@GCanavilhas
Esta jornalista ainda não foi despedida por escrever factos falsos?
2:10
PM - 19 Jun 2016
EDITORIAL
Canavilhas
caiu na ratoeira dos números
DIRECÇÃO EDITORIAL
19/06/2016 / PÚBLICO
A deputada
socialista Gabriela Canavilhas fez este domingo um “desabafo” (a
palavra é sua) no Twitter acusando este jornal de publicar “factos
falsos” sobre a manifestação deste sábado a favor da escola
pública, e apelando – de forma populista – ao despedimento da
autora da notícia, a jornalista Clara Viana.
Não sabemos se a
ideia foi de Canavilhas, mas ao longo do dia recebemos também cartas
de leitores – quase milimetricamente iguais – indignados com essa
mesma notícia e criticando, na essência, dois factos. 1) termos
escrito que, segundo a PSP, estiveram na manifestação da Fenprof 15
mil e não as 80 mil pessoas calculadas pelo sindicato; 2) e que
Catarina Martins e Jerónimo de Sousa tinham estado no palco ao lado
de Mário Nogueira, Ana Benavente, Arménio Carlos e Helena Roseta.
Sobre os políticos,
cometemos de facto um erro, já corrigido. Os líderes do BE e do PCP
estiveram em frente ao palco – como todos vimos na televisão –
mas não em cima do palco.
Sobre a primeira
questão – a que de facto irritou Canavilhas – algumas
considerações. O PÚBLICO citou dois números: o da organização
(80 mil) e o da PSP (15 mil). Alguns jornais, é verdade, citaram
apenas a Fenprof. Canavilhas terá preferido essas notícias. A
deputada escreve como se a sua opinião fosse um facto científico
inquestionável e não soubéssemos todos que a guerra dos números é
sempre controversa e de natureza política.
Mesmo métodos mais
rigorosos do que a contagem “a olho” suscitam polémica.
Sobretudo porque, em regra, calculam muito abaixo dos números
anunciados por quem organiza. Quem organiza tem paixão. Quem é
parte desinteressada é à partida mais distante e imparcial.
Canavilhas deve conhecer Clark McPhail, que se inspirou em Herbert
Jacobs, que também muito influenciou Steven Doig – três fanáticos
das contagens de multidões. Nos anos 1990, depois de uma guerra que
chegou aos tribunais, o Congresso dos EUA proibiu até a polícia de
tornar públicas as suas estimativas da dimensão de manifestações.
Espanta por tudo
isto que uma deputada que foi ministra da Cultura caia nesta velha
ratoeira. A próxima vez que Canavilhas quiser acusar o PÚBLICO de
publicar “factos falsos” deverá fazer melhor o seu trabalho de
casa.
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