“Trata-se
de controlar o efeito devastador da Turistificaçào e Ocupação
temporária/ Alojamento Local na Identidade e Autenticidade das
cidades, associado ao direito à Habitação Permanente para os
Residentes e Populações Locais.”
Berlim
proíbiu totalmente e integralmente a AIRBNB . Barcelona impôs
limites fortíssimos ao Alojamento Local. Amsterdam vai alterar o
limite máximo de 60 dias por ano para 30 dias.
Em
Portugal, O governo nào impõe limites de qualquer espécie e em
Lisboa Fernando Medina entregou sem limites a cidade à AIRBNB e é
apologista de mais e mais Turismo de Massas.
O
aumento da carga fiscal em IRS para o Alojamento Local é uma medida
mínima e insuficiente para a crescente especulação Imobiliária e
o ponto de saturaçào em ruptura que vai acontecer em Lisboa, tal
como aconteceu em Barcelona ( “BYE BYE BERCELONA”
https://www.youtube.com/watch?v=kdXcFChRpmI
)
OVOODOCORVO
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“Alojamento
local já atinge um terço da capacidade de turismo em Lisboa”
O
Presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal (Alep)
receia que as alterações à lei prometidas pelo Governo possam
limitar uma actividade com um peso cada vez mais significativo no
sector do turismo
“Essa
pressão sobre os preços [das casas] tem mais a ver com a compra dos
estrangeiros”
Entrevista Ana Rute
Silva / 20-6-2016 / PÚBLICO
Numa altura em que
o arrendamento de curta duração a turistas se assume como uma opção
cada vez mais utilizada por quem viaja, a Associação do Alojamento
Local em Portugal (Alep) ainda está a aguardar resposta da
Confederação do Turismo de Portugal para poder ter um lugar na
principal organização do sector. O tema tem provocado discussões
acesas e, sobretudo em Lisboa, levanta receios de descaracterização
dos bairros mais típicos. Eduardo Miranda defende que é preciso
dialogar e desfazer mal-entendidos. E recusa que o Alojamento Local
(AL) seja a causa de todos os males. Sobre as alterações à lei, já
prometidas pelo Governo, não esconde o receio de “detalhes
técnicos” se transformarem em barreiras a este negocio. Num
recente inquérito que a Alep fez aos seus associados em duas
freguesias de Lisboa, conclui-se que o perfil-tipo do empresário que
aluga a casa a turistas é o de um pequeno proprietário. Até que
ponto este retrato representa o perfil nacional de quem está a
investir no Alojamento Local (AL)? O perfil do empresário de Lisboa
não foge muito do perfil nacional, que é essencialmente formado por
particulares que têm no máximo até três apartamentos (no caso de
Lisboa, 90% têm até três apartamentos). São pessoas que tinham
casas e começaram a rentabiliza-las desta forma. Depende do perfil.
Há emigrantes que estão fora, pessoas que têm uma segunda casa em
Lisboa, outras que compraram casa no centro histórico e que se
mudaram porque a família cresceu. Quando falamos na zona litoral a
realidade é outra. Neste caso, a maioria tem uma segunda casa e este
retrato ainda representa 65% do AL.
Sim, e em todas as
regiões com praia. O Algarve pesa mais de 50%. Qual é o nível de
profissionalização de quem gere este tipo de alojamento? Já
passámos a fase amadora e não declarada? Há dois aspectos que têm
de ser separados. Um tem a ver com a parte burocrática porque, quer
se queira, quer não, a lei tornou-nos empresários. É uma
actividade micro complexa, que envolve ligações a fornecedores
internacionais. Implica saber como se cobra o IVA ou outros aspectos
contabilísticos que acabam por tornar as pessoas mais profissionais.
