terça-feira, 27 de agosto de 2013

Facebook rejeita mais de metade dos pedidos de informação oficiais portugueses.


Facebook rejeita mais de metade dos pedidos de informação oficiais portugueses

Em apenas seis meses, as autoridades de 74 países pediram acesso a dados de cerca de 38 mil utilizadores da rede social. A “grande maioria” diz respeito a investigações criminais.

Quase três meses depois de se ter visto publicamente envolvido no polémico programa de espionagem da Agência de Segurança Nacional norte-americana, o Facebook revelou pela primeira vez o número de pedidos de informação sobre os seus utilizadores que recebe de autoridades de todo o mundo.
O “relatório global sobre pedidos governamentais”, divulgado nesta terça-feira, dá conta de cerca de 26 mil pedidos provenientes de 74 países, visando cerca de 38 mil utilizadores daquela rede social. Apesar do título – “relatório global” –, o documento não inclui todos os pedidos endereçados à empresa, mas apenas os registados no primeiro semestre de 2013.
A empresa norte-americana revela os países que efectuaram pedidos de dados, quantos pedidos foram feitos por cada um, a quantos utilizadores e contas diziam respeito esses pedidos e a percentagem de pedidos em que o Facebook concordou em partilhar algum tipo de informação dos seus utilizadores.
Portugal está na lista, com 177 pedidos, para um universo de 213 utilizadores ou contas. É o 14.º com mais pedidos, mas com números muito abaixo dos países que ocupam o topo da tabela – EUA (11 mil a 12 mil), Índia (3245), Reino Unido (1975), Alemanha (1886), Itália (1705) e França (1547). No número de utilizadores ou contas a que se referem os pedidos, a ordenação é idêntica: Alemanha e Itália trocam de posições, Portugal passa para 15.º.
Aos números absolutos, o Facebook junta no relatório a percentagem de pedidos em que passou dados às autoridades dos diferentes países. Não refere, no entanto, quais as razões específicas que levam a que as solicitações sejam concedidas ou recusadas. Portugal tem uma taxa de aprovação de 42% – ou seja, a empresa norte-americana forneceu algum tipo de dados às autoridades portuguesas sobre 89 utilizadores. A dos EUA é de 79%. A da Índia de 50%.
Parco em informação que permita tirar quaisquer conclusões de fundo, o relatório possibilita ainda olhar para a estatística de países onde houve recentemente protestos nos quais as redes sociais tenham desempenhado um papel importante de organização e divulgação. São os casos do Brasil e da Turquia. O primeiro está entre os principais requisitantes de informação – fez 715 pedidos sobre 857 utilizadores ou contas, com uma taxa de sucesso de 33%.
Em relação à Turquia – onde o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan afirmou que “as redes sociais são a maior ameaça à sociedade” –, o Facebook tinha negado ter passado informação às autoridades turcas durante as manifestações de Maio e Junho naquele país. O relatório mostra, contudo, que foram concedidos dados sobre 47% dos 170 utilizadores sobre os quais a Turquia pediu informação. Mas não é público se são ou não anteriores aos protestos.
Primeiro não será o último
“Transparência e confiança são valores centrais no Facebook”, afirma o consultor-geral da empresa, no texto de introdução do documento, apesar das zonas cinzentas do relatório. Colin Stretch diz querer que os utilizadores daquela rede social compreendam “a natureza e a quantidade de pedidos” recebidos, mas remete esclarecimentos adicionais para a página relativa a “informação para autoridades responsáveis pela aplicação da lei”.
Stretch sublinha que a empresa tem “processos rigorosos para dar resposta a todos os pedidos de dados”. “Analisamos minuciosamente todos os pedidos para verificar que são juridicamente válidos ao abrigo dos nossos termos e do rigor da letra da lei”, continua. “Contestamos muitos destes pedidos, rejeitando-os quando encontramos irregularidades jurídicas e reduzindo o âmbito de pedidos excessivamente latos ou vagos. Quando somos obrigados a responder perante um pedido específico, normalmente só partilhamos informações básicas sobre o utilizador, como o nome.”
É essa informação detalhada e discriminada por país e por pedido de dados que falta a este primeiro relatório, que Colin Stretch garante que “não vai ser o último”. “Em relatórios futuros, esperamos poder fornecer ainda mais informação”, diz. No conjunto de perguntas e respostas que finaliza o documento, o Facebook adianta que a “grande maioria destes pedidos está relacionada com casos criminais, como roubo ou rapto”, admitindo casos relacionados com questões de segurança nacional.

O Google e a Microsoft também publicam regularmente relatórios com o número de pedidos oficiais que lhes são endereçados com o intuito de obter acesso a dados dos seus utilizadores.

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