"No último ano, o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Mota Soares, dizia que 85% dos incêndios tinha origem criminosa e que grande parte se devia a interesses económicos, apontando casos em que os incêndios deflagravam "às três ou quatro da manhã em zonas onde há melhor material lenhoso para se poder retirar". Os dados da Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF) em 2007 identificavam 46,5% dos fogos com origem criminosa, enquanto em 2011 e 2012 a DGRF tinha classificado 8851 incêndios com origem "negligente" e outros 3627 com origem intencional, num total de 30 701 ocorrências.
Este ano, a PJ já deteve 47 incendiários, dos quais apenas dois são mulheres. Cristina Soeiro explica que há três perfis de incendiários: os que têm historial clínico, muitos deles desempregados, com défice cognitivo, problemas alcoólicos ou depressões; os que agem por retaliação; e os que procuram obter algum benefício, sendo estes últimos residuais, com 1,8% dos casos."
Incêndios. Mais do que chamas, é preciso mostrar as
consequências
Por Filipe Morais
publicado em 29 Ago 2013 in (jornal) i online
Não há provas sobre os efeitos de imagens de incêndios, mas
especialistas dizem que é preciso mostrar as consequências dos fogos e as penas
O debate não é novo e a cada nova época de incêndios se fala
no efeito que as imagens das chamas podem ter em possíveis incendiários e se as
televisões deveriam evitar transmitir longos períodos de chamas em fogos
florestais. Luís Marques, da SIC, confirmou ao i que desde 2008 não se fala num
possível acordo entre as três estações de televisão de canal aberto para que
haja moderação na escolha destas imagens e que "cada estação decide por si
como deve tratar o tema".
Já em 2006, Luís Marinho, da RTP, defendia a necessidade de
um acordo, admitindo que, nos anos anteriores, "se cometeram na RTP alguns
excessos" na cobertura dos incêndios florestais, com a "excessiva repetição"
de imagens de fogos, o que transmitia a mensagem de que "todo o país
estava a arder". Ainda assim, o responsável sublinhava que "não
noticiar ou informar pouco seria tão grave como o exagero".
No entanto, Cristina Soeiro, psicóloga criminal da PJ,
sublinha ao i que mais que a moderação na escolha de imagens, é "preciso
mostrar as consequências. Nunca se revela o que fica depois do incêndio
apagado, com os terrenos queimados". Esta especialista refere que os
incendiários que podem ser influenciados pelas imagens de fogos são os que têm
historial clínico, sendo também os que não percebem as consequências dos seus
crimes. "É preciso perceber que um incêndio é um crime sem vítima, estes
incendiários têm uma percepção de que um fogo é um crime menor e muitas vezes
dizem que não mataram ninguém. Depois, quem vive em meios rurais tem outra
ligação à floresta e pensa que volta a crescer." Cristina Soeiro defende
que se devem mostrar as imagens, mas "deve-se igualmente falar na pena,
porque se trata de um crime".
Apesar de não existir nenhum estudo a comprovar que há um
efeito das imagens televisivas sobre potenciais incendiários, a psicóloga da PJ
recomenda moderação na escolha: "Já não há mapas com o país a arder e
neste campo tem havido uma melhoria", reconhece.
Rui Abrunhosa Gonçalves, psicólogo especializado em
comportamentos desviantes, acrescenta que "as pessoas violentas gostam de
ver conteúdos violentos. O que sabemos nos fogos é que as imagens são
excitantes para esses pirómanos e podem ser um reforço", mas "não há
provas de que seja a visualização que os leve" a pegar fogos. Ainda assim,
deixa o alerta: "As televisões passam demasiado tempo de antena com o tema
e muitas vezes passam imagens de chamas para incêndios já extintos. A
informação devia ser mais concisa."
No último ano, o presidente da Liga dos Bombeiros
Portugueses, Jaime Mota Soares, dizia que 85% dos incêndios tinha origem
criminosa e que grande parte se devia a interesses económicos, apontando casos
em que os incêndios deflagravam "às três ou quatro da manhã em zonas onde
há melhor material lenhoso para se poder retirar". Os dados da
Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF) em 2007 identificavam 46,5% dos
fogos com origem criminosa, enquanto em 2011 e 2012 a DGRF tinha
classificado 8851 incêndios com origem "negligente" e outros 3627 com
origem intencional, num total de 30 701 ocorrências.
Este ano, a PJ já deteve 47 incendiários, dos quais apenas
dois são mulheres. Cristina Soeiro explica que há três perfis de incendiários:
os que têm historial clínico, muitos deles desempregados, com défice cognitivo,
problemas alcoólicos ou depressões; os que agem por retaliação; e os que
procuram obter algum benefício, sendo estes últimos residuais, com 1,8% dos
casos.
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