Sim, comemoram-se 25 anos, mas poderemos relembrar esta data
sem reflectir sobre aquilo que está a acontecer no presente, no que respeita a
destruição sistemática de todo um Património Pombalino, em nome de uma assim
chamada, “Reabilitação Urbana”?
Recordando o processo de Betonização do Chiado, na (re)
publicação do “post” logo imediatamente a seguir a este …
António Sérgio Rosa de Carvalho
Lisboa assinala hoje os 25 anos do incêndio que destruiu o
Chiado
Por Catarina Durão Machado in Público
Livros, exposições e um simulacro recordam uma das maiores
catástrofes de que há memória na capital portuguesa. Foi há 25 anos que o
Chiado ardeu e ainda não se sabe porquê
Passam hoje 25 anos desde o dia em que um incêndio de origem
duvidosa deflagrou no Chiado, uma das zonas mais emblemáticas de Lisboa. O fogo,
que irrompeu por volta das 5h nos Armazéns do Grandella, na Rua do Carmo,
destruiu 18 edifícios e uma área equivalente a quase oito estádios de futebol.
As estruturas de madeira das paredes dos prédios pombalinos
acabaram por servir de fornalha e o incêndio propagou-se depressa pelas ruas do
Carmo, Nova do Almada, Garrett, Crucifixo, Ouro e Calçada do Sacramento. Os
bombeiros depararam-se com várias dificuldades, entre elas o acesso dos
autotanques à Rua do Carmo, onde a Câmara Municipal de Lisboa, à época liderada
por Nuno Krus Abecasis, tinha colocado vários canteiros de flores de betão, com
assentos para os transeuntes, ao longo da rua, já então pedonal. Várias
bocas-de-incêndio não se encontravam em condições de funcionar e o próprio
equipamento dos bombeiros apresentava falhas.
Bilhas de gás, computadores e aparelhos de ar condicionado
foram os principais causadores das explosões que se fizeram sentir nessa
madrugada e manhã de 25 de Agosto de 1988. O incêndio causou dois mortos: um
bombeiro e um residente de 70 anos, encontrado entre os escombros. Mais de meia
centena de pessoas ficaram feridas, a maioria bombeiros. Famílias desalojadas
foram cinco, até porque a área ardida era escassamente habitada.
Em 1988, o Chiado era sobretudo uma área de comércio e
escritórios, pelo que as principais consequências do incêndio, para lá da
destruição dos edifícios, prendem-se com o desaparecimento de cerca de dois mil
postos de trabalho e de inúmeros estabelecimentos comerciais que existiam desde
os séculos XVIII e XIX e inícios do século XX.
Nunca se chegou a apurar a origem do incêndio. Em
declarações à agência Lusa, na quarta-feira, a inspectora-chefe da Polícia
Judiciária (PJ), Helena Gravato, afirmou: "Quando houve abertura de portas
para começar o ataque, dá-se uma deflagração mais violenta que apanhou todo o
edifício, de forma que as provas que existiam no sítio onde evoluiu o incêndio
foram praticamente todas destruídas."
O inquérito da PJ foi arquivado em Julho de 1992, quase
quatro anos depois do incêndio. Na época, falava-se da hipótese de fogo posto
pelo próprio dono dos Armazéns do Grandella, Manuel Martins Dias, que nunca foi
acusado. A hipótese de fogo posto foi também sustentada pelo bombeiro Alcino
Marques, actualmente com a categoria de chefe principal no Regimento de
Sapadores Bombeiros de Lisboa, que participou no combateu ao incêndio.
"Pelos indícios que houve e pelas buscas que foram feitas tudo leva a crer
que o fogo foi posto sem se identificar o autor", contou à Lusa.
Hoje, o Chiado é uma das zonas mais caras do país. Num
espaço comercial, o metro quadrado chega a custar 90 euros. Desde a
requalificação da maior parte dos edifícios, em 1999, com projecto do
arquitecto Álvaro Siza Vieira, o Chiado viu as suas rendas aumentarem de ano para
ano e acolheu as principais marcas da moda nacional e internacional.
Siza Vieira visita o Carmo
Para evocar a memória dos 25 anos do incêndio, a Câmara de
Lisboa realiza esta manhã um simulacro no Chiado que envolverá mais de 310
operacionais e 20 figurantes. Por esse motivo, o trânsito vai estar
condicionado entre as 8h30 e as 10h45 nessa zona. Será depois descerrada uma
placa comemorativa na Rua do Carmo, seguindo-se a actuação da banda do
regimento sapadores.
Pelas 16h, os fotógrafos Alfredo Cunha, Fernando Ricardo,
José Carlos Pratas Henriques e Rui Ochoa lançam o livro de fotografias O Grande
Incêndio do Chiado, no espaço Fnac nos Armazéns do Chiado.
Logo a seguir, pelas 17h, Siza Vieira participa numa visita
à obra dos Terraços do Carmo, acompanhado pelo presidente da autarquia, António
Costa. Após a visita segue-se, na Galeria Chiado, no Palácio do Loreto, a
apresentação do livro Chiado em Detalhe, da autoria de Siza Vieira. Amanhã, a
partir das 17h, as fotografias de O Grande Incêndio do Chiado ficarão expostas
no museu do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa. Com Catarina Sampaio
Rolim
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