quarta-feira, 15 de junho de 2016

30 questões, 1 suspeita, 0 respostas / PÚBLICO // Finanças disponíveis para colaborar no apuramento criminal de crédito malparado na CGD / EXPRESSO


EDITORIAL
30 questões, 1 suspeita, 0 respostas
DIRECÇÃO EDITORIAL 15/06/2016 – PÚBLICO
Começa a ser difícil aos deputados justificar não avançar com uma comissão de inquérito à Caixa.
Já aqui neste espaço defendemos que uma comissão de inquérito poderia ser um instrumento parlamentar útil para tentar perceber o que se passou na Caixa Geral de Depósitos (CGD) nos últimos anos e que possa fazer alguma luz sobre o porquê de o banco estar a precisar de uma injecção de capitais na ordem dos 4 mil milhões de euros. E deixámos aqui algumas perguntas que necessitavam de respostas: as sucessivas administrações da CGD cumpriram os critérios de prudência nos créditos que foram concedidos? Houve alguma outra motivação na concessão de crédito que não uma razão económica? O banco deu crédito para accionistas disputarem o poder noutros bancos concorrentes? O banco deu crédito a mando do poder político?

As estas o PSD veio acrescentar mais 30 questões sobre o banco público que enviou ao Governo para tentar perceber, nomeadamente, qual é o plano de reestruturação que está a ser negociado com Bruxelas que, pela voz do Marques Mendes, já percebemos que poderá implicar muitos despedimentos. Na trintena de questões levantadas, os sociais-democratas também perguntam ao Governo: “Como justifica que os contribuintes portugueses tenham de fazer esse esforço tão mais elevado?”

São perguntas legítimas e que merecem não ficar sem resposta. Algumas, como as relativas ao plano de recapitalização, serão de resposta mais fácil e até poderão ser abordadas pelo primeiro-ministro no debate quinzenal que vai acontecer esta quarta-feira no Parlamento. Para outras, como perceber se as sucessivas administrações da Caixa seguiram regras rigorosas na atribuição de créditos, as respostas exigem investigação e ouvir os próprios gestores que nos últimos anos passaram pelo banco público e que estiveram envolvidos nessas operações.

A necessidade de uma comissão de inquérito tornou-se ainda mais premente depois de esta terça-feira o Ministério das Finanças, em reacção a uma notícia publicada pelo Correio da Manhã, ter vindo mostrar que também tem mais dúvidas do que certezas em relação ao que se passou na CGD nos últimos anos. O jornal faz uma manchete a dizer “Crédito a amigos afunda Caixa”, referindo-se a “mais de 2,3 mil milhões de euros de empréstimos que estão em risco de não serem pagos à CGD”, tendo sido os mais problemáticos concedidos na administração de Carlos Santos Ferreira e Armando Vara. O ministério de Mário Centeno, que tem a tutela do banco, reage à notícia dizendo que, se houve créditos concedidos sem a devida avaliação de risco, essa situação deveria ter sido e deve ser reportada e “sujeita às diligências entendidas por convenientes, nomeadamente no campo do apuramento de responsabilidade civil e criminal”.


Tendo o PSD 30 perguntas, e tendo o ministério que tutela a CGD admitido poder haver dúvidas sobre procedimentos passados, qual é o argumento que sobra aos sociais-democratas e socialistas para não avançarem com a dita comissão de inquérito?


Finanças disponíveis para colaborar no apuramento criminal de crédito malparado na CGD

Ministério das Finanças remete para "entidades competentes" investigação a créditos anteriores à recapitalização de 2012. Em causa estão empréstimos problemáticos concedidos durante a administração de Carlos Santos Ferreira e Armando Vara

LUÍSA MEIRELES
ISABEL VICENTE


O Ministério das Finanças, em resposta enviada ao Expresso, considera que se houve créditos concedidos pela Caixa Geral de Depósitos anteriormente à recapitalização de 2012 sem a devida avaliação, "essa questão deveria ter sido reportada nessa altura" e "sujeita às diligências entendidas por convenientes, nomeadamente no campo do apuramento de responsabilidade civil e criminal".

O "Correio da Manhã" divulgou esta terça-feira os resultados de uma auditoria, realizada em agosto de 2015, segundo a qual estariam em risco de não serem pagos a este banco público 2,3 mil milhões de euros de empréstimos, supostamente por ter havido "deficiente análise de risco" ou dadas garantias insuficientes. Deste montante, a Caixa já registou imparidades de 912,1 milhões (reportando-se a agosto de 2015).

Os empréstimos mais problemáticos teriam sido concedidos no tempo do mandato de Carlos Santos Ferreira e Armando Vara, em 2005, mas também houve outros mais recentes. Santos Ferreira foi sucedido por Faria de Oliveira e depois por José de Matos, em 2012.

Questionada pelo Expresso, fonte oficial do Ministério considera que "cabe às entidades competentes a todo o tempo realizar as diligências que entendam convenientes e adequadas nos termos da legislação em vigor". "O Governo está disponível para colaborar", acrescenta a fonte das Finanças.

A CGD foi recapitalizada em 2012 com 1650 milhões de euros, sublinha o Ministério, adiantando que "a injeção de capital realizada, de acordo com as regras de capitalização no quadro do programa de ajustamento, foram as necessárias para fazer face às imparidades detetadas. Neste contexto, todos os créditos existentes terão sido avaliados pela administração, pelo Banco de Portugal, pelos auditores da CGD e pela troika".

Assim sendo, diz ainda fonte do Ministério, "tendo em conta a avaliação realizada, prejuízos decorrentes de imparidades de crédito não registadas em 2012 apenas podem decorrer de eventos supervenientes e não antecipáveis em 2012 e, por maioria de razão, não antecipáveis em períodos anteriores e/ou avaliação deficiente de risco por parte das entidades envolvidas na determinação do montante da capitalização necessária".

Na ordem do dia está o plano de reestruturação e recapitalização da CGD, elaborado pela nova administração, liderada por António Domingues, a qual ainda não tomou posse.



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