Um
futuro inclusivo
Uma
Europa de dispensáveis não pode chegar longe.
DIRECÇÃO EDITORIAL
29/06/2016 – PÚBLICO
Imagem /
OVOODOCORVO/ Guardian
As consequências do
"Brexit" estão longe de poder ser avaliadas em toda a sua
extensão, mas há um aspecto que já traduz até que ponto podem
chegar os demónios libertados por campanhas de ódio e de rejeição
ao outro. Em pouquíssimos dias, a polícia britânica confirmou um
aumento de 57% nas queixas de incidentes racistas, traduzidos em
agressões, propaganda xenófoba e ameaças de toda a espécie, mas
apesar de a ordem ser tolerância zero contra estas atitudes, a
insegurança está instalada nas comunidades imigrantes e junto das
minorias étnicas, mesmo que muitos sejam cidadãos britânicos.
Fortalecida pelo voto popular, a extrema-direita apresenta-se agora
provocatoriamente sorridente no Parlamento Europeu, quer lançando
previsões catastróficas, como fez Nigel Farage, quer exultando em
condescendência cínica, caso de Marine Le Pen.
Os extremismos
aproveitam, assim, divisões e feridas há muito abertas no seio da
União Europeia. A tal ponto que nem agora, perante a catástrofe, os
dirigentes comunitários conseguiram dissimular a cacofonia das
reacções. Jean-Claude Juncker não disse o mesmo que Angela Merkel,
que disse o contrário de François Hollande, que conseguiu ser mais
duro que Donald Tusk. A própria coreografia das reuniões de alto
nível que se desenrolaram na sequência do referendo ilustra bem o
quanto a hierarquia do poder em Bruxelas é cada vez mais definida e
indisfarçável: uma reunião dos ministros dos Negócios
Estrangeiros dos seis países fundadores; um encontro a três, em
Berlim, entre Merkel, Hollande e Renzi; finalmente, o Conselho
Europeu a 27. É (ainda) possível acreditar nesta União? Ontem, o
comissário europeu Carlos Moedas falando nas consequências do
Brexit, pedia aos microfones da TSF que as atenções se concentrem
no futuro. De todos? “É importante focalizar-se na nova geração
que se identifica com o projecto europeu, que tem uma identidade
europeia”, disse. Significa isto que há uma geração dispensável?
Assim não há Europa que dure.
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