Bolsas mundiais estão a navegar num mar de incógnitas;
Tóquio liderou as perdas na sessão de ontem
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Quatro anos depois a crise atinge mercados emergentes
Rui Barroso e Marta Marques Silva
21/08/13 in Diário Económico
Governos tentam estancar perdas cambiais através da subida
das taxas de juro, pressionando o consumo interno alimentado nos últimos anos
por uma política de crédito fácil.
"Parece que agora a dor vai ser sentida nos mercados
emergentes", comentava Nitin Mathur, analista do Espírito Santo Investment
Bank em Mumbai, em declarações à Bloomberg. Nos últimos anos a fraqueza da
economia norte-americana alimentou o êxodo dos investimentos para activos de
maior risco e maior retorno, com benefício dos mercados emergentes - 3,9
biliões de dólares nos últimos quatro anos. Mas agora as perspectivas de
recuperação nos EUA, com a consequente diminuição na política de estímulos
económicos, ameaça provocar uma verdadeira retirada massiva destes
investimentos, à medida que os capitais retornam à origem.
Este movimento de "recuo da maré" está a deixar a
nu as economias mais vulneráveis. A rupia indiana bateu ontem um novo mínimo
histórico, pressionada por um défice recorde e por várias tentativas do governo
indiano de estancar as perdas cambiais em detrimento da economia doméstica. A
economia tailandesa entrou em recessão no segundo trimestre, o mercado
accionista indonésio perde 20% desde o pico, o crédito malparado não pára de
crescer na banca chinesa e a Malásia acaba de registar o segundo trimestre
consecutivo de crescimento abaixo de 5%.
Confrontados nos últimos anos com a falta de procura por
parte das economias desenvolvidas, muitos dos emergentes optaram por alimentar
o consumo interno através da liberalização do crédito barato. Procurando agora
estancar a desvalorização cambial - despoletada pela venda de activos nestas
moedas - países como a Índia, Indonésia e até mesmo o Brasil, têm lançado mão
da subida das taxas de juro de referência. A consequência imediata é o aumento
dos encargos para a população que, perante o crédito fácil, se endividou nos
últimos anos para comprar carro e casa. Diminui assim o rendimento disponível e
o consumo interno, com as necessárias consequências no crescimento económico
dos emergentes, mais dependentes do que nunca da economia doméstica.
"A tendência já lá estava. Mercados emergentes como a
Índia, Brasil e China têm dado sinais de um crescimento menor e têm mostrado
dados económicos abaixo das previsões. A preocupação é que estas economias
atingiram um nível de crescimento máximo e que não conseguirão continuar a
crescer ao mesmo ritmo do passado devido aos dados decepcionantes que têm
mostrado", explica Agostinho Leal Alves, analista do BPI, ao Diário
Económico. Uma tendência que está, no entanto, a ser acelerada pelas
"incertezas sobre a alteração de política monetária nos EUA, que tem
causado muita volatilidade nos mercados. O que tem acontecido é uma fuga de
activos de mercados emergentes, que implica a venda dessas moedas",
adianta. Na mais recente sondagem feita pela Bloomberg, 65% dos economistas
acreditam que o início da retirada de estímulos económicas nos EUA comece já em
Setembro.
Na última semana o índice de referência indiano caiu mais de
5%, enquanto na Tailândia as perdas chegaram aos 6% e na Indonésia aos 10%.
Todas as principais moedas de economias emergentes perdem frente às moedas de
referência, dólar e euro, no último mês (ver gráfico), e as ‘yields' da dívida
pública de países como a Índia estão agora ao nível mais alto desde a crise de
2008.
"Vamos entrar num período de estagnação nos próximos
anos. Foi uma boa região para investir e agora está a chegar ao fim. As
economias asiáticas tiveram um ‘passeio no parque' porque compraram crescimento
através da alavancagem. Deveriam antes ter utilizado esse tempo para realizarem
reformas estruturais. Mas preferiram usar o dinheiro barato e desfrutar das
altas taxas de crescimento. Essa oportunidade faz agora parte do passado",
comentava o economista-chefe do HSBC para a Ásia, Fred Neumann, ao
"Financial Times".
Incerteza atira bolsas mundiais para mínimos das duas
últimas semanas
Por José Manuel Rocha
21/08/2013 in Público
A Ásia abriu o dia a descer e contaminou a Europa, com
várias praças a caírem mais de 2%. A abertura positiva de Nova Iorque amaciou
as perdas. Futuro do programa de estímulo da Fed preocupa investidores
As bolsas europeias e asiáticas tiveram ontem um dia para
esquecer, com recuos em todas as praças, descendo para mínimos de duas semanas.
Tóquio liderou as perdas, com Hong-Kong, Lisboa e Madrid a curta distância. O
facto de as principais cadeias retalhistas norte-americanas estarem a divulgar
resultados positivos, acabou por ditar uma abertura em ligeira alta nas duas
plataformas de negociação de Nova Iorque.
Numa semana em que os analistas apontam o facto de muitos
investidores estarem a protagonizar movimentos de consolidação de carteiras, há
muitas razões que explicam este sobe e desce nas principais praças mundiais,
que parecem navegar à vista, sem um rumo definido.