Há um outro aspecto que tem a ver com o profissionalismo na
prestação do serviço ao hóspede. Sempre houve uma proximidade
grande entre o proprietário e o hóspede e, por exemplo, em Lisboa,
68% dos proprietários recebem pessoalmente o hóspede. A esse nível
penso que estamos bastante bem em termos de serviço de turismo. Ao
contrário do que se passa aqui, lá fora a maior parte das pessoas
não entrega directamente as chaves ao hóspede. Há os pequenos
proprietários mas também há os investidores estrangeiros. Estão
ambos representados na Alep? O sector é diversificado. O AL inclui
os hostels ou a realidade do Algarve que não tem nada a ver com a de
Lisboa e Porto. A questão do alojamento no centro urbano é a mais
quente nesta fase, mas representamos todos, pequenos, médios e
grandes. Não fazemos essa divisão entre os estrangeiros grandes e
os pequenos porque, na verdade, a maior parte dos investidores
estrangeiros são de pequena dimensão. Na verdade, os estrangeiros
hoje estão a ter um peso importante no mercado imobiliário e o seu
objectivo não é o AL, nem a suposta rentabilidade. Os portugueses
estão mais a olhar para isso. Há um ou outro que têm maior
capacidade de compra e compram um prédio, mas são perfis
diferentes. A maior parte está ausente, é residente não habitual
ou têm vistos gold e delega a gestão em terceiros. Alguns destes
gestores têm ou trabalham para empresas grandes e o regista fica,
muitas vezes, em seu nome, quando na verdade são apenas prestadores
de serviço. Na associação temos vários destes gestores.
Mas a presença
destes gestores está a aumentar?
Têm um papel
importante especialmente para quem está ausente, não só os
estrangeiros como os portugueses que emigraram. Em Lisboa, apenas
1,5% a 2% dos titulares têm mais de dez registos. Mais do que 20
registos são 0,7%. É um grupo de proprietários que representa não
mais do que 6% da oferta. É aqui que estão os que criaram um nicho
novo, o dos service apartments. Estão num limite entre hotelaria e o
AL individual e encontraram um meio-termo para os clientes que não
querem spa ou piscina, mas procuram um ambiente mais próximo de um
hotel. São cerca de 19, 20 prédios em Lisboa, 266 apartamentos, mas
têm grande visibilidade nas ruas. Há dois ou três que são geridos
por gestores. Há inúmeras vozes de preocupação sobre os efeitos
do aumento do turismo. Tendo em conta que os turistas escolhem os
centros históricos pelas suas características, não teme que este
crescimento acabe por desvirtuar o próprio produto turístico em que
se suporta o AL? Esse é um debate importante, mas a forma como está
a ser feito (com argumentos a favor ou contra) não permite usá-lo
como vantagem estratégica. Ou seja, reflectir sobre o que está a
ter sucesso e o que podemos fazer para o manter, sem estragar. Há
uma grande dificuldade de diálogo porque se está a extremar as
posições. O crescimento do turismo causa impacto? Claro, ainda mais
em cidades com grande concentração dos pontos de interesse no
centros históricos. Criar outros pontos de atracção é um dos
grandes desafios. Vamos ter em breve os cruzeiros a chegar e há um
fluxo, quase normal, de meia dúzia de ruas onde se concentram mais
turistas. Isso causa impacto nos habitantes.
Mas está a haver
uma descaracterização?
Bom, essa discussão
tem de ser feita com mais calma. Do ponto de vista estético, o
centro histórico está protegido. Se se fala de uma
descaracterização face há oito anos, sim. Nessa altura o que havia
era uma cidade fantasma e abandonada. Hoje temos os
mesmos prédios mas
recuperados. O centro histórico está bonito, ninguém pode negar.
Em relação aos habitantes é preciso monitorizar. Há uma pressão
imobiliária, os preços estão a subir, mas é preciso entender
porquê. É um problema global de habitação. O AL tem impacto no
centro histórico, mas fora dele só representa 5% das habitações.
Não é lá que querem estar os turistas.
E os preços?
Os preços estão a
subir porque há falta de arrendamento. E não é porque as casas
estão a ser usadas para AL: no último ano houve, sim, uma explosão
de aquisições por parte de estrangeiros com grande capacidade
financeira, como resultado de um programa de captação de
investimento que deu certo. Não foi casual. Foi um programa do
Governo, aliado a uma estratégia de marketing forte das
imobiliárias, que conseguiu trazer investimento, especialmente dos
Residentes Não Habituais. Os vistos gold também, mas na área do
alojamento têm um papel residual. O regime dos residentes não
habituais tem trazido franceses e belgas que adoram fazer recuperação
de casas. São duas mil compras o ano passado no centro histórico:
para nós é caro, para eles é uma pechincha. Não compram porque o
AL é o
el dorado. Compram
porque foi criado um regime com benefícios fiscais interessantes e a
imagem de Portugal está muito positiva. Vêem-no como um país
seguro, acessível para as suas reformas e tranquilo, onde podem
comprar uma casa muito melhor e barata.
E os proprietários
portugueses?
