A pagar fogos
Por:Paulo Morais in CM online
Os incêndios florestais repetem-se em cada Verão, destroem
uma das nossas maiores riquezas, ceifam vidas, representam um prejuízo de
largos milhões de euros. Os fogos têm origem muitas vezes em acções criminosas
de incendiários. Mas a sua principal causa é outra: um não menos criminoso
abandono do território, em particular da floresta, por parte do Estado
português.
A falta de prevenção, a ausência de um programa de
manutenção das matas públicas, o abandono dos baldios transformam o território
rural num potencial de combustão que deflagra ao mínimo rastilho. A incúria, o
descuido e períodos de calor extremo fazem o resto.
Há, no entanto, excepções, florestas onde raramente há
incêndios. É o caso do Pinhal de Leiria ou das zonas sob a protecção da
Portucel que se destinam à produção de pasta de papel; também não consta que
haja problemas nos terrenos detidos por fundos de investimento imobiliário
florestal; são ainda escassos os fogos em zonas de produção de cortiça. Os
privados gerem estes largos milhares de hectares de floresta apostando mais na
precaução e não tanto em meios de combate a incêndios. Já a nível da gestão
pública, a incompetência domina. Falta um cadastro florestal, não há prevenção,
não se procede à limpeza sistemática das matas. Falta investimento em centrais
de biomassa, que poderiam servir, em simultâneo, os propósitos de rentabilidade
e de manutenção das florestas.
Entretanto, morrem bombeiros. Gastam-se fortunas num combate
a incêndios desprovido dos meios necessários, descoordenado e ineficaz.
Desperdiçam--se os muitos milhões de euros que seriam gerados directamente pela
actividade florestal. E degrada--se o ecossistema. Só será possível debelar
esta série de calamidades com uma efectiva política de prevenção, que deveria
envolver as forças armadas e de segurança, bem como os serviços do inútil
Ministério da Agricultura. Claro que, em primeira instância, a gestão destes
processos competiria aos corpos de bombeiros, cujo desempenho seria avaliado e
remunerado em função das áreas que mantivessem livres de incêndios e nunca,
como hoje, pelo número de horas de combate. Em vez de andar a pagar fogos, o
Estado deveria, pelo contrário, premiar a sua inexistência.
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