Eleitores
espanhóis votam para deixar tudo na mesma
SOFIA LORENA
26/06/2016 – PÚBLICO
https://www.publico.pt/mundo/noticia/sondagens-pp-em-primeiro-unidos-podemos-ultrapassa-psoe-1736416
PP
aumenta a sua vantagem. PSOE resiste como segundo partido da Espanha
e força hegemónica da esquerda, apesar de eleger menos cinco
deputados do que em Dezembro. Podemos perde eleitores e não
rentabiliza aliança com a Esquerda Unida.
Na nova Espanha sem
espaço para maiorias absolutas, Mariano Rajoy recebeu dos eleitores
um resultado que nem em sonhos terá imaginado. Esperava ficar de
novo em primeiro, mas não esperava crescer em votos e em número de
deputados em relação às legislativas de Dezembro. A direita do PP,
no poder desde 2011, sobe de 28,71% para 33,03%, e de 123 deputados
passa a 137.
Rajoy vence as suas
terceiras legislativas, tantas como aquelas a que se apresentou.
“Que viva a
Espanha.” Assim se despediu um Rajoy emocionado do palco montado na
rua Génova de Madrid. Antes, tivera dificuldades em fazer-se ouvir,
interrompido a cada frase por militantes eufóricos que não deixavam
de agitar bandeiras da Espanha e do PP enquanto gritavam "sim,
podemos”.
O veterano líder
agradeceu a todos “os que não desistiram” nesta “etapa
difícil, muito difícil” e lutaram até ao fim por esta vitória.
Descrevendo-se como “enormemente orgulhoso” do seu partido,
prometeu aos espanhóis que “o PP estará sempre disponível e será
sempre uma opção”, principalmente nos momentos mais duros.
“Reclamo o direito
a governar e a sermos úteis a 100% dos espanhóis, aos que votaram
em nós e aos que não o fizeram”, afirmou. “Amanhã, vamos falar
com todos.”
Rajoy sai reforçado
quando ninguém acreditava que isso fosse possível (e sem que
nenhuma sondagem o tivesse antecipado), depois de quatro anos de
maioria absoluta marcados por uma terrível crise económica e por
sucessivos escândalos de corrupção. E fá-lo depois de uma
campanha hiperpersonalizada e que polarizou ao máximo,
apresentando-se como o “voto útil” contra a ameaça da aliança
Unidos Podemos.
Depois das
legislativas de Dezembro, as que marcaram o fim do bipartidarismo que
até agora alternava no poder, os espanhóis foram chamados a repetir
o voto e, mais uma vez, não há soluções óbvias de coligação.
Só com um pacto muito alargado será possível formar governo. No
que conta para o conjunto dos espanhóis – saber quando terão
governo e qual será a sua composição mais provável – as
incertezas são tantas ou mais do que há seis meses. E, apesar de
ninguém admitir essa posibilidade, nada garante que não sejam
necessárias novas eleições.
A nova esquerda,
saída do movimento dos Indignados, e liderada pelo Podemos, de Pablo
Iglesias, consolida-se como o terceiro partido espanhol (21,1% e 71
deputados) mas não inflige aos socialistas a humilhação com que
contava. Aliás, é o grande derrotado, como assumiu Iglesias,
falhada a sua estratégia de aliança à Esquerda Unida. "Os
resultados não foram os que esperávamos."
Numa campanha muito
polarizada entre a opção mais à direita, o PP, e a candidatura
mais de esquerda, a coligação Unidos Podemos, vence o PP e saem a
perder PSOE e Cidadãos – os dois partidos que no actual sistema
partidário ocupam o novo centro ideológico. O crescimento do PP
faz-se, aparentemente, à custa da descida do Cidadãos, partido
liberal de centro-direita que em Dezembro elegera 40 deputados e que
agora não ultrapassa os 32.
O PSOE desce em
relação a Dezembro, ficando-se pelos 85 deputados (tinha 90) e
pelos 22,67% dos votos – um resultado terrível, pior ainda do que
o de Dezembro, quando o partido de Pedro Sánchez já sofrera a sua
maior derrota de sempre. “Continuamos a ser a maior força de
mudança", foi o melhor que Sánchez encontrou para dizer.
O que salva Sánchez
é que as expectativas ainda eram piores: face ao pesadelo que os
inquéritos indicavam, este PSOE resiste como segundo partido do país
e a maior força da esquerda. Sobrevive, e isso é mais do que se
esperava.
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