segunda-feira, 20 de junho de 2016

“Os riscos do híper-ativismo”


(….) “A outra opção inquietante é a da omnipresença quotidiana nos média, com telejornais a consagrarem uma, duas, três, quatro ou mais sequências ao dia do presidente e às suas declarações a propósito de tudo e de nada. Uma omnipresença que o próprio presidente manifestamente favorece e que o serviço de comunicação de Belém indubitavelmente promove. Quando o chefe de Estado num sistema constitucional não presidencialista deve saber preservar uma certa reserva, de modo a que a sua palavra e a sua ação possam ter o devido peso quando necessárias forem.
(…) A omnipresença diária nos média é também de natureza a levar estes mesmos média a quererem saber mais sobre a “face oculta” do presidente e da presidência. A quererem ir para além da versão oficial da vida quotidiana do personagem, das suas relações familiares, sociais e afetivas, dos meandros do seu passado nomeadamente político. O que tem grandes probabilidades de lhe retirar a aura simbólica indispensável à magistratura suprema junto da opinião pública. Esvaziando desde logo muito seriamente, junto dos cidadãos, a sua capacidade de intervenção e decisão política, com autoridade e serenidade, desmonetizado que foi o seu titular ao longo dos meses por um híper-ativismo omnipresente…”
J.-M. NOBRE-CORREIA / “Os riscos do híper-ativismo” / 21-6-2016

Sem comentários: