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CONJUNTURA
Economia continua
a assustar os mercados. Juros e bolsas caem
Guerra comercial
e novos sinais de deterioração da conjuntura continuaram esta quarta-feira a
agitar os mercados. Num efeito positivo para as finanças públicas portuguesas,
as taxas de juro da dívida nacional a dez anos estão já abaixo dos 0,2%
Sérgio Aníbal
Sérgio Aníbal 8
de Agosto de 2019, 6:18
Bancos centrais
um pouco por todo o mundo e investidores nos mercados financeiros
internacionais confirmaram esta quarta-feira que estão já a preparar-se para o
risco de uma recessão mundial. Do lado dos bancos centrais, todos tentam não
ser apanhados desprevenidos ou com a sua divisa sobrevalorizada, sucedendo-se
os anúncios de medidas expansionistas, enquanto nos mercados foge-se às acções
e praticam-se taxas de juro cada vez mais baixas na dívida.
Depois de a
Reserva Federal norte-americana ter baixado as suas taxas de juro directoras na
semana passada e o Banco Central Europeu anunciado que se prepara para fazer o
mesmo em Setembro, esta quarta-feira, no meio de novos sinais de deterioração
da conjuntura económica provocada pela escalada do conflito comercial entre os
EUA e a China, vários bancos centrais decidiram, em alguns casos de forma
surpreendente, avançar com as suas próprias medidas.
Na Nova Zelândia,
a taxa de juro directora foi reduzida em 0,5 pontos, para 1%, um movimento que
surpreendeu pela sua dimensão. Logo a seguir, o banco central tailandês baixou
a sua taxa de juro em 0,25 pontos para 1,5%, uma medida que também não estava a
ser antecipada pelos analistas. O banco central da Índia, por sua vez, baixou a
sua principal taxa de juro em 0,35 pontos para o nível mais baixo em nove anos.
Ao mesmo tempo, responsáveis do banco central do Japão, que já tem as taxas a
zero há muito tempo, revelaram a intenção de discutir novas medidas de estímulo
à economia.
Todas estas
medidas são explicadas pelo receio que as autoridades monetárias deste país têm
de reagir tarde demais aos impactos potenciais negativos da escalada do
conflito comercial entre EUA e China, que ameaça agora tornar-se também numa
guerra cambial. Ao descerem os seus juros estes países tentam assegurar que não
ficam com a sua divisa perigosamente sobrevalorizada.
Especialmente num
cenário em que a Reserva Federal norte-americana já baixou taxas de juro e o
presidente dos EUA continua a pressionar a autoridade monetária do país a ir
ainda mais longe. “Mais três bancos centrais cortaram juros. O nosso problema
não é a China (…), o nosso problema é a Reserva Federal”, escreveu Donald Trump
esta quarta-feira na sua conta do Twitter.
Nos mercados,
depois de um dia mais calmo na terça-feira, registou-se agora um regresso às
sessões negativas nas bolsas, especialmente em Wall Street, que abriu com
descidas muito acentuadas dos índices accionistas.
No mercado da
dívida, por seu lado, a expectativa cada vez maior de novas políticas
expansionistas dos bancos centrais e transferência do investimento de acções
para obrigações, acentuou a descida das taxas de juro dos títulos de dívida
soberana.
Na zona euro, a
Alemanha continua a bater recordes, tendo as taxas a 10 anos baixado já a
barreira dos -0,5% e as taxas de juro a trinta anos, que tinham caído para
valores negativos pela primeira vez esta semana, atingido os -0,1%.
Portugal também
continua a estar entre os países que vêem a sua dívida a ficar com taxas de
juro cada vez mais baixas nos mercados. Na dívida a dez anos, a taxa de juro
caiu, pela primeira vez na sua história abaixo dos 0,2%, tornando o cenário de
uma taxa abaixo de zero cada vez mais possível. A 30 anos, a barreira de 1%
está quase a ser atingida. A este nível, o Estado português fica em condições
de realizar emissões de dívida de muito longo prazo sem ter praticamente
qualquer custo com juros.
As reacções dos
mercados surgem, em larga medida, como uma reacção aos efeitos potenciais da
escalada do conflito comercial, mas são também já uma resposta ao surgimento de
indicadores que apontam para uma contracção da actividade em algumas economias
importantes.
Um dos grandes
focos de preocupação está na poderosa indústria alemã. De acordo com os dados
publicados esta quarta-feira pela autoridade estatística alemã, a produção
industrial caiu 1,5% durante o mês de Junho, com um desempenho particularmente
negativo ao nível dos bens intermédios e de capital.
O resultado ficou
bem abaixo daquilo que era a expectativa dos analistas e está a ser visto pela
generalidade dos economistas como um sinal de que a economia pode ter entrado -
no segundo trimestre, prolongando-se pelo terceiro - numa recessão técnica,
definida como dois trimestres consecutivos de variação negativa do PIB.
“Estes dados
confirmam a nossa expectativa de que o PIB real na Alemanha possa ter diminuído
ligeiramente no segundo trimestre”, afirmou um economista do Commerzbank à
agência Reuters após a divulgação dos números da produção industrial, que no
total do trimestre registou uma diminuição de 1,8%. Outro analista, do
DekaBank, disse ver o resultado como “um prelúdio para uma recessão técnica”.
Depois de na
segunda metade de 2018 ter escapado por pouco a uma recessão técnica e de no
primeiro trimestre ter registado um crescimento de 0,4%, a economia alemã
deverá agora, de acordo com a grande maioria das estimativas, ter registado uma
contracção ligeira no segundo trimestre do ano. Os dados oficiais da variação
do PIB serão dados a conhecer na próxima semana.
Existe ainda a
expectativa de que, no terceiro trimestre, com o efeito da guerra comercial a
sentir-se de forma mais acentuada, a economia alemã possa prolongar a variação
negativa, o que resultaria na confirmação de uma recessão técnica.
tp.ocilbup@labina.oigres
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