Sanções:
há três cenários possíveis para Portugal em cima da mesa
O
primeiro-ministro endureceu ontem, em Bruxelas, a sua reacção face
à eventualidade da aplicação de medidas correctivas por
incumprimento do défice. Seria um “péssimo sinal”, disse
António Costa
PÚBLICO / 29-6-2016
A uma semana daquele
que pode ser o dia da decisão em matéria da aplicação de sanções,
no âmbito do procedimento por défice excessivo, ainda há três
cenários possíveis para Portugal. Ao que o PÚBLICO apurou junto de
fonte de Bruxelas, as hipóteses neste momento em cima da mesa vão
da ausência total de sanções à aplicação de uma multa
simbólica. Pelo caminho terão ficado as coimas previstas
inicialmente, e referidas esta semana pelo jornal Le Monde, que
podiam ir até 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) ou a suspensão
temporária dos fundos estruturais europeus, por violação do Pacto
de Estabilidade e de Crescimento.
O primeiro dos três
cenários possíveis é adiar a decisão até ao final do ano,
esperando pelos dados da execução orçamental que até Maio estão
a correr bem. Neste caso, a Comissão Europeia não proporia ao
Conselho Europeu a aplicação de qualquer sanção, pelo menos até
haver indicadores sobre o comportamento do défice ao longo do ano de
2016.
Num segundo cenário,
a Comissão Europeia poderia propor a aplicação de uma multa
simbólica, de um euro, vincando que Portugal está a ir no bom
caminho. Para o Governo, esta assunção de que as coisas estão a
correr bem seria imprescindível, mas existe o risco de uma sanção,
mesmo que seja apenas simbólica, possa provocar danos reputacionais
nos mercados.
Como última
hipótese, sobra a terceira solução que é, naturalmente, a mais
conveniente para Portugal: reconhecer que houve problemas no passado,
mas não aplicar qualquer tipo de medidas correctivas.
Apesar de qualquer
destes cenários ser ainda possível, as declarações de António
Costa em Bruxelas, ontem de manhã, deixam no ar a ideia de que o
Governo está a preparar-se para tudo. O primeiroministro endureceu a
sua reacção, ao dizer que sancionar Portugal por desrespeitar as
metas orçamentais é “ridículo” num momento em que há tanto
para resolver na Europa.
“Perante decisões
com o dramatismo da saída do Reino Unido, com a crise dos
refugiados, com a ameaça terrorista, com as ameaças externas que
afectam a Europa, é absolutamente ridículo estarmos a discutir 0,2%
da execução orçamental do anterior Governo”, disse António
Costa à entrada para a cimeira europeia.
Costa adiantou ainda
que aplicar multas a Portugal seria ainda mais grave “num ano em
que pela primeira vez mesmo nas piores previsões da Comissão
Europeia é garantido que (Portugal cumpra) um défice abaixo dos
3%”.
Seria ainda um
“péssimo sinal porque significaria que a Comissão Europeia não
percebia o que se está a passar hoje na Europa”, adiantou Costa,
referindo-se ao crescente apoio aos movimentos populistas. E
acrescentou: “Infelizmente, a Comissão Europeia já me desiludiu
suficientes vezes para eu poder ter a certeza de que não me desilude
novamente.” O primeiro-ministro recomendou ainda ao Colégio de
Comissários que “ouça a voz” do seu presidente, Jean-Claude
Juncker, que assumiu recentemente que a Europa deve ter “mais
coração”.
Todos contra as
sanções
Também o líder do
PSD, Pedro Passos Coelho, defendeu, em Bruxelas, que as sanções não
têm razão de ser. “Espero que os países estejam contra as
sanções porque elas não têm razão para se verificarem, não é
por uma questão de simpatia ou de solidariedade”, afirmou o antigo
primeiro-ministro, referindo que “Portugal não precisa de mendigar
apoio”. Para o dirigente social-democrata, não se deve mendigar
para que “livrem Portugal de uma coisa que não merece”.
“Se houver um
bocadinho de vergonha e de decência, não se pode sancionar o país
que mais esforços fez de consolidação orçamental estrutural em
todos estes anos e dos que mais cumpriu, a seguir à Irlanda, aquilo
que foram as metas estabelecidas”, vincou.
À entrada para a
habitual reunião de dirigentes do Partido Popular Europeu antes das
cimeiras de chefes de Estado e do Governo da UE, em Bruxelas, Pedro
Passos Coelho acrescentou esperar que “não haja outras intenções
de natureza política que escondam decisões que não estejam
assentes naquilo que são materialmente as condições que se
verificam em Portugal”.
Sobre o mesmo
assunto, Durão Barroso, ex-presidente da Comissão Europeia, disse,
à margem de um encontro no Estoril, que a aplicação de sanções a
Portugal “depende muito do que o Governo português disser e
fizer”. Se os parceiros acharem que Portugal entrou num caminho de
irresponsabilidade, então há uma probabilidade grande de aprovarem
sanções. Se o Governo português mostrar que está seriamente a
tentar pôr a casa em ordem, vai continuar as reformas estruturais,
então não haverá consequências económicas negativas tomadas”,
concluiu Durão Barroso.
Nas palavras do
também antigo primeiro-ministro português, “o mais importante
para os parceiros europeus é averiguar até que ponto Portugal está
verdadeiramente decidido a manter as reformas estruturais e a manter
prudência orçamental”.
A Comissão Europeia
reiterou na segunda-feira que só no início do mês de Julho,
previsivelmente durante a próxima semana, tomará uma decisão sobre
eventuais sanções a aplicar Portugal e Espanha no âmbito do
procedimento por défice excessivo.
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