Floresta, o retrato de um falhanço colectivo
Editorial / PúblicoPortugal só se comove com a devastação da floresta quando os fogos lhe entram casa dentro
O drama dos incêndios florestais regressou em força
na última semana para pôr outra vez a nu um dos principais fracassos colectivos
do Portugal contemporâneo: a sua incapacidade de preservar e gerir o seu mais
importante recurso natural renovável. A devastação causada por fogos que duram
dias e percorrem milhares de hectares de espaços florestais, a destruição de
campos agrícolas ou de casas e a morte de bombeiros são afinal um testemunho
evidente de negligência e de inépcia próprias de um país que apenas presta
atenção à sua floresta quando esta arde. Há dez anos, após a destruição de quase
meio milhão de hectares, ou 5% da área do Continente, o Governo e a sociedade
deram finalmente sinais de que muita coisa teria de mudar. Que seria impossível
assistir sem sobressalto à destruição da floresta. E, de facto, verificaram-se
muitas melhorias ao nível do sistema operacional de combate aos fogos. Mas
pouco, ou nada, se fez sobre o essencial. Sobre a gestão da floresta e a criação
de condições para se evitarem incêndios indomáveis até pelo mais eficaz dos
dispositivos de combate. Na floresta, como em muitas outras coisas, fez-se o
fácil à custa de dinheiro e deixou-se esquecido ou que exige determinação,
perseverança, planeamento e tempo. Após o silêncio e o desinteresse sobre a
floresta num ano em que se aprovaram leis de extrema sensibilidade como a que
determina as regras para a arborização e rearborização, em que se soube que o
eucalipto ultrapassou a área do pinheiro bravo, Portugal inteiro indigna-se com
os fogos que lhe entram em casa pela televisão. Mas lá para Outubro, a floresta,
que vale 10% das exportações nacionais, cairá de novo no esquecimento. Se houver
provas da incapacidade do país para aproveitar as suas riquezas, procurem-se
neste ciclo vicioso que dura desde o tempo em que o êxodo rural deixou as
florestas à sua sorte.
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