Nicolau Santos
Segunda feira, 5 de
agosto de 2013 in
Expresso online
Revejo o excelente documentário que Pedro Coelho realizou
para a SIC sobre o BPN, com o título "Anatomia de um golpe".
No final de um dos episódios, depois de ouvidos três
especialistas em off-shores, que garantem que mesmo quando o dinheiro se escapa
por estes paraísos financeiros fica sempre um rasto, é colocada a pergunta
decisiva: qual a razão misteriosa pela qual as autoridades não vão atrás deste
dinheiro, preferindo antes esperar pelo final de um morosíssimo processo
judicial aparentemente infindável?
Mais uma vez se constata que Oliveira e Costa convidava
amigos a quem vendia acções a um preço X e se comprometia a recompra-las
passado dois ou três anos pelo dobro ou triplo do valor. E mais uma vez se
constata que de políticos a empresários, a esmagadora maioria dos convidados
para a festa era tudo gente ligada ao PSD. Dias Loureiro, Joaquim Coimbra,
Alberto Figueiredo, Francisco Sanches estiveram mesmo ligado à administração.
Cavaco Silva e Rui Machete foram duas personalidades que tiveram lucros
significativos com o investimento que foram convidados a fazer.
Sabe-se já que houve muita gente que recebeu financiamentos
que nunca pagou e quem tenha feito excelentes mais-valias com a compra e venda
de acções: 150% ou mais do que tinha investido. É bom que essas pessoas
percebam que os financiamentos que não liquidaram e as mais-valias que
embolsaram estão agora a ser pagas pelos contribuintes. Mais de quatro mil
milhões de euros. Um escândalo sem precedentes. Como lembrava recentemente
Silva Lopes, o BPN está a custar muito mais ao país que Alves de Reis e Jorge
de Brito juntos.
É por isso inadmissível este "laissez faire" por
parte das autoridades judiciais, que cinco anos depois de iniciado o processo,
mantém apenas Oliveira e Costa em prisão domiciliária e não conseguem
identificar os que beneficiaram de empréstimos fraudulentos e conduziram à
implosão do banco.
Um banco que tinha na administração uma pessoa com o apelido
de Fantasia e outra com o apelido de Caprichoso só podia acabar mal. É
lamentável que o Banco de Portugal não tenha conseguido evitar a falcatrua. Mas
é inadmissível que as autoridades judiciais não tenham conseguido até agora
meter mais uns quantos senhores na prisão e recuperar grande parte dos 4000
milhões que os contribuintes estão a pagar para evitar a falência de um banco
que não tinha qualquer salvação e que é sobretudo um caso de polícia.
Sem comentários:
Enviar um comentário