Em
Lisboa, 94 entidades lutam para salvar mais de 2,1 milhões de
refeições por ano
INÊS BOAVENTURA
17/06/2016 – PÚBLICO
O
representante da FAO em Portugal quer ver o comissariado criado pela
câmara divulgado, para que possa ser replicado noutros locais.
No final de 2014,
ano em que a Câmara de Lisboa constituiu o Comissariado Municipal de
Combate ao Desperdício Alimentar, eram 15 as entidades a trabalhar
nesta área, em 11 das 24 freguesias da cidade. Menos de dois anos
depois, elas são já 94, estão espalhadas por todo o território e
levam mais de 2,1 milhões de refeições por ano a quem delas
precisa.
Estes números foram
dados a conhecer esta sexta-feira, numa conferência de imprensa de
apresentação do trabalho desenvolvido até aqui. Nela o comissário
João Gonçalves Pereira congratulou-se com o facto de a rede de
instituições que combatem o desperdício alimentar “ser alargada
todos os dias” e sublinhou que tal demonstra que este é já “um
desígnio da cidade, que envolve dezenas e dezenas de instituições”.
Entre as 94 que
estão referenciadas, há vários centros sociais e paroquiais,
diversas instituições particulares de solidariedade social e
núcleos do projecto Re-food. Parceiras essenciais são também as
juntas de freguesia que, à excepção da de Campolide (que já tinha
em funcionamento um projecto próprio), constituíram núcleos locais
de combate ao desperdício alimentar.
Agora que Lisboa tem
uma rede que abarca todas as suas freguesias, João Gonçalves
Pereira (que é também vereador do CDS na Câmara de Lisboa) fala na
possibilidade de esta iniciativa de Lisboa poder ser “replicada”
noutras áreas do país e mesmo além-fronteiras. Essa ideia foi
também defendida pelo representante em Portugal da Organização nas
Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que
participou na conferência de imprensa.
Na ocasião Hélder
Muteia sustentou a importância de a iniciativa da capital
portuguesa, que considerou ser “um exemplo”, ser divulgada. “Não
como um exercício de auto-promoção, mas sim para que possa ser
replicada”, disse, notando que “o mundo oferece diferentes
possibilidades, diferentes soluções” e que todos têm a ganhar
com o facto de elas serem dadas a conhecer.
Para Hélder Muteia,
“a magia” daquilo que tem vindo a ser feito em Lisboa ao nível
do combate ao desperdício alimentar assenta num elemento chave: “o
protagonismo da sociedade civil não só não foi retirado como foi
reforçado”, frisou, considerando que “este tipo de iniciativas
gera uma onda”.
Já o vereador dos
Direitos Sociais da Câmara de Lisboa notou que “o trabalho que se
faz no âmbito do desperdício alimentar é local”. “Pode ser
coordenado, estruturado ao nível da cidade mas é ao nível local
que tem a sua real expressão”, disse João Afonso.
Para o autarca dos
Cidadãos Por Lisboa, o Comissariado Municipal de Combate ao
Desperdício Alimentar (cujo tempo de vida não deverá prolongar-se
para lá do final deste ano ou do início do próximo) funcionou como
“um acelerador”. “Não nos pretendíamos substituir ao já
existente”, frisou, apontando como objectivo do comissariado
“estruturar o trabalho que se sabia existir na cidade”.
De acordo com João
Gonçalves Pereira, a rede hoje constituída consegue recuperar
2.134.794 refeições por ano, o que no entender do autarca constitui
um “motivo de orgulho”. O comissariado não divulgou números
sobre o valor económico dessas refeições, mas o presidente da
Comunidade Vida e Paz tinha um para partilhar: segundo Henrique
Joaquim as refeições reaproveitadas em 2015 pela instituição (que
além de sem-abrigos apoiou 60 famílias “em situação de grave
vulnerabilidade social”) representaram 768 mil euros. “É um
valor económico elevadíssimo”, constatou.
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