Na Europa, todos parecem concordar que a sessão cinzenta de
ontem fica a dever-se, entre outros motivos, aos receios de que o bom
desempenho das economias no segundo semestre não tenha correspondência directa
no próximo. As perspectivas na zona euro mantêm uma forte dose de indefinição,
dadas as dificuldades inerentes à execução dos programas de ajustamento
financeiro, especialmente em Chipre e na Grécia (ver texto ao lado). Num quadro
em que parece inevitável um novo resgate à Grécia, a banca foi o sector que
saiu mais penalizado. Em Portugal também foi este o rumo, numa sessão em que o
PSI-20 caiu 1,77%, com apenas a Sonae e a Sonaecom no verde.
As bolsas europeias foram também influenciadas pela
aproximação do momento em que serão divulgadas as minutas da última reunião do
comité de política monetária da Reserva Federal (Fed) norte-americana. Há,
neste campo, uma forte expectativa de que a autoridade liderada por Ben
Bernanke possa ter discutido já a data em que será reduzido o actual programa
de estímulo económico, que se tem traduzido num programa de compra de títulos
do Tesouro ao ritmo de 85 mil milhões de dólares mensais. As minutas são
divulgadas hoje.
Para além de reflectirem este facto, as bolsas asiáticas
(que perderam mais de 2%) acusaram também o impacto da divulgação de dados
económicos que mostram que algumas das mais importantes economias da região
estão a abrandar de uma forma significativa, havendo até casos de situações de recessão
em países como a Tailândia e a Malásia - que no passado ostentaram níveis de
crescimento muito assinaláveis.
O abrandamento significativo da economia chinesa, onde a
situação do crédito malparado assume proporções preocupantes, e o défice
público de quase 5% na Índia - onde a rupia está em queda livre no confronto
com o dólar - compõem o resto do quadro em que as bolsas se movimentam
actualmente.
Ontem, vários jornais revelavam que muitos investidores que,
há quatro ou cinco anos, moveram os seus capitais para os mercados da economias
emergentes estão neste momento a fazê-los regressar aos Estados Unidos,
precisamente porque as perspectivas de crescimento sustentado na maior economia
do mundo são agora muito mais sólidas. Dos mais de 150 mil milhões de dólares
que foram aplicados em produtos financeiros nos primeiros sete meses do ano,
cerca de dois terços tiveram como destino empresas norte-americanas, avançava
ontem a agência Bloomberg, citando dados do BlackRock Investment Institute.
Estes dados, associados a um melhor desempenho das cadeias
retalhistas - o que faz supor uma recuperação mais sólida do consumo privado -,
justificaram a abertura em alta ligeira em Nova Iorque, que depois evoluiu para
ganhos mais significativos.
As bolsas europeias, embaladas por este sentimento,
recuperaram um pouco as perdas acumuladas, mas sem amaciarem os traços negros
que acabaram por marcar a sessão.
Wolfgang Schauble confirma terceiro resgate à Grécia
Por José Manuel Rocha
21/08/2013 in Público
A rentrée política na zona euro poderá ficar marcada por
novos acidentes de percurso na novela já longa da crise do euro. A situação em
Chipre, defendem várias instituições, está a ficar fora de controlo. E a Grécia
poderá regressar ao centro do debate com a iminência de ter de pedir um
terceiro resgate financeiro.
Ontem, para que não restassem lugares a dúvidas, o ministro
das Finanças alemão confirmou a ideia. Num comício de campanha para as eleições
de Setembro, na cidade de Ahrensburg, Wolfgang Schauble afirmou que
"haverá, mais uma vez, um programa de ajuda à Grécia" e, citado pela
agência Bloomberg, acrescentou que a ideia já tinha sido defendida pelo
Bundesbank.
Há cerca de dois meses, na sequência da libertação de mais
uma tranche de ajuda à Grécia, o banco central alemão afirmava que a avaliação
da troika que lhe deu lugar foi concluída sob intensas "pressões
políticas" e defendia que os problemas do país não estavam em vias de ser
solucionados. Por isso, o Bundesbank defendia que a Grécia não iria sobreviver
sem um novo empréstimo dos parceiros internacionais.
Schauble alertou, no entanto, que ao contrário do segundo
resgate, desta feita não haverá lugar a um novo perdão de dívida. Esse foi,
sublinhou o ministro das Finanças alemão, um acontecimento "único" e
irrepetível.
Ontem também, a agência Reuters noticiava que a Grécia não
dispõe de financiamento suficiente para colmatar as necessidades no período
2014/2016. E acrescentava que o país e os seus credores "estão a analisar
várias formas de resolver esta escassez de financiamento". No final de Julho,
o Fundo Monetário Internacional situava necessidades não cobertas de 4,4 mil
milhões de euros em 2014 e 6,5 mil milhões em 2015.
Ontem, o Tesouro Público espanhol conseguiu baixar os juros
médios para colocar 4147,8 milhões de euros em títulos de dívida a seis e 12
meses, numa altura em que o risco de dívida está nos níveis mais baixos em dois
anos. Na semana passada o risco da dívida em Espanha - medido pela diferença
entre os títulos espanhóis e os alemães a 10 anos - caiu para perto dos 250
pontos base, o nível mais baixo desde Agosto de 2011. com Lusa
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