David Pontes
EDITORIAL
A dieta pelo
planeta
Se não alterarmos
a forma como nos alimentamos nos países mais desenvolvidos e, gradualmente, nos
países em vias de desenvolvimento, o planeta vai continuar a aquecer até se tornar
inabitável.
10 de Agosto de
2019, 5:10
Há muitos anos
que os médicos nos recomendam que comamos menos carne porque isso será melhor
para a nossa saúde. Esta semana, uma centena de especialistas de 52 países
pertencentes ao Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas
juntaram-se a eles para nos dizer que a forma como nos alimentamos nos países
mais ricos faz-nos mal a nós, mas também está a ter consequências terríveis
para a saúde do planeta.
O relatório
divulgado na quinta-feira explica que aos excessos acumulados pelo nosso
consumo energético, pela extracção de recursos naturais, pela poluição, há que
juntar a utilização que fazemos do solo, que será responsável por entre um
quarto e um terço de todas as emissões de gases com efeito de estufa. E quando
referem a utilização do solo, estão a falar dos efeitos da agricultura e da
produção de alimentos, que vai desde os terrenos que são roubados às florestas,
até aos gases emitidos pelo transporte dos produtos.
Os cientistas
deixam bem claro que se não alterarmos a forma como nos alimentamos nos países
mais desenvolvidos e, gradualmente, nos países em vias de desenvolvimento, o
planeta vai continuar a aquecer até se tornar inabitável. E isto é ainda mais
terrível quando se percebe que, actualmente, entre 25% e 30% da produção de
alimentos é desperdiçada ou perdida, num planeta em que 2000 milhões de adultos
têm excesso de peso ou são obesos.
Porque
desperdiçar não é só deitar fora alimentos, é também comer para além do
necessário, o que o relatório vem sublinhar é que se a nossa cultura de
abundância é prejudicial para as artérias, é-o também para o planeta. Reduzir o
consumo de carne e de gorduras animais, cuja produção tem um efeito devastador,
substituindo-a por um consumo de vegetais, frutas e cereais, torna-se um
imperativo civilizacional. E é uma opção individual que pode ajudar a inverter
um problema gravíssimo que só o analfabetismo negacionista se recusa a
reconhecer e assumir como prioridade política.
Haverá muitos
gastrónomos que torcerão o nariz a alterar os seus hábitos alimentares e
acharão que reduzir a posta mirandesa ou a picanha é sacrifício a mais por um
incerto e às vezes difícil de percepcionar destino comum. Mas então sejam
egoístas e pensem que na linha da frente das vítimas das alterações climáticas
estão as oliveiras e as vinhas. Se não conseguem pensar com a cabeça então
pensem com o estômago. O planeta e a Humanidade agradecem.
tp.ocilbup@setnop.divad
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