Editorial / Público
Pescadores espanhóis protestam contra recife artificial em
Gibraltar
Por Diogo Vaz Pinto
publicado em 19 Ago 2013 in (jornal) i online
Impasse de duas horas nas águas de Gibraltar terminou com a
frota espanhola encurralada e forçada a recuar pela armada britânica
Vários barcos de pesca espanhóis, provenientes de Algeciras
e de Cádis, navegaram ontem até às águas britânicas em torno de Gibraltar onde
realizaram um protesto contra o recife artificial de betão erguido pelas
autoridades da pequena península para os impedir de pescar ali. Eram cerca de
38 os barcos de pesca espanhóis - acompanhados de um pequeno número de
embarcações de recreio e escoltados por quatro lanchas do Serviço Marítimo da
Guarda Civil espanhola - que se viram encurralados por sete barcos de patrulha
da armada britânica e da Polícia Real de Gibraltar (PRG) logo que atravessaram
as águas espanholas.
O recife está no centro de uma disputa entre Reino Unido e
Espanha que levou Madrid a impor medidas adicionais de controlo na fronteira
com Gibraltar. Encaradas como uma forma de retaliação por Londres, as rigorosas
buscas que a polícia está a efectuar nos carros estão a prejudicar
trabalhadores e turistas, que enfrentam filas de até cinco horas para entrar em
Espanha.
O inspector-chefe da PRG, Castle Yates, explicou que o
impasse entre as frotas dos dois países teve início pelas nove da manhã, com os
barcos espanhóis a tentarem "várias vezes romper o cordão de
isolamento". Por volta das 11 horas a frota espanhola foi demovida,
informou Yates, adiantando que a polícia esperava o protesto, planeado na
sexta-feira, o que lhe permitiu lidar com a situação de forma pacífica e sem
fazer detenções.
Os barcos espanhóis concentraram-se na baía de Algeciras,
onde, no final do mês passado, o governo de Gibraltar lançou ao mar 75 blocos
de betão, supostamente por motivos ambientais, nomeadamente o de impulsionar o
aumento da quantidade de peixe nas suas águas. O objectivo que se propunham os
pesqueiros espanhóis antes de zarparem era removerem os blocos, mas no último
minuto foram obrigados a reconhecer que não dispunham sequer de meios para
isso.
Na sexta-feira, o primeiro-ministro britânico, David
Cameron, pediu ao presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que sejam
assumidos como "preocupação séria" os atrasos causados na fronteira e
instou-o a enviar para a área um grupo de monitorização.
Londres tinha já acusado o aperto no controlo fronteiriço
como uma medida "desproporcional e politicamente motivada". Por sua
vez, as autoridades espanholas insistem que os controlos nas fronteiras são
essenciais para lidar com o contrabando de cigarros e a lavagem de dinheiro,
tendo garantido que vão servir-se de todos os meios legais necessários para
proteger os interesses nacionais. Talvez não passe de mais uma provocação, mas
o ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros já se lembrou de sugerir a
introdução de uma taxa de 50 euros a ser cobrada a todos os carros que
atravessem a fronteira com Gibraltar.
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