoísmo e da insustentabilidade através de uma convicção maior ainda na política da interdependência e da sustentabilidade. Isso não significa esperar que todos concordem comigo antes de começarmos a agir, nem muito menos esperar que o mundo mude antes de podermos salvar o mundo. Temos de lutar para salvar o mundo com as diferenças ideológicas que entre nós existem e com as ferramentas do mundo que já temos — e nesse processo talvez criemos as ferramentas e os consensos de um mundo futuro, baseado num novo contrato entre humanidade, natureza e tecnologia. Esse é o supremo objeto de desejo político que deveremos oferecer contra a política do egoísmo.

Essa é a visão de longo prazo. Mas a pergunta com que quero terminar é mais imediata: que podemos nós fazer, já, com sentido prático, e deste lado do planeta?

Curiosamente, o ministro da Casa Civil da presidência brasileira (na prática um primeiro-ministro de Bolsonaro), Onyx Lorenzoni, dá-nos uma boa pista para responder a esta pergunta. Diz ele: “Os europeus usam a questão do meio ambiente por duas razões: a primeira para confrontar os princípios capitalistas. E a outra coisa é para estabelecer barreiras ao crescimento e ao comércio de bens e serviços do Brasil”.

Ao dizê-lo, ele está a revelar-nos quais são os seus interesses e temores e, portanto, os pontos onde poderemos aplicar pressão. E a Europa (com Portugal, se formos sérios, na linha da frente) deve responder à letra, deixando claro que o recém-negociado acordo comercial entre a UE e o Mercosul só será ratificado se houver garantias claras do governo brasileiro no domínio ambiental e no respeito pela independência das agências científicas, ambientais e de proteção dos povos indígenas. Sem tais garantias, não haverá incremento do comércio euro-sulamericano. O que está em jogo é demasiado importante para o planeta todo e para as gerações futuras.

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