Os que viveram com
as mesmas rendas durante 40 ou 50 anos, agora com a Lei das Rendas
(que foi o princípio de tudo), estão a olhar para o que cobram. Com
a procura de casas a aumentar, muitos estão a optar por vender. Isto
passou-se no último ano. Quem liberta os imóveis está a vender.
Claro que cria pressão e os preços podem manter-se difíceis para
os compradores nacionais e mais tradicionais. É preciso fazer algo
para conter esse aumento dos preços? Essa pressão sobre os preços
tem mais a ver com a compra dos estrangeiros. Vamos culpá-los? Não.
Estão a responder a um apelo nosso e estão a fazer o que nunca se
conseguiu: trazer dinheiro para a reabilitação. A primeira reacção
que se tem é querer proibir tudo, proibir a hotelaria, proibir o AL.
Mas acham que os estrangeiros vão deixar de comprar se proibirem o
AL? Chegam a obter poupanças de mil euros por mês com o regime
especial... Temos de pensar como usar este fluxo financeiro para algo
que possa ser mais interessante para a cidade. E para isso é preciso
falar com todas as partes, avaliar, monitorizar. Estão a dialogar
com outras associações e com o Governo? Neste momento estamos a
estudar o assunto e a conversar com todos. E muitas vezes percebemos
que há pontos em comum e muitos mal entendidos. Por isso, nesta
fase, não temos como objectivo trazer uma solução já pronta mas
ouvir e explicar. Porque há um estereótipo completamente errado em
relação ao AL. Estamos tentar marcar o máximo de reuniões
possível com todos. Queremos ser construtivos neste processo. O
Governo já disse que ia mexer no regime jurídico, nomeadamente no
que toca à “monitorização e sã convivência entre os vários
tipos de oferta turística”. Têm receio do que possa vir a ser
alterado? Temos receio. Não pela linha e orientação do Governo.
Todos os regimes novos têm coisas para afinar, mas o nosso grande
receio é que essas correcções sirvam de oportunidade para colocar
barreiras. Algumas podem parecer pequenas questões técnicas mas são
estratégias de criar barreiras concorrenciais puras. A hotelaria
defende que o registo de uma casa em AL devia ser autorizado pelo
condomínio... De repente a hotelaria do mundo inteiro está
preocupada com os condóminos. Essa questão tem sido muito falada em
Espanha. Eé o vírus mais tóxico que se pode colocar e que passa
como algo normal. A estratégia é simples: primeiro cria-se o medo
(segurança, ruído, etc) e falase com a imprensa. Depois, o assunto
desaparece mas começa a ganhar vida própria porque é absorvido.
Hoje vejo os partidos de esquerda a absorver o discurso da hotelaria.
Segundo noticiou o Jornal de Negócios, em cima da mesa está acabar
com as diferenças de tratamento no IRS e IRC entre senhorios com
imóveis no alojamento local e no mercado habitacional. É um
entrave? A discussão como está a ser feita é errada e não faz
sentido. Esta comparação, aliás, demonstra o grande
desconhecimento sobre o AL, que é uma actividade de prestação de
serviços muito exigente, com uma enorme lista de custos associados
como qualquer actividade empresarial. O arrendamento tradicional é
um rendimento passivo de património . Achar que prejudicar uma
actividade empresarial nova e estratégica para o país ajuda a
incentivar o arrendamento é um erro duplo. Um aumento de impostos
seria também um retrocesso gigantesco no processo de legalização
de uma actividade que viveu na economia paralela durante décadas e
agora começa a pagar impostos. Além disto, o AL está incluído na
categoria da “hotelaria, restauração e similares”. Portugal é
talvez um dos únicos países no mundo onde isso acontece e é justo
para todos. Alterar a taxa do AL seria grave pois iria criar uma
situação de concorrência injusta e em prejuízo da parte mais
fraca já que 90% são micro proprietários. Pediram à Confederação
do Turismo para fazerem parte da estrutura. Já tiveram resposta?
Estávamos na expectativa de o pedido ter sido aprovado na última
reunião mas a decisão foi adiada. Um sector que hoje em Lisboa,
pelas nossas estimativas, já representa um terço da capacidade de
alojamento de turistas, que tem um papel importante, que está a
legalizar-se, que está à frente dos outros países, faz parte do
turismo. É, no mínimo, de direito sermos associados da CTP. A
confederação é o grande espaço de debate e queremos fazer parte
dela.
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