Editorial
/ PÚBLICO
Parca
clarificação nos destinos de Espanha
DIRECÇÃO EDITORIAL
28/06/2016 – PÚBLICO
Apesar
de todos lhe negarem apoio, só Rajoy parece ter condições para
formar novo governo em Madrid.
Dois dias depois do
“Brexit” sancionado em referendo no Reino Unido, o voto nas
legislativas espanholas só clarificou com parca margem a crise de
poder em Madrid. As eleições de Dezembro, destruindo o tradicional
bipartidarismo, tinham deixado no ar a possibilidade de um governo
mais à direita ou mais à esquerda, consoante o tipo de acordo
pós-eleitorais que viessem a ser conseguidos. Porém, como se viu, a
única coisa constante nos últimos meses foi um irritante impasse
que desembocou em novas eleições. E o resultado destas, diferindo
pouco do das anteriores, permite pelo menos perceber que os
protagonistas do antigo bipartidarismo sobreviveram aos seus mais
directos concorrentes: o PP subiu de 123 para 137 deputados, em parte
à custa do Cidadãos (que baixou de 40 para 35); e o PSOE, que as
sondagens davam já em terceiro lugar, ficou à frente da coligação
Unidos Podemos (71 deputados), apesar de ter perdido lugares no
congresso espanhol (passou de 90 para 85). Isto quer dizer que Rajoy
tem, pelas urnas, legitimidade para formar governo, mas está longe
de ter a tarefa facilitada. O PSOE garante, ainda que faça bluff,
que não apoiará uma investidura de Rajoy nem se vai abster; e o
Cidadãos afirma que não apoiará nenhum governo com Rajoy. Se
contasse apenas a matemática, PP, Cidadãos, nacionalistas bascos e
canários, juntos, têm meio congresso (175 deputados em 350),
faltando-lhes apenas mais um voto para garantir a aprovação de um
governo logo à primeira votação. Já a esquerda não pode almejar
semelhante feito, não só porque a soma dos votos do PSOE, Podemos e
aliados fica abaixo do necessário (156, antes tinham 159), como
porque o PSOE mais depressa estancará a sua queda a liderar a
oposição do que envolvendo-se em qualquer governo. Sendo assim, e
apesar dos escândalos de corrupção que ainda mancham o PP, Rajoy
parece destinado a governar Espanha. Com a oposição e os eleitores
de atalaia.
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