Movimento
5 Estrelas prepara-se para vitória estrondosa em Roma
FÉLIX RIBEIRO
19/06/2016 – 23:04
O
movimento do humorista Beppe Grillo pode conquistar duas cidades ao
partido do primeiro-ministro, que se arrisca a perder Turim e tenta
sobreviver em Milão.
As sondagens à boca
das urnas na segunda ronda das eleições municipais em Itália dão
por garantida uma vitória estrondosa do Movimento 5 Estrelas em
Roma, onde a carismática Virginia Raggi se pode tornar a primeira
alcaide mulher na história da maior cidade do país: as projecções
dão-lhe entre 65% e 69% dos votos, enquanto o seu opositor não deve
ultrapassar os 35%.
Mas as eleições
deste domingo em 123 municípios italianos têm repercussões mais
vastas do que o controlo das principais cidades do país e, a julgar
pelas sondagens anunciadas depois do fecho das urnas, às 22h de
Portugal Continental, o movimento do humorista Beppe Grillo parece
prestes a catapultar-se para um novo patamar.
Para além da
vitória em Roma, as projecções antecipam que o Movimento 5
Estrelas (M5S) conquiste também Turim, onde o candidato do Partido
Democrático (PD) — do primeiro-ministro, Matteo Renzi — venceu
por mais de dez pontos percentuais na primeira volta. É Appendino,
outra mulher, quem deve vencer este domingo o actual presidente de
Câmara, conquistando entre 50 a 54% dos votos.
Confirmada a vitória
em Roma e antecipando-se uma reviravolta em Turim, os olhos voltam-se
para Milão, onde Matteo Renzi joga a sua credibilidade e,
possivelmente, o desenho das eleições de 2018. Na primeira volta, o
candidato de centro-esquerda ficou surpreendentemente empatado com
Stefano Parisi, o homem impulsionado por uma aliança entre as
direitas.
Renzi espera que o
centro-esquerda prevaleça pelo menos em Milão para se manter não
só à tona no seu partido — no qual, em apenas dois anos, passou
de figura consensual a elemento fracturante — mas também para
evitar um golpe de imagem a poucos meses do referendo constitucional
de Outubro, em que joga o seu futuro político, prometendo demitir-se
em caso de derrota.
As sondagens à boca
das urnas são animadoras para Renzi, mas não garantem o triunfo.
Beppe Sala surge com 49% a 53% dos votos, enquanto Stefano Parisi
pode vencer com 47% a 51%. Se para o PD seria bom vencer em Milão,
Turim e Bolonha, só esta última cidade parece garantida pelas
sondagens à boca das urnas.
Ao final da tarde, a
imprensa italiana dava conta de uma queda generalizada na
participação, em linha com o que as agências descreviam como um
ambiente de “pouco entusiasmo” e resignação. Por volta das 19h,
a afluência nos 123 municípios rondava apenas os 36% dos eleitores,
quando no primeiro turno a votação estava pelos 43%.
O dia já vinha
sendo encarado como uma celebração do movimento de Beppe Grillo com
uma vitória folgada de Virginia Raggi em Roma, que as projecções
agora confirmam. As eleições na maior cidade do país pareciam
desenhadas à medida do seu M5S, para quem a classe política
italiana está incuravelmente enquistada de vícios, conflitos de
interesse e corrupção.
Roma está sem
autarca desde Outubro do último ano, quando se demitiu Ignazio
Marino, do PD, confrontado então com alegações de uso indevido de
fundos públicos. A cidade tem também uma dívida de 13 mil milhões
de euros — o dobro do seu orçamento anual —, os serviços
públicos não funcionam devidamente, sobretudo os transportes
públicos e a recolha de lixo. Há também dezenas de grandes
empresários e políticos em julgamento num grande esquema de
corrupção com alegada influência da máfia — o caso ficou mesmo
conhecido como Mafia Capitale.
Raggi vingou sem
nunca entrar em grande detalhe sobre o seu plano para a cidade — o
seu opositor também não o fez. A sua mensagem, como a do M5S, é
sobretudo o elogio da ruptura: “Roma é uma cidade devastada”,
disse ao El País. “Não tenho uma varinha mágica. Mas depois de
mais de 20 anos de maus governos, é urgente mudar a política que
está a levar esta cidade ao colapso.”
As ruas repetiram o
seu raciocínio ao longo do dia. “Nós, os romanos, estamos fartos:
o último autarca trouxe poucos resultados e uma grande desilusão.
Contando com este tipo de insatisfação, é inevitável que alguém
faça algo melhor”, argumentava Paolo à Reuters, à saída das
urnas. “É um dia muito especial, hoje, porque há a possibilidade
de ter alguém novo que poderá mudar as coisas”, diz, por sua vez,
Aldo, reformado de 72 anos que votou no M5S. “Todos os outros
falharam, esperamos que estes consigam.”
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