Na Grécia aconteceu o pior: desapareceram 10 mil milhões do
dinheiro para pensões
Por Ana Suspiro
publicado em 20 Ago 2013 in (jornal) i online
Os fundos de pensões gregos foram algumas das vítimas da
reestruturação da dívida pública do país, que se seguiu ao segundo resgate, de
Março de 2012.
Segundo os números citados numa reportagem da Reuters, de
Novembro de 2012, as perdas atingiram os 10 mil milhões de euros apenas com o
haircut (corte) em 50% do valor da dívida detido pelos investidores
privados.
Uma das soluções em cima da mesa para tapar o buraco é o
aumento das contribuições por parte dos beneficiários. A alternativa é a
redução das pensões já em pagamento.
Muitos pensionistas e aforradores, citados na reportagem da
Reuters apontam o dedo ao Banco da Grécia, que tinha a missão de gerir três
quartos dos excedentes em dinheiro dos fundos de pensões. São acusados de ter
ignorado os crescentes alertas para o perigo de uma reestruturação e ter
insistido em investir em obrigações, numa altura em que os investidores
internacionais fugiam já deste activo.
A análise da Reuters à política de investimentos do banco
central do país revela que a instituição aplicou 1,8 mil milhões de euros do
dinheiro dos fundos de pensões a seu cargo em obrigações do Tesouro desde que
rebentou a crise da dívida soberana, em Maio de 2010. Desde Julho desse ano que
era evidente a inevitabilidade de uma reestruturação (perdão parcial) da dívida
do país. E nenhuma entidade estaria mais bem informada que o banco central do
país.
O sistema de pensões grego é diferente do português. É mais
fragmentado e composto por uma série de fundos de pensões profissionais com
mais de 200 entidades gestoras. Cada um tem contribuições e benefícios
diferenciados. A maioria dos beneficiários conta com um esquema que inclui
financiamento do Estado, bem como contribuições de empregados e empregadores. O
Estado desempenha um papel vital na decisão de como esses fundos são
investidos. Uma lei de 1997, aprofundada em 2007, impõe que 77% dos excedentes
dessas aplicações sejam transferidos para um fundo sob gestão do Banco da
Grécia. Estes recursos, por lei, devem ser investidos em dívida grega.
O banco central contesta algumas das acusações e assegura
que a maior parte da carteira afectada pelo haircut era anterior a 2009.
Grécia. Boleia fatal causa demissão imediata de gestor das
privatizações
Por Ana Suspiro
publicado em 20 Ago 2013
As autoridades gregas invocaram motivos éticos para demitir
o gestor que aceitou boleia no jacto do empresário que ganhou uma privatização
O governo grego não demorou muito tempo a tomar a decisão.
No sábado, um jornal local contava que o presidente não executivo da agência
grega de privatizações apanhou uma boleia no jacto privado do líder do
consórcio que ganhou a última grande operação feita no país. No dia seguinte, a
pedido do ministro das Finanças, Stelios Stavridis demitiu-se do cargo de
presidente da HRADF, uma espécie de Parpública grega.
O "pecado capital" de Stavridis foi ter aceitado
um convite do armador Dimitris Melissanidis, que é também o maior accionista do
consórcio greco-checo que em Maio foi escolhido para comprar 33% da empresa
estatal OPAP, que gere as apostas de futebol. Em declarações ao jornal
"Proto Thema", o ainda presidente da HRADF explicou ter aceitado um
convite no avião privado do armador grego para se deslocar à sua casa de férias
em França. A boleia terá acontecido logo após a assinatura do negócio de venda
de uma fatia da empresa de apostas ao consórcio de Dimitris Melissanidis por
652 milhões de euros.
A demissão de Stavridis foi justificada por motivos éticos.
Apesar de não se arrepender da boleia, o próprio reconheceu que o governo de
Atenas estava sob forte pressão da sociedade, que tem tendência para se centrar
nas aparências. O agora ex-chairman da HRADF assegurou contudo que os contratos
de venda da OPAP não passaram por ele.
Stavridis é o segundo presidente da HRADF a abandonar o
cargo. Seis meses antes, o seu antecessor saiu depois de ter sido acusado de
não ter cumprido os seus deveres como presidente de uma empresa pública.
Mas há problemas mais graves no programa de privatizações
grego. A agência deverá falhar a meta das receitas para este ano em cerca de
mil milhões de euros. Os atrasos no processo de privatizações do país, uma das
principais exigências do plano de assistência, têm sido uma constante dor de
cabeça para a troika.
No mês passado, a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional
manifestaram a intenção de rever a forma como a agência de privatizações estava
a operar. No quadro do segundo resgate, e para reduzir o rácio da dívida
pública, Atenas comprometeu-se a alienar activos do Estado, empresas e
propriedades no valor de 15 mil milhões de euros até 2016. Este plano
representa quase o triplo do programa definido para Portugal.
UM CASO PORTUGUÊS
Ao contrário da Grécia, as privatizações
têm sido apontadas como um dos êxitos da execução portuguesa. Algumas destas
operações, designadamente a venda da ANA - Aeroportos de Portugal, foram
conduzidas por Joaquim Pais Jorge, como presidente da Parpública. A demissão do
secretário de Estado do Tesouro, motivada pelo seu passado profissional,
demorou mais que a do responsável grego. Pais Jorge foi director do Citigroup
em Portugal quando o banco tentou vender swaps de dívida pública. Enquanto
estava na Parpública, a empresa escolheu o Citigroup como assessor financeiro
da privatização da Empresa Geral de Fomento (EGF).
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