EDITORIAL / PÚBLICO
A leviandade de
Wolfgang Schäuble
DIRECÇÃO EDITORIAL
29/06/2016 - PÚBLICO
O ministro das
Finanças alemão perdeu uma (mais uma) oportunidade de estar calado
Numa altura em que
os mercados estão com os nervos à flor da pele e ainda se tenta
perceber as ondas de choque do “Brexit”, não é que o ministro
das Finanças alemão teve a ideia peregrina de colocar em cima da
mesa a possibilidade de Portugal ser alvo de um novo resgate?
Wolfgang Schäuble, citado pelas agências Bloomberg e Reuters, terá
dito numa conferência que Portugal está a pedir “um segundo
programa” e que “vai consegui-lo”. É uma frase à frente da
qual deveriam ser colocados vários pontos de interrogação e um
grande ponto de exclamação que expressasse espanto e indignação,
já que Schäuble faz um anúncio falso e de uma forma completamente
leviana e incendiária. Mais tarde, o governante alemão veio
corrigir o que tinha dito antes: "os portugueses não o querem e
não vão precisar [de um segundo resgate] se cumprirem as regras
europeias".
É caso para dizer
que a emenda não é muito melhor do que o soneto. Por que razão
nesta altura de enorme instabilidade no mercado da dívida, o
todo-poderoso ministro alemão se lembra de aventar a hipótese de um
novo resgate a Portugal? Mesmo que achasse que o país estivesse a
tomar um rumo errado nas contas públicas, cabe às instituições
europeias fazer alguma eventual reprimenda ou aplicar eventuais
sanções. E, de preferência, de uma forma contextualizada e não
com esta ligeireza como fez Wolfgang Schäuble. As declarações do
ministro alemão são perigosas porque podem transformar-se numa
espécie de profecia que se cumpre por si própria. A reacção
normal de um investidor que ouve alguém como Schäuble a dizer que
Portugal vai ter um novo resgate, é desatar a vender dívida pública
nacional. Ao governante alemão não basta corrigir ou precisar
palavras que foram ditas com uma enorme ligeireza; deve um pedido de
desculpas ao país.
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