sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A persistência do populismo

A persistência do populismo

Editorial / Público
A conquista de votos através do aproveitamento das necessidades das pessoas degrada a política
Há protagonistas da vida política que continuam empenhados em degradar ainda mais a degradada imagem da sua classe. Passar cheques a instituições de solidariedade social às portas das igrejas ou pagar rendas de casas e facturas de electricidade a pessoas em dificuldade no calor da pré-campanha para as autárquicas fazem parte desse leque de práticas que aproximam a política da irracionalidade populista e a afastam da decência e rigor que os tempos exigem. Por muito que se exalte a compreensão, ainda que se tentem interpretações racionais, é impossível enquadrar os gestos de Fernando Ruas ou de Luís Filipe Menezes em práticas normais de compaixão ou de solidariedade. Pelo contrário, há toda a legitimidade para se suspeitar que em causa estão iniciativas destinadas a angariar votos num ambiente social marcado pela necessidade. A construção de imagens de políticos providenciais, preocupados com os pobres e capazes de solucionar os seus problemas, pode produzir resultados efémeros junto dos que continuam a acreditar que a função dos políticos ou do Estado é resolver os seus problemas individuais. Mas, a prazo, essa receita não só acaba por se revelar contraproducente como gera no resto da comunidade a suspeita de que a política em Portugal se continua a alimentar da crença terceiro-mundista de que a esmola é politicamente mais eficaz do que a defesa de valores e de projectos. Talvez Menezes consiga assim obter votos dos que acreditam no milagre da política. Mas, para a comunidade em geral, para o país que quer acreditar numa democracia madura, o seu assistencialismo, feito com dinheiro próprio, com fundos de campanha ou com qualquer outra fonte de receita, não deixará de ser visto como um monumento à demagogia. Menezes quer um "Porto forte", mas, com iniciativas destas, só conseguirá projectar uma imagem de um autarca que se serve das fraquezas da cidade para se eleger.


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