Menezes viu "ódio pessoal" nas críticas de Rio, a esquerda viu "profunda divisão" à direita no Porto
Candidato do PS tenta capitalizar divisão no campo adversário. Rui Moreira satisfeito com apoio implícito de Rio
Luís Filipe Menezes foi conciso, mas duro, na reacção
às duras críticas que o actual presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, fez à sua
candidatura autárquica. "Eu, na política, nunca me movimentei pelo ódio pessoal.
O ódio cega-nos, torna-nos insensatos, faz-nos mentir e torna-nos por vezes um
pouco ridículos", disse Menezes, numa curta declaração à imprensa, sem direito a
perguntas, à margem da visita a uma obra em Gaia, concelho em que ainda é
presidente. A oposição vê nas declarações de Rio a prova de uma "profunda
divisão" à direita.
Rio declarara, na noite anterior, em entrevista à RTP, que seria "hipócrita"
se apoiasse Menezes e um projecto político "diametralmente oposto" do seu,
criticando o partido de ambos, o PSD, pela escolha do candidato ao Porto. "É
lamentável que, durante 12 anos, o PSD tenha dito à população para votar num
projecto como o meu e, a meio do meu mandato, venha dizer "votem no seu
contrário". Isto descredibiliza os partidos", disse.Rio bem frisou que nada o movia, pessoalmente, contra Menezes, mas o autarca de Gaia não acreditou. E contrapôs: "Eu, em relação ao senhor presidente da Câmara do Porto e em relação a qualquer outro político português, não tenho ódio, tenho respeito. O senhor presidente da Câmara do Porto foi eleito por três mandatos, merece o meu respeito e, portanto, tudo farei para que ele termine o seu mandato com dignidade", afirmou, repegando numa expressão cunhada na década de 90 por Cavaco Silva, então primeiro-ministro, em referência ao Presidente da República Mário Soares, numa fase de tensão política entre ambos.
Menezes afirmou ainda que o autarca do Porto realizou apenas "10%" do valor total do investimento feito em Gaia, nos últimos doze anos, argumentando: "Agora percebo por que é que há tantas famílias em dificuldades nos bairros sociais do Porto, tantos bairros que não foram recuperados, tanto comércio tradicional a fechar, tanta decrepitude na cidade e por que é que as sondagens me dão um grande apoio e há uma grande carência de uma viragem de ciclo no Porto".
Viragem é também o que clamam os candidatos Manuel Pizarro (PS), Pedro Carvalho (CDU) e José Soeiro (BE). "A entrevista apenas evidencia o que já se sabia, que há uma profunda divisão no espaço político da direita da nossa cidade, dos partidos que sustentam o Governo. E há dois candidatos desse espaço político - Luís Filipe Menezes e Rui Moreira - em posições completamente antagónicas", sustentou Pizarro, que saudou, nas palavras de Rio, a "clarificação do quadro político". "Isto tem várias vantagens para os eleitores, porque sabem que têm uma alternativa democrática, que é a do PS, com todas as condições para se impor, na medida em que promove uma mudança."
Uma reclamação que é também feita pela CDU e pelo BE. Defendendo que Rio e Menezes têm "mais pontos que os unem do que os que os separam", Pedro Carvalho defende: "A única coisa que os separa é a dívida per capita. Ambos vão deixar pesadas heranças para outros resolverem. Se Menezes deixa o problema da indemnização da VL9, Rio deixa o Mercado do Bolhão, a situação da escarpa das Fontainhas e os acordos extrajudiciais com a Soares da Costa e o grupo Altis".
Para o comunista, o mais surpreendente na entrevista do presidente da Câmara do Porto não foram as críticas a Menezes, mas o balanço positivo que ele fez dos seus mandatos. "Parece que está convencido da propaganda da revista camarária Porto Sempre e, realmente, o retrato que é ali apresentado não tem nada a ver com a realidade", argumenta.
Opinião partilhada por José Soeiro, que acusa o autarca de ter "criado uma série de mitos em torno da sua gestão". "A expressão máxima do que foi o mandato de Rui Rio é o que está a acontecer no Bairro do Nicolau hoje [ontem]", defendeu. (ver Local). Sobre Menezes, o bloquista considerou que Rio "foi enfático, mas o que disse não é novidade", frisando que Menezes e Rui Moreira são "duas candidaturas que se associam directamente ao Governo, uma apoiada pelo primeiro-ministro e outra pelo vice-primeiro-ministro".
Projecto "de faz-de-conta"
De todos os candidatos, o único que aparentava estar verdadeiramente satisfeito com as declarações de Rui Rio era o independente Rui Moreira. Mesmo que o autarca se tenha recusado a apoiar, claramente, a sua candidatura, Rui Moreira leu-a nas entrelinhas. "Não sou hipócrita. Se o dr. Rui Rio se revê numa candidatura como a nossa, e ele disse que se revia nos princípios da nossa candidatura - coesão social, boas contas da cidade -, fico satisfeito", disse o candidato, considerando que a posição de Rio é "importante". Quanto ao apoio declarado, garantiu, não o espera. "Ficava feliz, mas não estou à espera dele", disse.
Argumentando que "já não é comentador", Rui Moreira não quis pronunciar-se sobre as críticas directas de Rio a Luís Filipe Menezes, limitando-se a ironizar: "O projecto de Luís Filipe Menezes, de faz-de-conta, não é o meu projecto".
Já Nuno Cardoso, o outro candidato independente das autárquicas no Porto, garantiu ter uma postura de "não agressão" na campanha, mas criticou Rio. "Aquilo que vimos na entrevista é o que faz estes 12 anos de divisão, de politiquice, de lavar roupa suja. Precisamos rapidamente de ultrapassar isto", defendeu.
PSD: críticas foram "exageradas"
O líder do PSD-Porto, Virgílio Macedo, reagiu às
palavras de Rio, em declarações à Lusa, afirmando: "[A entrevista] não vai
prejudicar a campanha. As palavras de Rio são irrelevantes, porque é uma opinião
pessoal. Foram exageradas e não concordo com elas, mas é a forma de actuação de
Rui Rio." Macedo frisou que a "divergência de opiniões" entre Rio e Menezes é
"pública", pelo que "não há nenhuma novidade" nas declarações do autarca. "A
partir do dia 29 de Setembro, vai-se abrir um novo ciclo político e vejo os
portuenses e o concelho do Porto com forte convicção de que esse ciclo deverá
ser liderado por Menezes", afirmou.
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