A persistência do populismo
Editorial / PúblicoA conquista de votos através do aproveitamento das necessidades das pessoas degrada a política
Há protagonistas da vida política que continuam
empenhados em degradar ainda mais a degradada imagem da sua classe. Passar
cheques a instituições de solidariedade social às portas das igrejas ou pagar
rendas de casas e facturas de electricidade a pessoas em dificuldade no calor da
pré-campanha para as autárquicas fazem parte desse leque de práticas que
aproximam a política da irracionalidade populista e a afastam da decência e
rigor que os tempos exigem. Por muito que se exalte a compreensão, ainda que se
tentem interpretações racionais, é impossível enquadrar os gestos de Fernando
Ruas ou de Luís Filipe Menezes em práticas normais de compaixão ou de
solidariedade. Pelo contrário, há toda a legitimidade para se suspeitar que em
causa estão iniciativas destinadas a angariar votos num ambiente social marcado
pela necessidade. A construção de imagens de políticos providenciais,
preocupados com os pobres e capazes de solucionar os seus problemas, pode
produzir resultados efémeros junto dos que continuam a acreditar que a função
dos políticos ou do Estado é resolver os seus problemas individuais. Mas, a
prazo, essa receita não só acaba por se revelar contraproducente como gera no
resto da comunidade a suspeita de que a política em Portugal se continua a
alimentar da crença terceiro-mundista de que a esmola é politicamente mais
eficaz do que a defesa de valores e de projectos. Talvez Menezes consiga assim
obter votos dos que acreditam no milagre da política. Mas, para a comunidade em
geral, para o país que quer acreditar numa democracia madura, o seu
assistencialismo, feito com dinheiro próprio, com fundos de campanha ou com
qualquer outra fonte de receita, não deixará de ser visto como um monumento à
demagogia. Menezes quer um "Porto forte", mas, com iniciativas destas, só
conseguirá projectar uma imagem de um autarca que se serve das fraquezas da
cidade para se eleger.
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