Ama(zónia)
Cláudia Madeira,
Membro da Comissão Executiva do PEV 05
Agosto 2019, 00:08
O desenvolvimento
deve ser compatível com a biodiversidade e os direitos humanos, impondo-se, por
isso, uma resposta global para a preservação da Amazónia.
O pulmão do mundo
está sob constante pressão e deve ser uma preocupação de todos nós, não só de
quem está do outro lado do Atlântico. Arrisco dizer que esta é uma daquelas
situações em que a teoria do efeito borboleta se aplica na perfeição.
Partilho, assim,
alguns números na esperança que ajudem a sensibilizar e a entender este
problema que, ocorrendo numa região do planeta, tem consequências globais.
A Amazónia é a
maior floresta tropical do mundo, tem perto de sete milhões de quilómetros
quadrados, atravessa oito países e uma possessão estrangeira, a Guiana
Francesa, e ocupa 50% do continente sul-americano.
Representa mais
de metade da floresta tropical existente no mundo, é o habitat de milhões de
espécies – fauna e flora – e alberga mais de metade de todas as formas de vida
do planeta. Além de ser vital para o equilíbrio ambiental, ao absorver
toneladas de carbono da atmosfera, assume ainda outras funções ecológicas.
Não será por
acaso que o Complexo de Conservação da Amazónia Central foi reconhecido como
Património Mundial pela UNESCO. É também o lar de milhares de habitantes, como
os povos indígenas e várias comunidades tradicionais. A título de exemplo, em
1500 era habitada por 6 a 9 milhões de pessoas.
Hoje, tudo isto
está a ser ameaçado, e por todo o mundo surgem alertas em defesa deste
património.
Ao longo das
últimas décadas, a mão humana tem contribuído fortemente para a sua
desflorestação, nomeadamente através do negócio da madeira, da pecuária, da
agricultura, dos incêndios, da mineração e da exploração de petróleo e de gás.
Nos últimos 50
anos, a desflorestação da Amazónia atingiu cerca de 17% da sua vegetação, tendo
aumentado 60% só em Junho deste ano face ao período homólogo.
De acordo com o
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, nos últimos 12 meses a perda da
vegetação atingiu os 5.879 quilómetros quadrados, valor bastante superior ao
registado nos 12 meses anteriores, onde se tinham perdido cerca de 4.000
quilómetros quadrados.
Quase 3% da
floresta tropical foi destruída por incêndios de combustão lenta, entre 1999 e
2010. Em 2013, 71 milhões de hectares estavam ocupados por pastagens e
produziram-se 9,1 milhões de toneladas de carne. Em 2017, a agro-pecuária
ocupava 103.000 hectares e a pecuária foi responsável por 65% do abate de
árvores.
21% da região
está “salpicada” de concessões mineiras que contaminam os aquíferos, e
existem mais de 100 blocos de produção
de petróleo e gás. Existem 264 mil quilómetros de estradas alcatroadas ou de
terra batida, só no território brasileiro da Amazónia, três quartos das quais ilegais.
Entre 2006 e
2013, o Brasil conseguiu abrandar em 70% a velocidade da desflorestação, mas
dados mais recentes evidenciam que está novamente a aumentar.
Face a este
cenário desastroso e mantendo o actual ritmo de degradação, a Amazónia não
resistirá mais de duzentos anos, estimando-se o seu fim para 2260 caso não se
faça nada para evitar tal catástrofe.
Muitas têm sido
as críticas ao presidente do Brasil pela postura de desrespeito que assume
relativamente às políticas ambientais e aos povos indígenas. A Amazónia não
pode ser encarada como uma fonte de negócio, em que tudo é transaccionável,
inclusive a sustentabilidade da região e do planeta.
O desenvolvimento
deve ser compatível com a biodiversidade e os direitos humanos, impondo-se, por
isso, uma resposta global para a preservação da Amazónia. Nenhum Estado se pode
excluir da responsabilidade ambiental e social em defesa deste património
ímpar, com um valor ecológico inestimável, aplicando-se justamente o princípio
ecologista “pensar global, agir local”.
A autora escreve
de acordo com a antiga ortografia.
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