PSOE
resistiu e PP formará governo
JORGE ALMEIDA
FERNANDES 27/06/2016 – PÚBLICO
“Pedro
Sánchez ganha várias batalhas perdendo”. Perde votos mas salva o
PSOE da ameaça do Podemos.
Houve um efeito
"Brexit" nas eleições espanholas? Muitos jornalistas o
admitem para justificar a surpresa do resultado. Segundo Enric
Juliana, director-adjunto do La Vanguardia, "a vaga de
inquietação que percorre a Europa influiu no voto espanhol",
tal como no eleitorado conservador "funcionou o medo em relação
ao Podemos". Terá também pesado o temor de "terceiras
eleições": além de exasperarem os cidadãos, os tempos de
risco não são compatíveis com a ausência de governo meses a fio.
Mas ainda não há estudos que fundamentem tais opiniões.
Há outras
conclusões mais relevantes. A estratégia de polarização, imposta
pelo Partido Popular (PP) e pelo Podemos, só funcionou num sentido:
em benefício de Mariano Rajoy. Não saiu das urnas a "maioria
de esquerda" prevista por alguns analistas. Mais importante:
falhou a estratégia do "sorpasso", lançada pelo Podemos
contra o PSOE, para o marginalizar e entregar a Pablo Iglesias a
hegemonia da esquerda. Tal como fracassou a opção eleitoralista da
aliança Podemos-Esquerda Unida, imposta por Iglesias contra parte
dos dirigentes do partido.
Os partidos
"Pedro Sánchez
ganha várias batalhas perdendo", escreve o El País. O PSOE
perdeu votos e deputados, no pior resultado desde a Transição, mas
salvou o estatuto de líder da esquerda e da oposição. E talvez
Pedro Sánchez "salve a cabeça" que muitos esperavam ver
rolar na noite de domingo, já que evitou o "sorpasso" e a
sua rival Susana Diáz perdeu na Andaluzia contra o PP — também
pela primeira vez.
Desde 2014 que a
dinâmica política tem soprado a favor das novas forças emergentes,
organizadas sob a forma de movimentos. Os socialistas resistiram,
para surpresa de muitos, ao rolo compressor do Podemos. "A
grande vantagem do PSOE em relação ao Podemos é ser um partido
propriamente dito, que em teoria deveria ser coeso, enquanto o outro
é um conjunto de confluências", escreveu há semanas o
politólogo Fernando Vallespín. Demonstrou, tal como o PP, a
importância da sua tradição e da sua implantação local.
As eleições
mostraram ainda que persistem traços bipartidários do sistema
desfeito em Dezembro de 2015. "O quadripartidarismo
consolida-se, embora sob um modelo 1+2+1", escreve no El País o
jornalista Francisco Camas Garcia. "O PP lidera com mais
distância em relação aos outros e potencia o bipartidarismo, que
não retrocede e começa a conviver com superioridade perante os
novos partidos." O retrocesso do Cidadãos, aparentemente devido
ao regresso de eleitores ao PP, é um forte sinal. Se o Podemos
parece mais sólido, vai enfrentar um desafio nos próximos tempos:
se não mostrar capacidade de mudar a política espanhola
decepcionará as aspirações e miragens dos seus eleitores. Uma vez
mais será preciso esperar, pelos acontecimentos e por novos
inquéritos. A ideia que fica é a de que o novo terreno político
espanhol é muito escorregadio.
Pactos e governo
Só aparentemente
estas eleições produziram um novo impasse. Forçarão os políticos
a formar uma maioria governamental. O cenário ideal do PP seria uma
"grande coligação" com o PSOE e com o Cidadãos, agora
com a justificação da nova tormenta europeia. Para os socialistas é
uma solução inviável, que deixaria o monopólio da oposição ao
Podemos numa fase crítica. Outra coisa é encontrar um modo de
viabilizar um governo do PP, sem perder a face.
O PSOE, com menos 52
mandatos que o PP, deve ir para a oposição mas também facilitar a
formação de um governo "quanto antes", declarou Guillermo
Fernández Vara, presidente socialista da Extremadura. Sánchez disse
aparentemente o contrário mas trata-se de um momento retórico e de
prudência num tema que se arrisca a dividir o PSOE. De resto, a
Espanha tem experiência em negociar coligações com partidos
regionais, neste caso entre o PP, o Cidadãos, o Partido Nacionalista
Basco e mais alguém que possa, por exemplo, abster-se.
Para alterar a
posição perante o PP, a direcção socialista necessita de alguma
dramatização, como a ameaça de "terceiras eleições".
De resto, no mesmo cenário de crise europeia, numa sociedade que
exige reformas e que tem problemas como o da Catalunha, PP e PSOE
serão obrigados a negociar entre si.
Estas eleições
tiveram uma repercussão europeia. O diário digital El Confidencial
abria ontem a sua homepage com este título: "A Europa celebra
em Espanha a primeira derrota do populismo a seguir ao ‘Brexit’."
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