Reabilitação
ou urbicídio?
Não
foi assim há tanto tempo que quem ousava levantar dúvidas sobre a
necessidade de construção de uma nova auto-estrada era colocado a
um canto bolorento como se defendesse o transporte em carros de bois.
02/01/2017
Tiago Mota Saraiva
opiniao@newsplex.pt
Hoje, sabemo-lo,
construiram-se auto-estradas que não precisávamos, enriquecendo uns
poucos que participavam nas operações de construção. Este foi o
terreno fértil das mais ruinosas PPP’s e o bordel de interesses
entre governantes que assinaram contratos lesivos para o Estado #e
administradores de empresas #que o parasitavam.
É cada vez mais
notório que as “auto-estradas” de ontem são a “reabilitação
urbana” de hoje. Basta notar que quem critica os processos de
reabilitação urbana a decorrer nas nossas cidades #é imediatamente
apedrejado como #se defendesse a ruína do edificado.
A maioria das
grandes operações urbanas privadas a desenvolver nas áreas mais
valiosas das nossas cidades históricas são processos de reconversão
do edificado, mais do que reabilitação. Tantas vezes, apenas
permanece uma imagem de fachada, numa grosseira interpretação de
património que ainda faz lei. A quem especula com a cidade não
interessa reabilitar mas atribuir ao edificado um conteúdo ou uma
forma que permita extrair a máxima receita no menor período de
tempo. Como a criatividade não abunda, actualmente, todos querem
dançar ao som do turismo. É-lhes indiferente que, a prazo, possam
vir a ter de abandonar o edifício, se se tiver pago o investimento e
acumulado lucros. Com uma falência bem programada, a ruína é um
problema para o Estado e cidadãos. Não para o especulador.
Ora a
monofuncionalização dos centros das cidades históricas e a
colocação do respectivo edificado ao serviço exclusivo do turismo
não é reabilitação urbana, e até pode vir a configurar-se em
urbicídio.
Importa pois,
contestar visões dogmáticas sobre a reabilitação urbana que, como
se tem demonstrado, pode ser utilizada para o melhor e para o pior.
#É decisivo perceber à priori de que lado fica o grosso das mais
valias: se para #o especulador, se para quem produz #a cidade - o
cidadão.
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