Chineses querem
comprar vinhas no Douro, hotéis e campos de golfe
Todos os meses, 20
empresas europeias são compradas por chineses. Alemanha está
preocupada e pede travões a Bruxelas.
Ofensiva de compras
estratégicas na Europa pela China. Portugal à venda?
O ministro Alemão
Sigmar Gabriel, ministro da Economia, afirma preocupado: “Ser-se
estatal desequilibra a concorrência com outras empresas. Preocupado,
o governante pediu à UE medidas. Um mercado aberto não é "um
mercado com intervenção de um Estado capitalista", defende.
Portugal sempre foi
entendido como uma porta de entrada para a Europa por parte dos
empresários chineses.
E agora não se
trata já de apenas plataformas de despejo de quinquilharia
pseudo-turística, agora trata-se de investimento estratégico –
Institucional …
Os maiores
investimentos de empresas chinesas têm mão do governo.
OVOODOCORVO
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Chineses querem
comprar vinhas no Douro, hotéis e campos de golfe
Todos os meses, 20
empresas europeias são compradas por chineses. Alemanha está
preocupada e pede travões a Bruxelas
19 DE JUNHO DE 2016
Ana Margarida
Pinheiro
Todos os meses, 20
empresas europeias são compradas por investidores chineses. Só em
Portugal, entre 2011 a 2014, o investimento de Pequim ascendeu a 6,5
mil milhões de euros, catapultado pelas vendas da EDP, REN e
Fidelidade. Vinhas no Douro, resorts com campo de golfe e prédios
para renovar ainda chamam os grandes homens de negócios chineses a
Portugal, atraídos também pelos vistos gold - uma porta de entrada
na Europa. Mas os maiores negócios fazem-se agora na Alemanha. Neste
ano, 25 empresas alemãs já passaram para mãos chinesas, negócios
avaliados em oito mil milhões de euros - no total da Europa, até 15
de junho, eram 122. Angela Merkel está preocupada e pede travões à
Europa.
Bruxelas, porém,
não tem mecanismos que permitam travar o investimento chinês. A
Comissão Europeia, questionada pelo DN/Dinheiro Vivo, lembra que
"alguns Estados membros adotaram os seus próprios sistemas de
filtragem, baseados na segurança e no interesse público". Mas
avisa que são "exceções à livre circulação de capitais e,
por isso, devem ser interpretadas de forma muito limitada".
Em vendas e fusões,
os chineses investiram, no ano passado, 35 mil milhões de euros na
Europa.
Fernanda Ilhéu,
professora do ISEG e coordenadora do centro de apoio ao investimento
ChinaLogus, não tem dúvidas: A "rentabilidade financeira e
posicionamento estratégico" de alguns ativos, tal como "os
baixos preços" apresentados, são os grandes fatores de atração
de um investimento que assume várias vertentes: emigrantes com
lojas, restaurantes e negócios de importação e exportação;
"grandes empresas estatais como a China Three Gorges, dona da
EDP, com uma visão estratégica e posicionamento global e
investimento"; e grandes empresas privadas, como a Fosun, dona
dos antigos seguros da Caixa (Fidelidade e Multicare), que são
"encorajadas pelo governo chinês na estratégia de
globalização".
Em Portugal
juntam-se ainda famílias de classe média e alta que procuram as
Autorizações de Residência para atividade de investimento, os
conhecidos vistos gold.
"Na maior parte
dos casos, o objetivo primordial dos investidores é o mesmo: o
acesso dos filhos a uma educação internacional; a possibilidade de
viver em cidades com baixo nível de poluição e com menos stress,
sobretudo para os investidores oriundos das grandes cidades como
Xangai, Pequim e Cantão [Guangzhou]", diz Sandra Fernandes,
especialista em direito imobiliário na DCS Advogados.
Até maio foram
atribuídos 2651 vistos a chineses, 77% do total de cartões dourados
entregues desde outubro de 2012. Sérgio Alves, diretor-geral da
Câmara de Comércio Luso-Chinesa, acha pouco.
"Decretámos um
quadro interessante para o investidor privado, mas não fomos
promovê-lo. Foram todos gerados por pequenas iniciativas de empresas
chinesas que não impulsionaram o mercado. Não deveria ter trazido
os grandes construtores chineses? E ter criado de facto um volume de
investimento? Chegamos aos dois e três milhões a vender casitas de
meio milhão cujo retorno para a economia portuguesa é difícil de
medir."
Estamos a perder
para Espanha, reconhece Sandra Fernandes, devido, essencialmente, ao
atraso na aprovação dos pedidos de atribuição e renovações.
"Mas o interesse mantém-se."
Miguel Farinha,
partner da EY, assume que o ritmo de aquisições em Portugal
abrandou. No ano passado não houve nenhum grande negócio. "Já
assessoramos algumas transações de 2014 para cá, mas a dimensão é
muito importante" e condiciona o interesse dos grandes grupos em
Portugal. "Quando falamos numa faturação de dez milhões de
euros sabemos que tem pouca expressão."
Em abril, Miguel
Farinha foi em roadshow a seis cidades chinesas para apresentar mais
de 50 oportunidades de negócio em Portugal. Reuniu-se com mais de
250 investidores e diz que "continuam muito interessados"
no país. Em que áreas? "O imobiliário continua a receber a
maior atenção. Não tanto os vistos gold, mas a reabilitação
urbana."
Não é só: o
turismo e a agroindústria também são muito procurados. "Querem
marcas próprias em setores como o azeite ou o vinho; pedem para
comprar grupos hoteleiros, uma rede já montada, com resorts e golfe,
e têm muito interesse na indústria de maquinaria."
Há ainda um setor
inusitado que não passa ao lado dos chineses: "Falam-nos
bastante de futebol", numa altura em que se tenta dinamizar,
também lá, este desporto com escolinhas de formação e novos
investidores. Quem não sabe que o melhor jogador do mundo é
português? "Muitas empresas chinesas acabam por abordar o
turismo, a educação e até o futebol, quando promovem o nosso país
na China."
Na Europa, os
interesses são igualmente vastos. Miguel Farinha lembra que "estão
muito interessados em história, castelos, palácios". Sérgio
Alves completa: "É uma questão de reputação que vai da
escala mais pequenina do chinês que compra uma quinta vinhateira no
Douro a um castelo em França."
Os maiores
investimentos de empresas chinesas têm mão do governo. É o caso do
grupo HNA, que será dono de 23,7% do consórcio privado que comprou
a TAP - o próximo grande negócio a fazer-se em Portugal -, e que já
adquiriu a International Currency Exchange; a Swissport ou Ingram
Micro. O Anbang comprou o emblemático Waldorf Astoria. E a Fosun,
bem conhecida dos portugueses, que no ano passado adquiriu o Club
Med, está à espera de autorização para comprar a construtora
alemã WindMW.
Ser-se estatal,
alerta Sigmar Gabriel, ministro da Economia alemão, desequilibra a
concorrência com outras empresas. Preocupado, o governante pediu à
UE medidas. Um mercado aberto não é "um mercado com
intervenção de um Estado capitalista", defende.
Sérgio Alves,
diretor-geral da CCILC, coloca-se ao lado dos chineses: "Algumas
elites económicas têm conseguido travar muitas investidas chinesas.
Por alguma razão só há carros europeus na Europa; a indústria
automóvel alemã vai continuar a ter a sua coutada. Motinhas pode
haver, os carrinhos não entram aqui", critica.
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