Manifestação
pela escola pública junta alguns milhares de pessoas em Lisboa
CLARA VIANA
18/06/2016 -PÚBLICO
Secretário-geral
da Fenprof diz que estiveram mais de 80 mil na rua, mas segundo a PSP
participaram na manifestação cerca de 15 mil pessoas.
No Marquês de
Pombal, em Lisboa, quase não há sombras e, por isso, estar ali
parado ao Sol não é tarefa fácil. Já perto da descida para a
Avenida da Liberdade, um grupo de dezenas de estudantes mostra-se
impaciente: “Parem de falar, queremos avançar”.
O recado é dirigido
aos que, no palco, montado por detrás da estátua do Marquês, se
vão sucedendo em discursos em defesa da escola pública. Esta é
também a razão pela qual aquele grupo de estudantes também marcou
presença no centro de Lisboa, mas com os discursos a alongarem-se já
por mais de uma hora, começa a ser difícil continuarem ali parados
a ouvir.
O secretário-geral
da Federação Nacional de Professores, Mário Nogueira, é um dos
oradores. Dirá mais tarde que participaram mais de 80 mil pessoas.
“Esta foi a maior manifestação de sempre em defesa da escola
pública”, declarou. Já a PSP aponta para cerca de 15 mil, segundo
indicou ao PÚBLICO um responsável da polícia.
Marcha apoiada por
partidos
A manifestação em
defesa da escola pública, promovida pela Federação Nacional de
Professores e apoiada pelo PS, PCP e Bloco de Esquerda, começara por
volta das 14h30. Primeiro a concentração no Marquês de Pombal, que
reuniu alguns milhares de pessoas, depois o desfile pela Avenida da
Liberdade com fim no Rossio, que se iniciou quase uma hora e meia
depois.
Ao contrário do
habitual, esta é uma manifestação a favor do Governo, mais
concretamente da decisão do Ministério da Educação em reduzir o
financiamento do Estado aos colégios com contrato de associação. O
desfile foi convocado no mesmo dia, 29 de Maio, em que os colégios
privados conseguiram reunir cerca de 40 mil pessoas em Lisboa, em
protesto contra a decisão do ME, que foi agora concretizada por via
de um novo concurso público.
Neste domingo, os
colégios voltarão à rua, desta vez no Porto. No próximo ano
lectivo, metade dos 79 colégios com contratos de associação não
terão financiamento para abrir novas turmas de início de ciclo
(5.º, 7.º e 10.º ano) por se encontrarem em zonas onde existe
oferta pública. Em 2016/2017, os contratos com os colégios custarão
ao Estado 107 milhões de euros, uma redução de cerca de 30 milhões
em comparação com a verba que lhes foi reservada este ano de modo a
garantirem ensino gratuito aos seus alunos.
Simão Calisto, 17
anos, faz parte da coluna de estudantes que se juntou no Marquês de
Pombal, por via das redes sociais. “A escola pública precisa de
mais meios, de mais professores, de mais funcionários, de cantinas
com qualidade. Em resumo, de mais investimento”, diz ao PÚBLICO
sobre as razões que o levaram a aderir a esta manifestação, que
acontece entre exames. Nesta sexta-feira, este aluno do 11.º ano,
que pertence à Associação De Estudantes da Escola Secundária
Sebastião da Gama, realizou o exame de Física e Química A. Na
próxima quarta-feira será a vez de Biologia e Geologia.
Ao lado, João
Patacho, que vai terminar agora o ensino secundário, corrobora:
“Passei por quatro escolas públicas. E em todas há matérias que
ficaram por dar porque não havia material, visitas de estudo que não
se fizeram porque não havia dinheiro. Sempre lutei muito por
melhores condições nas escolas, mas as respostas que sempre me
deram foi de que não era possível, porque o ministério não dava
financiamento. Mas para os colégios já havia dinheiro”.
Aceitar as
diferenças
No palco montado no
Marquês de Pombal, chegou a vez de Diogo Mendes falar. Ele é
presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária Lima
de Freitas, em Setúbal, e diz quer a escola pública lhe “ensinou
que tudo é possível” e que a “diferença é algo de bom”. É
também o que diz Rosa Silva, professora de Educação Visual e
Tecnológica e que veio de Vila Nova de Famalicão. Tem nas mãos um
dos cartazes reproduzidos pela organização do desfile: mãos de
criança pintadas de várias cores.
“O que estas cores
querem dizer é que no ensino público aceitamos todas as
diferenças”, descreve. Ela é professora do Agrupamento de Escolas
D. Maria II, de Vila Nova de Famalicão. Conta que a cerca de três
quilómetros da escola onde lecciona existe um colégio com contrato
de associação, que já este ano recusou a entrada de um aluno negro
que tinha um registo de problemas de comportamento. “Ficou na nossa
escola, mas os bons estudantes não. São todos apanhados pelo
colégio”, desabafa.
No palco, o
secretário-geral da FENPROF, Mário Nogueira, saúda a "massa
de gente" que afirma estar no que diz ser uma "grande
manifestação”. A seu lado marcam presença presença Catarina
Martins do Bloco de Esquerda, Jerónimo de Sousa do PCP, Ana
Benavente do PS, o secretário-geral da CGTP-IN Arménio Carlos e a
presidente da Assembleia Municipal de Lisboa Helena Roseta, entre
outros.
Segundo a
organização, havia três comboios especiais organizados para trazer
manifestantes do Norte do país, e estão programados vários
autocarros a partir de todas as capitais de distrito em direcção a
Lisboa. No início deste mês, a Fenprof entregou na Assembleia da
República uma petição em defesa da escola pública, que foi
subscrita por 71 mil pessoas.
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