domingo, 1 de janeiro de 2017

"A paz depende de nós", diz Guterres / "Let us make 2017 a year for peace" - UN Secretary-General António Guterres



"A paz depende de nós", diz Guterres
O ex-primeiro-ministro português começa neste domingo o mandato como secretário-geral da ONU.

Francisca Gorjão Henriques
FRANCISCA GORJÃO HENRIQUES 1 de Janeiro de 2017, 6:50

António Guterres pretende que 2017 seja “um ano de paz”. Na primeira mensagem oficial como secretário-geral das Nações Unidas – este domingo será o seu primeiro dia em funções – Guterres diz que “há, sobretudo, uma pergunta” que o assalta: “Como ajudar os milhões de seres humanos vítimas de conflitos e que sofrem enormemente em guerras que parecem não ter fim?”

O antigo primeiro-ministro português foi eleito a 5 de Outubro para “a tarefa mais impossível do mundo”, como descreveu há décadas o primeiro a ocupar o cargo, o norueguês Trygve Lie (secretário-geral entre 1946 e 1952). A 12 de Dezembro, Guterres prestava juramento e discursava perante a Assembleia Geral da ONU a favor do progresso de medidas contra o aquecimento global e das reformas na instituição (seja em matéria de orçamento ou de tolerância zero para crimes sexuais das tropas de manutenção de paz).

ONU, a organização que nem sempre une as nações
Agora, na sua mensagem de arranque de um mandato de cinco anos, Guterres chama a atenção para a “mais letal violência” de que são vítimas as “populações civis em vários pontos do globo”. “Mulheres, crianças e homens são mortos ou feridos, vendo-se forçados a abandonar os seus lares, tudo perdendo. Até mesmo hospitais e comboios humanitários são atingidos sem contemplação.” E continua: “Nestas guerras não há vencedores; todos perdem. Gastam-se biliões de dólares na destruição de sociedades e economias, alimentando ciclos de desconfiança e medo que podem perpetuar-se por gerações. Vastas regiões do planeta estão inteiramente desestabilizadas e um novo fenómeno de terrorismo global ameaça-nos a todos.”

O ano que se agora inicia deve ser “o ano em que todos – cidadãos, governos, dirigentes – procurem superar as suas diferenças”, através do “diálogo e do respeito independentemente das divergências políticas”, “por via de um cessar-fogo num campo de batalha ou mediante entendimentos conseguidos à mesa de negociações para obter soluções políticas”, defende. E termina: “A dignidade e a esperança, o progresso e a prosperidade – enfim tudo o que valorizamos como família humana – depende da paz. Mas a paz depende de nós.”

Em Abril, no início da sua candidatura à liderança da ONU, Guterres teve de escrever um documento delineando a sua “visão” para o futuro, uma espécie de programa de governo (o processo de eleição, que terminou com 13 votos favoráveis e duas abstenções dos membros do Conselho de Segurança, foi descrito como o mais transparente de sempre). Nesse documento, a “prevenção” e a “diplomacia da paz” eram já um dos pontos fundamentais. Este trabalho irá exigir “uma diplomacia mais poderosa, mais activa, mais agressiva e mais presente”, como resumiu ao PÚBLICO um diplomata em Nova Iorque, no início de Dezembro.

Quando em 2007 tomou posse, o seu antecessor, Ban Ki-moon, tinha pela frente “os demónios nucleares do Irão e da Coreia do Norte, uma ferida sangrenta no Darfur, uma violência interminável no Médio Oriente, o prisma de desastres ambientais, a escalada do terrorismo, a proliferação de armas de destruição maciça, a epidemia da sida”, enumerava então a revista Economist. Agora, António Guterres não terá a vida mais facilitada e junta-se à lista uma realidade que acompanhou bem de perto enquanto Alto Comissário da ONU para os Refugiados: a maior crise de deslocados desde a II Guerra Mundial, provocada pela guerra na Síria.

Aos desafios vem juntar-se a eleição de Donald Trump para Presidente dos EUA, o país que isoladamente mais contribui para o financiamento da ONU. Crítico das Nações Unidas, não seria surpreendente se Trump reduzisse as verbas, e minimizasse o quanto possível a instituição. Caberá a Guterres – um homem “com carisma” e “sem medo de nomear os adversários nos seus discursos, mesmo que eles estejam em Washington ou em Moscovo”, escreveu o Washington Post depois da eleição – convencer Trump de que tem mais a ganhar se trabalhar com as Nações Unidas.

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